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segunda-feira - 03/03/2008 - 00:21h

Letra e Música – 14

Que semana surpreendente! Feita em dores e flores.

A angústia de testemunhar e sofrer, também, com a despedida de "Vitória Gabriela". Apenas um bebê em seus 37 dias de vida terrena. Alegria de renovar uma ponta de esperança no homem, com a mão poética e escatológica de Augusto dos anjos: A mão que apedreja, pode afagar?

Mundo dual.

Recorro à poesia de Oswaldo Montenegro, numa produção com mais de 30 anos. "Metade" é uma parte de cada um de nós.

Boa semana. Um abraço, saúde e paz.

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor

E a outra metade também.

* Ouça o áudio AQUI.

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Categoria(s): Letra e Música

Comentários

  1. betinho rosado diz:

    Parabéns pela coluna sempre atual e informativa.
    O poema METADE, declamado por Oswaldo Montenegro,
    é de autoria de Vinícius de Moraes.

    Betinho Rosado

  2. Andréa diz:

    Exmo. Sr. Deputado, a autoria da poesia Metade até hoje causa polêmica tendo sido atribuída ao poeta Ferreira Gullar quando confundida com o poema “Traduzir-se”, este sim de autoria de Ferreira. Outras polêmicas envolvem um autor português chamado Mauro Burlamaqui Sampaio.

    Oficialmente, a autoria desde belíssimo texto é de Oswaldo Montenegro. Mais detalhes podem ser lidos no link que segue: //my.blog.simplesnet.pt/cgi/mt-comments.cgi?entry_id=10773

  3. Mauro Burlamaqui Sampaio diz:

    Este poema foi executado por mim, Mauro Burlamaqui Sampaio em Setembro de 1984, Rio de Janeiro, em vésperas de vir para Portugal. Esta é uma versão do texto poético declamado no fim de uma peça de teatro de 1974 «João sem nome» da autoria de Oswaldo Montenegro que possui apenas frases sequenciais. A nova versão, não lhe pertence, executei em pormenor todo o percurso do poema, entregue em mãos a uma amiga familiar de Oswaldo está documentado em ambiente jurídico, pois foi aberto um processo de averiguações após a minha denúncia. Tudo muito esclarecido através de nomes e datas, a vergonha fica com quem insiste em mentir e ele nem precisa. Só descobri o uso do mesmo em 2003 quando um amigo em Portugal mostrou uma gravação, simples coincidência. A vida tem disso. Mauro Burlamaqui Sampaio 26 de Abril de 2023.

  4. Mauro Burlamaqui Sampaio diz:

    No meu original a frase ” E essa tensão que me corrói por dentro” está errada; confundiram na cópia a frase correcta é: “E essa tensão que corre por dentro” Em todo pormenor trata-se de uma reflexão de partida, absolutamente pessoal em vésperas de vir para Portugal. São factos da minha vida pessoal ponto

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