Por Inácio Augusto de Almeida
Viajar na máquina do tempo é um sonho acalentado pelo ser humano há muitos e muitos anos. E este desejo tem sido alimentado cada dia de maneira mais intensa por religiões e pela indústria cinematográfica.
Desconhece o homem que tem dentro de si a máquina do tempo?
Se é possível voltar no tempo, visitar o passado?
Basta fechar os olhos, ativar a memória, e o transporte à época desejada acontece instantaneamente. Nossa memória é a passagem para o passado.
Imagine-se criança, com seu primeiro brinquedo. Brinquedo que agora vê e que Papai Noel trouxe. Depois você viaja e está frente a frente com sua primeira professora, aprendendo o ABC e a contar nos dedinhos da mão.
Viu como é possível voltar ao passado?
Mas nunca cometa a loucura de querer voltar, fisicamente, para reencontrar as pessoas e as coisas que fizeram parte do seu passado.
Tudo vai lhe parecer muito diferente, mesmo sem nada ter mudado.
Fiz essa experiência revisitando locais da minha infância e juventude. A única coisa que consegui foi destruir ilusões que acalentei por tantos anos. Já não encontrei a professora que me ensinou as primeiras letras. Apenas vi fotos que me foram mostradas por um neto dela. A enorme sala onde ficava, com os coleguinhas, ainda estava lá. Só que de enorme não tinha nada. Era apenas um pequeno cômodo da casa que meus olhos infantis viram como uma enorme sala.
Procurei a casa onde morei e constatei que a alta calçada onde eu andava de velocípede, na verdade não passava de uma calçada de pequena altura. Ri do medo que sentia de cair da calçada com meu velocípede.
Todos as fantasias iam desabando, mas a decepção maior aconteceu quando procurei e encontrei a primeira namorada.
Na minha imaginação estava muito viva a menina de olhos negros, tranças longas de cabelos castanho claro e riso bem aberto na janela todas as tardes. E vi-me frente a frente a uma esbelta e risonha senhora, com grossos óculos, cabelos curtos, brancos e com um bisneto no braço. Rindo nos abraçamos. E eu a me perguntar em que estrela estava a minha namorada…
Saí arrependido de ter voltado.
Voltado para quê?
Para destruir a bela imagem que carreguei por tantos anos? Para me convencer que nossos destinos eram paralelos?
Não sei. Sei que de tudo ficou a certeza que tinha cometido a loucura de destruir a mais bela fantasia da minha vida.
O presente está aqui e agora. Basta abrir os olhos e o coração. Dispensável qualquer máquina. Por que além de abrir os olhos, abrir também o coração?
Os olhos enxergam tão pouco… O essencial só conseguimos ver com o coração.
Se virarmos a máquina do tempo para o futuro, podemos sonhar, dar asas à nossa imaginação. E, mesmo juntando desilusões, são os sonhos que nos motivam a continuar vivendo. Você pode encontrar um homem sem dinheiro, mas você jamais encontrará um homem que não acalenta sonhos.
A máquina do tempo existe!
Ela está dentro de nós.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e Jornalista
Já li belas crônicas de Inácio. Mas, dessa vez, o cronista se superou. Que beleza!
Nota mil!
Você é um amigão. E como amigo você avalia as minhas crônicas.
Um abraço
Belíssima e instigante crônica. Tessitura perfeita recolhida da retina de imensurável saudade. Deixou pedaços da sua alma dispersos na alma do tempo. Com certeza, a sua idade já lhe fez dobrar muitas esquinas do tempo, alongando o olhar em direção à mais angustiante interrogação : Será que já está próximo o dia em que o meu último sol irá se por ?. Às vezes, surgem e ressurgem detalhes de um longínquo passado, principalmente o fato de minha saudosa mãe acirdar-me cedo alertando que ficasse um tempo sentado para esfriar o corpo para ser cuidadosamente banhado por ela, que logo preparava um saboroso cuscuz umedecido com leite de gado fervido na panela de barro, acompanhado carne assada na brasa do fogão à lenha. A seguir, parte dos dez filhos seguia para o estudo no antigo e único Grupo Escolar da cidadezinha do interior. O interessante é que nas cidadezinhas província as o tempo parece passar em conta-gotas. Ainda hoje sinto o cheiro do café que mãe fazia. Sou fã incondicional da ALMA DO TEMPO, vestindo saudades.