terça-feira - 15/05/2012 - 09:01h
Para Manoel Barreto

Imagens de uma ópera popular em vermelho e branco

Por Carlos Santos

Duas imagens fixaram-se em mim às primeiras horas de hoje. As duas em vermelho e branco. São imagens inesquecíveis, simbológicas. São desenhos rabiscados a partir de fatos reais do passado.

Com a morte do meu amigo Manoel Barreto, ontem, ex-presidente do Potiguar – tratado pela imprensa e pelos amantes do alvirrubro como “eterno presidente”, é difícil não ficar um pouco lerdo, grogue. Mas, me refaço na luta cotidiana, confessando – por exemplo – que sou todo sentimento.

Não escrevo uma crônica para ele – Manoel. É, também, para Manoel. Escrevo para ficar mais leve. É para mim. Escrever é uma forma de libertação, uma terapia existencial, válvula de escape. O que me faz vivo. Inteiro.

Resgato imagens, que aleatoriamente emergiram nesta manhã, quando me fixei diante do computador para começar a trabalhar.

Lembro-me de abril de 2004, ano em que o Potiguar ganhou seu primeiro título estadual sob a presidência de Manoel. A alegria esperada por décadas, que empanzinou o Estádio Nogueirão de gente, catalizou multidões diante da TV para ver o segundo jogo decisivo em Natal (contra o América) e invadiu a Avenida Presidente Dutra para receber os campeões.

Lembro-me do trajeto pela BR-304 – Mossoró a Natal – e a visão em Lajes, com dezenas de ônibus, vans, carros particulares e gente aos montes, avisando que aquele sábado seria do Potiguar, em Natal.

Ah, as imagens!

Nas minhas digressões, com as palavras sendo disparadas a esmo, quase esqueci das imagens. A narrativa até aqui serve para ambientar, contextualizar e exumar a atmosfera daquelas horas e dias.

A primeira imagem: numa cabine de rádio no Estádio Machadão, quando a segunda partida estava finalizada e o Potiguar erguia a taça. Acorri àquele espaço de pequenas proporções para abraçar Lupércio Luiz, comentarista esportivo, mossoroense, torcedor do Potiguar. Ele estava agarrado a uma bandeira do alvirrubro. Chorava como menino.

A mim, Lupércio fez a confissão de uma ausência, diante de uma multidão que ‘invadiu’ Natal e o Machadão, tomando praticamente a metade dos lugares no estádio. Eram quase 15 mil pessoas no ‘caldeirão’ alvirrubro.

– Meu pai não viu o Potiguar ser campeão estadual, Carlos!

– Ele está vendo agora, por seus olhos, Lupércio – confortei-o.

A segunda imagem: em Mossoró (domingo, 18 de abril de 2004), com um sorriso contagiante entre os jogadores campeões e diante de uma multidão em êxtase, Manoel é o resumo de uma ópera popular em vermelho e branco. Seu sorriso é incessante. Apesar do burburinho, ele localiza-me em meio às milhares de pessoas e brada uma palavra que resume a sua própria essência generosa. Uma conquista que era muito sua, Manoel deixava que também fosse minha e nossa:

– Conseguimos!

Nota do Blog – Naquele campeonato inesquecível para os torcedores do Potiguar, a decisão foi em dois jogos. No primeiro, em Mossoró, o Potiguar fez 4 x 0 contra o América (dia 13 de abril) e no jogo seguinte (17 de abril), o time mossoroense – que poderia perder até por três gols de diferença que ainda  assim seria campeão, foi derrotado por 0 x 1 em Natal.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Como bem resumiu brilhantemente Carlos Santos, durante décadas a história do potiguar e de Manuel Barreto se entrelaçaram de tal maneira que um fazia-nos lembrar automáticamente do outro.

    O Presidente dos Presidentes nos legou história e exemplos que só os abnegados são capazes de construir.

    Numa cidade em que maioria se comporta ao nível da abjeta e assumida mediocridade, Manuel Barreto se destacou exatamente pelo seu cara´ter, sua simplicidade e sua indiscutível abnegação, a qual só não gerou e legou mais frutos ao futebol da terra, em virtude, repito, da mediocridade, da corrupção, da inveja e da ganância que campeia, sobretudo o mundo do futebol.

    Com a devida Vênia, a esse respeito como torcedor do potiguar e admirador da figura humana impar que sempre foi Manuel Barreto, transcrevo palavras de GUSTAVO BOLÃO:

    É muito complicado para um torcedor, como eu, do Potiguar, relatar ou descrever o que foi Manoel Barreto para o clube. Tudo que eu escrever nesse espaço pode ser que seja encarado como uma simples apologia ao maior nome da história do alvirrubro mossoroense.

    É muito triste imaginar que no final do ano, infindáveis reuniões serão feitas, com o propósito de reunir abnegados e torcedores apaixonados, para depois de muita discursão não chegarmos a lugar nenhum e uma voz no fundo de uma sala qualquer, ecoar, pedindo que entreguemos o destino do Potiguar a Manoel Barreto. Sempre foi assim, mas não será mais!

    O homem que se tornou referência para os jovens dirigentes, que se tornou um porto seguro quando as dificuldades, e eram ou são muitas, apareciam, já não existe mais. Como vamos gritar: “Volta , meu Presidente!”, quando o sofrimento dos gramados atingir nossos corações? Como poderemos assistir a um PotiBa, sem a bem aventurada presença de Manoel Barreto?

    Estamos órfãos, estamos a muito tempo sem prumo, mas agora nos tornamos totalmente desvalidos, desamparados, nosso eterno Presidente se foi, não teremos a quem recorrer, a não ser as lembranças de um homem que foi apaixonado pelo seu clube e pelo futebol, um homem pioneiro nas atitudes esportistas, desde quando foi ao estado de Pernambuco buscar um muleque baixinho e franzino, chamado Odilon, para se tornar o maior jogador da história do esporte em Mossoró, ou até mesmo quando levou o time macho a se tornar o primeiro time campeão estadual pela nossa cidade.

    Por mais que eu tente justificar o que foi Manoel Barreto para a Associação Cultural e Desportiva Potiguar se torna irrelevante minhas palavras, Manoel foi muito mais que tudo isso, foi pra muita gente um pai, pra outras um dirigente, para mais algumas um empresário, para mim um amigo, mas no fundo, Manoel Barreto Filho foi simplesmente, “Manel do Potiguar”.

    um ABRAÇO

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

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