Meu Carnaval tem sido de descanso e trabalho em marcha lenta.
Estava precisando para recarregar baterias. Tenho um ano em movimento, que promete ser de grandes desafios.
Eu preciso deles, os desafios. São meu combustível.
Mas tirei um dia para mirar o sertão; sentir seu cheiro, ziguezaguear por suas estradas e veredas e falar com sua gente.
Comer arroz-de-leite, lavar o rosto com água geladinha da cisterna, procurar (sem sucesso) o camaleão mimetizado na folhagem e seguir em frente, sem a pressa de chegar.
Ouvir. Observar. Falar pouco (ô! Tentei).
São coisas que me fazem bem. Sou capiau da cidade, realimentado pela vida campesina.
Até neblinou ao longo de pouco mais de 400 quilômetros percorridos.
Eu pedia chuvas caudalosas, antes de viajar. Há-as permanentemente em meus sonhos. Vislumbro-as da casinha – imaginária – fertilizando o chão que dá cria à vida semeada.
O sertão verdinho, animais pastando, o sertanejo sorrindo, é como retempero para continuar a rotina que me empolga nesta página e outras tarefas.
Voltei olhando pela janela do carro e no retrovisor o que ia deixando para trás e ao largo: aquele sol engolido por nuvens densas, teimando em ficar.
Eu não me demorei. Mas trouxe todas as imagens e impressões em meus sentidos. Não ficaram para trás; carrego-as em mim.
Reencontrei-me para continuar minha marcha. Já no beicinho da noite avistei minha cidade.
Hora de começar tudo de novo. Em paz!
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.
“Em janeiro: o vilão da seca morre,
Um rosário de pingo d’água escorre
No pescoço do rio formando enchente.
A mãe terra despida, de repente,
Um tecido de flor faz seu pijama
Cururu na lagoa escolhe a cama,
Pra fazer sem sabão bolha de espuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.
O relâmpago se acende pra dá show
Camponês sem castelo vira rei
Quando a voz do trovão diz: eu cheguei!
O fantasma da fome diz: já vou!
Abra a boca de um silo que lacrou
Enche a cuia e não pesa em quilograma
Põe na cova, com um mês tem folha e grama
Quem plantou grão por grão colhe de ruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama…”
Os Nonatos
NOTA DO BLOG – Lindo demais, JB.
Os Nonatos: poesia pura.
Abração.
Ai que lindo! quantas saudades, dos silos cheios de feijão, de milho, do sótão com arroz, dos caixões com rapadura e farinha, de muitas frutas colhidas fresquinhas, dos plantios com meu pai e irmão e irmãs, da alegria das chuvas, das chuvas de gelos (rs), dos banhos de chuvas, dos banhos de rios e açudes, do caminho da escola, do estudo de reforço com minha mãe. Que infancia boa, humilde, mas, muito, muito feliz. Mantenho ainda uma raiz plantada naquele solo que serviu de um profundo alicerce para minha vida. Até as lágrimas brotão, mas de saudade e muita gratidão aos Deus criador, aos meus pais e demais antepassados.