Sem sombras de dúvidas João Pessoa foi o homem que moralizou a Paraíba, pois colocou rédeas curtas nos esquemas corruptos que faziam parte da cultura oligárquica local, os quais trouxeram dissabores inenarráveis para as finanças públicas, para o erário, ou seja, dinheiro do povo que era convertido em propriedade privada dos chefes políticos que estruturavam a oligarquia maior, representada por Epitácio Pessoa.
Justamente Epitácio Pessoa quem indicou o sobrinho para governar a Paraíba, pois estava completamente desacreditado nas palavras e gestos de suas bases, principalmente quando verdadeira e avassaladora onda de corrupção grassou o Estado, quando da apropriação dos recursos que foram destinados às obras públicas idealizadas quando do triênio Epitacista na presidência da República (1919-1921).
João Pessoa fez do seu curto governo exemplo de moralidade, colocando nos eixos a organização do Estado, antes entregue aos interesses do mandonismo local. Todos os setores da sociedade tiveram algum benefício, da tributação à educação, nada ficou esquecido.
A Paraíba passou a se destacar no cenário nacional como exemplo de moralidade, de coerência e de firmeza. Era uma ilha cercada pelas estruturas de poder totalmente vinculadas à cultura oligárquica.
Homem simples, fazia questão de visitar os presídios, para saber o que acontecia. Diversas vezes agiu de forma implacável contra a insubordinação de criminosos, os quais fitava sem titubear e infringia castigos a fim de valer sua ordem e respeito. João Pessoa tornou-se sinônimo de valentia, de coragem e determinação, razão pela qual foi inserido na chapa da Aliança Liberal para disputar as eleições de 28 de fevereiro de 1930, ao lado de Getúlio Vargas, apoiados por Minas Gerais.
No entanto, era homem de paz, pois quando a chapa da Aliança Liberal foi derrotada e cogitaram em sublevação, respondeu de forma incisiva preferir mil Júlio Prestes a uma revolução. O governante paraibano era ousado demais, pois declarou guerra sem trégua às elites paraibanas, sobretudo a agro-pastoril sertaneja, não demonstrando temor diante das poderosas estruturas oligárquicas.
A ousadia de João pessoa em desafiar o mandonismo local culminou com a deflagração de verdadeira guerra civil no Estado da Paraíba, pois Princesa sublevou-se diante das ações draconianas implementadas pelo valente presidente. Princesa transformou-se em verdadeiro problema para o governo de João Pessoa, pois boa parte do dinheiro acumulado com a guerra tributária declarada contra o mandonismo local passou a ser usado na sustentação da luta.
Desesperado com a absoluta vantagem das oligarquias insurgentes quando da luta em Princesa, João Pessoa resolveu atacar frontalmente inimigo visceral de nome João Duarte Dantas, publicando cartas íntimas e diário na Imprensa Oficial do Estado da Paraíba.
Na edição que trazia o perigoso material que expunha intimidades do advogado João Dantas, estampava nota da visita do presidente paraibano à capital pernambucana, lugar onde se escondia o representante de uma das mais irascíveis oligarquias do sertão paraibano. João Dantas empreendeu verdadeira caçada a João pessoa pelas ruas do Recife, encontrando-o na companhia de amigos na confeitaria Glória.
Anayde Beiriz, amante de João Dantas, ainda tentou com a ajuda do engenheiro Augusto Caldas, evitar a tragédia anunciada. João Dantas abateu João Pessoa na frente das mais altas representações políticas e sociais do Estado de Pernambuco, pondo fim à vida do grande presidente e a uma das mais expressivas lideranças políticas do Brasil pré-revolucionário, pois a morte de João pessoa deflagrou um dos mais importantes movimentos da História do Brasil, quando em outubro de 1930 conseguiram articular as forças contrárias à República Velha e suas estruturas.
José Romero Araújo Cardoso é geógrafo e professor-adjunto da Uern
João Dantas era primo de minha avó Araci Machado Dantas (mãe do meu pai).