Por Bruno Ernesto
Em outras oportunidades registrei um costume que tenho: enviar cartões postais.
Quem ainda, de fato, os envia?
Embora nossa Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – segundo noticiam – ande moribunda, do ponto de vista empresarial, a crise é do próprio mercado postal, somada a outros fatores que você pode se inteirar com mais propriedade em outras fontes de mercados de capitais e de política. Quanto a esta última, muito cuidado com a fonte.
Sim, por ser uma empresa estatal, além dos serviços padrões, mantém serviços que a iniciativa privada despreza solenemente, como por exemplo, transcrição em Braille e o chamado registro módico, que custa a metade do valor convencional de uma encomenda e é muito utilizado para envio de livros e material didático.
Os próprios Correios divulgaram que foi graças a essa modalidade de envio que muitos livreiros conseguiram manter seus negócios durante a pandemia da COVID-19. Os sebos e leitores agradecem penhoradamente.
Eis um dos papéis distintos que uma empresa estatal, numa área tão particular, preserva sem se ater tanto resultado comercial.
Por ser millennial, ainda alcancei as cartas de papel.
Era todo um processo: envelopes, papel pautado, caneta esferográfica de ponta fina, selos, cola e muita inspiração.
Numa carta manuscrita, não há curtidas ou seguidores, como nas redes sociais digitais. Leva e traz notícias boas, ruins ou indiferentes. É uma relação sinalagmática entre remetente e destinatário.
De tão sagrada, seu sigilo é um direito fundamental protegido constitucionalmente no artigo 5º, inciso XII, da nossa Constituição Federal de 1988.
De fato, há muito tempo não escrevo nem envio uma carta pessoal pelos correios. Me falta destinatário.
Recentemente, pus minhas mãos em mais de duas dezenas de cartas que troquei nos anos noventa e início dos anos dois mil, com uma querida amiga de Liège, na Bélgica, que conheci no colégio e criamos um grande laço de amizade durante o seu intercâmbio aqui no Brasil, há quase três décadas: Valèrie Warnier.
Embora tenhamos trocado correspondências por anos a fio, as cartas cessaram. Há anos não mantemos mais contato.
Das últimas notícias que recebi dela, soube que havia concluído a graduação como restauradora de obras de artes e ia se casar. Estava radiante.
A última carta que escrevi para ela – quase vinte anos após as últimas que trocamos -, escrevi poucos meses após o falecimento do meu pai, em 2019 – ela sempre perguntava pelos meus pais -, e dava conta de muitos anos sem notícia alguma minha. Entretanto, nunca postei. Ainda não.
Antes disso, estive próximo de sua casa em Liège, apenas com o seu endereço de memória. Porém, não lembrava o número de sua casa e não pude procurá-la.
Nos últimos anos, por quatro vezes, estive a pouquíssimos quilômetros da sua cidade, que fica nos arredores de Bruxelas e Antuérpia. Novamente não foi possível procurá-la.
Até procurei nas redes sociais, e não a encontrei.
Quem sabe numa próxima oportunidade, muito em breve, possa reencontrá-la e, pessoalmente, entregar a próxima carta.
Espero que só tenha notícias boas.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor
Vixe Cara !. Você me fez remontar ao longínquo ano de 1974 quando cheguei em Mossoró. EU era tão matuto que o meu maior prazer era me dirigir à pés para o.Aetoporto para ver , apalermado, os Aviões decolarem e aterrissarem e decolarem durante as manhãs.
Alô querido Professor de Português Alberto , boníssimo Ex-Presidente da antiga CASA DO ESTUDANTE DE MOSSORÓ. Tempos duros, dr duras fomes, quando a tal elite mossoroensr nunca, sequer, se preocupou com os seus parentes oriundos dos sertões Oestanos-potiguares.
Tenho procurado muito esses envelopes. Nunca mais encontrei
Cabe-me um evocativo pedido de desculpas ao erudito Autor do antológico Artigo, por não ter enfocado a imensurável contextualuzação com a hodiernidade (vixe !. Será que vão entender !?). Convoquem os Filósofos Frei Molambinho e Quincas Berro D’água !. Dito.
Peço dsculpas ao consagrado Autor do instigante Artigo. É tão reminiscente que me faz evocar as minhas antigas Missivas enviadas até por mãos próprias, como a romântica Carta envelopada naquele famoso envelope com as bordas enfeitadas com as cores do Brasil (ái novo !) . Eita que gostosa saudade !.
Infelizmente, meu caro Bruno, fiz uma das maiores idiotices da minha vida: rasguei todas às cartas que havia recebido ao longo da minha vida, desde os treze até os meus vinte e seis anos. E olha que eram muitas, principalmente na fase “terrível” dos dezoito aos vinte e dois anos. Um dia, sem mais nem menos, peguei-as de dentro de uma caixa, onde elas estavam cuidadosamente guardadas e, sem abri-las – para não “relembrar” suas passagens -, rasguei-as. Arrependo-me, claro. Conservo, entretanto, as cartas eletrônicas, de amigos e escritores enviadas em substituição as postadas nos Correios. Essas eu estou tendo cuidado. Mas é assim mesmo como você falou, esse hábito se perdeu com nós, os mais dinossauros. Um dia, talvez, por algum motivo (assim como so LP’s de vinil) elas voltem. Boas lembranças, abraços.
Que linda postagem. Tenho caixas de cartas e cartões postais. Ao longo da minha adolescência e vida adulta, troquei com amigos, familiares e conhecidos. Guardei todas com muito carinho ❤️.