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domingo - 15/02/2009 - 20:30h

Jarbas Vasconcelos detona o PMDB

O senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB) diz-se decepcionado com a política e com seu partido. Em entrevista à revista Veja, desta semana, ela disseca as entranhas das relações da sigla com o poder.

O vale-tudo o enoja. Para Jarbas, "boa parte do PMDB quer a corrupção". 

Leia com atenção os principais trechos que colhi, com a ajuda do blogueiro Oliveira Wanderley:

Veja – O que representa para a política brasileira a eleição de José Sarney para a presidência do Senado? 

Jarbas – É um completo retrocesso. A eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. Havia um candidato, Tião Viana, que, embora petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado. De repente, Sarney apareceu como candidato, sem nenhum compromisso ético, sem nenhuma preocupação com o Senado, e se elegeu. A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador.

Veja – Mas ele foi eleito pela maioria dos senadores.

Jarbas – Claro, e isso reflete o que pensa a maioria dos colegas de Parlamento. Para mim, não tem nenhum valor se Sarney vai melhorar a gráfica, se vai melhorar os gabinetes, se vai dar aumento aos funcionários. O que importa é que ele não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma imagem positiva da Casa. Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão.

Veja – O senador Renan Calheiros acaba de assumir a liderança do PMDB…

Jarbas – Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido. Renan é o maior beneficiário desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem.

Veja – O senhor é um dos fundadores do PMDB. Em que o atual partido se parece com aquele criado na oposição ao regime militar?

Jarbas – Em nada. Eu entrei no MDB para combater a ditadura, o partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.

Veja – Para que o PMDB quer cargos?

Jarbas – Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

Veja – Quando o partido se transformou nessa máquina clientelista?

Jarbas – De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado.

Veja – Por que o senhor continua no PMDB?

Jarbas – Se eu sair daqui irei para onde? É melhor ficar como dissidente, lutando por uma reforma política para fazer um partido novo, ao lado das poucas pessoas sérias que ainda existem hoje na política.

Veja – O senhor sempre foi elogiado por Lula. Foi o primeiro político a visitá-lo quando deixou a prisão, chegou a ser cotado para vice em sua chapa. O que o levou a se tornar um dos maiores opositores a seu governo no Congresso?

Jarbas – Quando Lula foi eleito em 2002, eu vim a Brasília para defender que o PMDB apoiasse o governo, mas sem cargos nem benesses. Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então eu acho que já foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso.

Veja – Mas esse presidente que o senhor aponta como medíocre é recordista de popularidade. Em seu estado, Pernambuco, o presidente beira os 100% de aprovação.

Jarbas – O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro. Imagine isso no Nordeste, que é a região mais pobre. Imagine em Pernambuco, que é a terra dele. Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo.

Veja – Para o senhor, o governo é medíocre e a oposição é medíocre. Então há uma mediocrização geral de toda a classe política?

Jarbas – Isso mesmo. A classe política hoje é totalmente medíocre. E não é só em Brasília. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais também fazem o mais fácil, apelam para o clientelismo. Na política brasileira de hoje, em vez de se construir uma estrada, apela-se para o atalho. É mais fácil.

Veja – É possível mudar essa situação?

Jarbas – É possível, mas será um processo longo, não é para esta geração. Não é só mudar nomes, é mudar práticas. A corrupção é um câncer que se impregnou no corpo da política e precisa ser extirpado. Não dá para extirpar tudo de uma vez, mas é preciso começar a encarar o problema.

Nota do Blog – Há tempos não lia algo tão lúcido e consistente sobre a política brasileira. Concordo com praticamente tudo que é asseverado pelo congressista pernambucano.

O caminho para a mudança, continuo repetindo, é a instrução, o conhecimento, a educação. Não se trata da farsa da "alfabetização", em que a maioria sabe tão-somente desenhar o nome e não consegue entender quase nada do que lê.   

