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domingo - 27/01/2013 - 12:19h

Lincoln, a Democracia fora de moda

Por Murilo Silva do portal Conversa Afiada

“Lincoln” de Steven Spielberg, que estreou essa semana no Brasil, é uma provocação a um mundo em que a política como meio de construção do bem coletivo e a própria democracia encontram-se em xeque.

Cento  e cinquenta anos depois do discurso no cemitério de Gettysburg, em que Lincoln lança bases de um Estado democrático – “o governo do povo, para o povo e pelo povo” – nações inteiras, como se vê na Europa, se lançam aos braços de burocratas encastelados nas sedes dos Bancos Centrais. Homens desconhecidos que governam milhões de cidadãos, sem ter recebido um voto sequer.

Lincoln, brilhantemente interpretado por Daniel Day-Lewis, lembra aos descrentes e puristas que a política pode e deve ser o meio para se alcançar grandes feitos.

Lincoln não era um abolicionista radical.

Mas sabia que formar uma única grande nação, estabelecida sobre uma paz real e duradoura, tinha de realizar a Abolição.

Durante a Guerra Civil, em 1863, com e força de uma Lei marcial, Lincoln emancipou os escravos do Sul, que puderam ser incorporados às forças da União.

Advogado, o presidente sabia que agia na exceção da lei e atropelava, em especial, a legislação dos entes federados.

Ele receava que, após a Guerra, os tribunais revogassem o “confisco” do que era, perante a lei, “propriedade privada” dos dissidentes sulistas.

O filme trata do fim do primeiro mandato e do começo do segundo. Mostra um calculista político meticuloso e, em larga medida, pragmático.

Disposto a sujar as mãos no sangue da guerra, adiou um acordo certo com os Confederados, o que custou mais milhares de vidas, naquele que foi o mais sangrento conflito da história americana.

Ao mesmo tempo, disposto a sujar as “botas na lama de Washington” foi pessoalmente atrás dos votos que lhe faltavam  para vencer a Escravidão.

Os movimentos do tabuleiro político posto diante de Lincoln são exuberantemente demonstrados no filme.

De um lado, o presidente acenou à ala mais conservadora do seu Partido – os republicanos tradicionais de Francis Preston Blair, vivido por Hal Holbrook – com a paz pela liberdade. E aceitou negociar em segredo com os Confederados em troca da aprovação da emenda.

Aos republicanos moderados e aos independentes ele procurou vender a liberdade pela paz, já que, uma vez abolida a Escravatura, a guerra seria inócua, e o desgastado  sul se renderia.

Os republicanos radicais – comandados por Thaddeus Stevens, líder do partido na Câmara dos Representantes e notável abolicionista, (interpretado por Tommy Lee Jones) – foram convencidos de que, ainda que de forma incompleta – os direitos civis só chegariam um século

depois. A 13ª emenda, a Abolição, aprovada um ano antes no Senado, era o que de melhor se podia oferecer à História naquele momento.

Por fim, com Democratas do norte – anti-abolicionistas radicais e ferrenhos oposicionistas – Lincoln barganhou cargos e até comprou votos.

Como se sabe, tortuosos são os caminhos da Política, como foram os Lincoln.

Nem por isso se deve perder a fé na Democracia.

Se a memória do 16º presidente resistiu a 250 anos é porque a História é feita pelos que não se omitem diante dela.

E é a homens como Lincoln que se delega a construção do futuro.

Murilo Silva é jornalista

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O Gênio Steven Spielberg mais uma vez mostra toda a sua inteligência.
    Desmitificar um Lincoln não é para qualquer um.
    Desde criança eu sempre desconfiei que um simples madeireiro, um advogado de pouca clientela para chegar aonde chegou tinha que ter aceitado certas acomodações políticas.
    Agora o Spielberg nos mostra o Lincoln político tal como ele foi.
    Desmitificou mas não diminuiu o Lincoln como o grande homem público que foi, sobre o qual nunca pesou nenhuma acusação sobre a pratica de qualquer ato de corrupção.
    Nenhuma catinga, favor não confundirem com outro nome.
    Nenhuma condenação em qualquer instância por prática de corrupção.
    Se fez concessões políticas a anti-abolicionistas foi visando alcançar o objetivo maior que era manter a unidade da grande nação do Norte e assegurar de uma vez por todas a libertação dos irmãos que vivam sob o imoral regime escravista.
    Certamente Lincoln foi o maior de todos os presidentes dos EUA.
    E a sua morte, assassinado dentro de um teatro, serviu para tornar mais gloriosa a sua existência.
    Não cito o nome do criminoso, um ator teatral dotado de boas qualidades e com aceitação aceitação nos meios artísticos da época, por achar que todo aquele que tira a vida do seu semelhante deve passar à história simplesmente como um assassino e mergulhar diretamente na negritude do esquecimento.
    Não vejo a hora de assistir a este trabalho do gênio Steven Spielberg.

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