Por François Silvestre
Quem nasceu no pé da serra, e depois subiu a serra, e depois morou na serra, tem por destino certo viver com a cabeça nas nuvens.
Quem nasceu na beira do rio, e depois entrou no rio, e depois nadou no rio, tem por destino certo viver contra a correnteza.
Quem nasceu na praia do mar, e depois entrou no mar, e depois nadou no mar, tem por destino certo enfrentar a força das ondas.
Quem nasceu na beira do mato, e depois entrou no mato, e depois se perdeu no mato, tem por destino certo ser presa do caçador.
Quem nasceu na entrada da rua, e depois entrou na rua, e depois morou na rua, tem por destino certo enganchar-se na multidão.
Quem nasceu na franja da bandeira, e depois marchou com a bandeira, e depois se enrolou na bandeira, tem por destino certo fugir de todos os hinos.
Quem nasceu ouvindo hinos, e depois cantou os hinos, e depois ensinou os hinos, tem por destino certo fugir de todas as bandeiras.
Quem nasceu na porta da biblioteca, e depois se fez de biblioteca, e depois sumiu na biblioteca, tem por destino certo esconder-se por trás dos livros.
Quem nasceu no patamar da igreja, e depois entrou na igreja, e depois rezou na igreja, tem por destino certo duvidar das orações.
Quem nasceu na rua do fórum, e depois entrou no fórum, e depois conheceu o fórum, tem por destino certo zombar da pompa forense.
Quem nasceu ao som da polÃtica, e depois entrou na polÃtica, e depois conheceu a polÃtica, tem por destino certo a escolha entre a mentira ou a fuga.
Quem nasceu na escada da escola, e depois entrou na escola, e depois aprendeu na escola, tem por destino certo rever quase tudo que aprendeu.
Quem nasceu no primeiro verso do soneto, e depois atravessou os quartetos, e conseguiu passar dos tercetos, tem por destino certo desvencilhar-se das rimas.
Quem nasceu no escuro do mofumbo, e depois saiu do mofumbo, e viu a luz pelas mãos da parteira, tem por destino certo rir-se da vida e desdenhar da morte.
Quem nasceu na porta do bar, e depois entrou no bar, e depois se embriagou no bar, tem por destino certo recitar a verdade do vinho.
Té mais.
François Silvestre é escritor
Alegra mais ainda meus dlmingos.
Contente que só aquele recifense que vendia bife de seri pra europeu.