Refiro-me à capacidade de discernir, à elevação cidadã, que permite ao indivíduo questionar, fazer escolhas com a mente e não com o estômago.

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Categoria(s): Entrevista/Conversando com...

Comentários

  1. David de Medeiros Leite diz:

    Faço coro: Há tempos nao lia algo assim…
    Abraços
    David Leite

  2. Gilvandro Alves diz:

    Entrevista brilhante do senador pernambucano, que corrobora com o mesmo pensamento que tinha o Senador Jefferson Peres, sobre a classe política brasileira. No meio da lama do congresso nacional, salvam-se poucos nomes, como Jarbas Vasconcelos, Cristovam Buarque, Pedro Simon e mais uma meia dúzia de políticos. A maioria vive da corrupção e na minha modesta opinião, o maior representante dessa classe referida pelo senador é o deputado Francisco Inocêncio, que infelizmente é do mesmo estado do honrado senador pernambucano.

  3. Manoel Machado Júnior diz:

    Eu já não acreditava nessa casa de CORRUPTOS (apesar de ter meia duzia de honesto) imagine agora com a abertura da caixa preta por esse Senador de tanta corragem. Brilhante entrevista.

  4. francisca milka diz:

    Tudo que ele disse procede.Jarbas foi corajoso,só faço uma ressalva,ele não tem autoridade moral nem ética para fazer tais afirmações.A começar pelo projeto político que ele defende,a volta do psdb, que como se sabe fez o maior desmonte do estado.

  5. Daniel Dantas diz:

    Carlos:
    Já imaginou se o Senado da República tivesse uns dez Pedro Simon e uma meia duzia de Jarbas Vasconcelos e Eduardo Suplicy? O que falta a classe politica é vergonha na cara. Veja o exemplo aqui mesmo de Rosalba Ciarline. Até agora não mostrou para que foi eleita. ainda esta em cima do palanque promovendo seu nome para o Governo do Estado. Não trouxe ainda um centavo para nenhuma cidade do RN, e teve a sorte de escapar do ” relatório Marpe”. Agripino só sabe fazer oposição sem responsabilidade. O quanto pior é o melhor para ele. Fala em seriedade quando teve o ” famoso caso rabo de palha” . Garibaldi brincou de ser rei, enquanto foi coniviente para o seu partido. Agora puxaram a cadeira do coitado e ele caiu na real. Pobre de nós…

  6. Daniel Victor diz:

    É… Parece que o grande pernambucano da política brasileira não é o Lula.

  7. Ricardo Menezes diz:

    Parece q o amigo Daniel Dantas, não acompanha a politica nacional o senhor simon si curvou ao governo e aos caciques do pmdb, e fala de atripino o potiguar mais respeitado politicamente nacional, parece coisa de petista ou petralha.

  8. Ibnéias Costa da Silva diz:

    Em nota o PMDB diz que não dará “atenção ao caso em razão da generalidade das alegações” e não punirá o senador por não terem sido citados nomes … O que será que a cúpula peemedebista entende por “Sarney ser um candidato sem nenhum compromiso ético e que a moralização é imcompatível com ele” e Renan Calheiros “não ter nenhuma condição moral ou política para ser senador e muito menos liderar o PMDB”? Não que Jarbas Vasconcelos seja algum modelo de santo ou acreditar que um partido como o PMDB não tenha suas falhas, mas considerar que as acusações feitas por um senador contra seu próprio partido e contra o presidente da república (e seu partido) não é digno de atenção, é considerar que todos brasileiros são imbecis e sem memória. É bem verdade que daqui a 2 meses muitos não vão se lembrar desse episódio, mas que ele com certeza lava a alma de quem tem um mínimo de discernimento político em meio a essa imensa massa de manobra chamada eleitores brasileiros, eu não tenho dúvida. Uma das melhores e mais corajosas análises da situação polítca atual que eu vi.

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