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domingo - 05/09/2021 - 10:42h

Maisa, história de exuberância no campo e um fim que deu frutos

Por Josivan Barbosa

Durante a semana conversei demoradamente com um ex-agrônomo da antiga Maisa (Mossoró Agro Industrial Sociedade Anônima). Lembramos das grandes áreas de maracujá, acerola, manga, melão, melancia e a cultura original, o caju. Na Maisa também havia uma área bem representativa com o cultivo de sapota.

No auge da produção da empresa, registrava-se uma área de cultivo por safra de cerca de 4000 ha de melão e melancia. A empresa foi a grande responsável pela abertura inicial do mercado do Reino Unido e depois conquistou a Europa e os Estados Unidos, colocando o melhor melão do mundo no mercado de frutas frescas mais exigente do planeta (veja vídeos abaixo produzidos nos anos 80 e 90, inclusive  reportagem nacional com o jornalista Goulart de Andrade, falecido em 2016, na ativa, com 83 anos).

A Maisa tinha ainda uma fábrica de suco e uma fábrica de castanha, ambas de excelente padrão técnico.

O escritório da Maisa, que ainda se pode observar as suas ruínas ao passar pela BR 304, era uma estrutura invejável para os padrões da época. Havia dentro do escritório um restaurante terceirizado para atender apenas aos funcionários que ali trabalhavam e que residiam na sede do município de Mossoró ou em Fortaleza.

Uma imagem que nos faz lembrar do padrão Maisa é a presença no estacionamento de diversos veículos importados usados pelos seus diretores. No final da década de 80 era raro encontrar um desses veículos rodando pelas ruas de Mossoró, mas no estacionamento do escritório eram vários os exemplares. Lembro bem que pela primeira que conheci uma Cherokee foi exatamente lá.

O fim

A pergunta que cabe e que já foi feita por vários leitores dessa coluna é: por que uma empresa do porte da Maisa fechou as suas portas?

Claro que não estamos aqui querendo trazer para o debate as inúmeras razões que levaram ao fracasso da empresa, mas a exemplo de outras agroindústrias que também fecharam as portas na mesma época, como a Frunorte Ltda, Agro Now e Fazenda São João, um ponto que pesou muito para a descontinuidade dessas empresas foi a instabilidade financeira que o país atravessou.

Todas essas empresas trabalhavam com crédito agrícola e se submeteram à inflação exorbitante que em março de 1990 alcançou 84,22%. Essas empresas também se submeteram a diversos planos econômicos, alguns deles de grande fracasso. Elas não alcançaram o período da nova matriz econômica instalada a partir de 1999 no segundo Governo de FHC.

Acreditamos que se tivessem ultrapassado a instabilidade econômica da década de 90, ainda estariam vivas.

Outro aspecto que contribuiu para o fechamento dessas empresas foi a instabilidade do câmbio, onde houve um período em que a valorização do real de forma artificial passou de 4 reais por dólar para 0,80. Isso foi fatal para as empresas exportadoras de frutos, pois os contratos dessas empresas eram todos feitos em moeda estrangeira. Foram poucas as empresas que conseguiram se readaptar e redirecionar o produto para o mercado nacional.

Também não podemos esquecer que a partir do momento em que alguma dessas empresas passaram a cumprir com os compromissos dos empréstimos bancários corrigidos pela gigantesca inflação, houve dificuldade de se manterem adimplentes com os bancos. Esse problema contribuiu muito para que algumas fossem tomadas pelos bancos e leiloadas ou mesmo vendidas para assentamentos rurais.

É o caso da Maisa em que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) constituiu a partir do início da década de 2000 o assentamento Eldorado do Carajás II, formado inicialmente por mais de 1000 famílias assentadas e a Frunorte, onde em apenas uma das fazendas localizada no município de Carnaubais, o Incra instalou três assentamentos. Também em parte das terras da Fazenda São João, há dois assentamentos instalados. Um que fica na RN 015 e outro que fica na comunidade rural de Alagoinha.

Grande Maisa

A região que hoje é denominada de Grande Maisa é a mais produtiva do Polo de Agricultura Irrigada RN – CE que vai de Touros – RN até Limoeiro do Norte – CE, numa distância de cerca de 400 km.

A Maisa representou, na prática, uma verdadeira escola de produção de frutas. Os agrônomos que ficaram desempregados após o fechamento dela adquiriram áreas por compra ou arrendamento no seu entorno (Pau Branco, Sítio Jardim, Pedra Preta, Córrego Mossoró, Mata Fresca, Cajazeiras, Santa Maria, Aroeira, Cacimba Funda, entre outros) e se instalaram no formato de associações, cooperativas ou empresas individuais.

Esses técnicos representam o principal pool de produtores da região da Grande Maisa e continuam adquirindo áreas para ampliar a produção ou servir como alternativa para o plantio alternado ano após ano (descanso das áreas), prática muito necessária nas culturas de melão e melancia.

Preservação e construções

A nova lei aprovada na semana passada na Câmara dos Deputados pode mudar a realidade de construções ao longo do trecho urbano do Rio Apodi – Mossoró.

Rio Apodi-Mossoró no centro da cidade de Mossoró (Reprodução)

Rio Apodi-Mossoró no centro da cidade de Mossoró (Reprodução)

O plano diretor dos municípios poderá determinar uma área de preservação menor nas regiões urbanizadas do que a prevista hoje em lei federal, desde que estabeleça regras para “não ocupação de áreas de risco de desastres” e que os empreendimentos instalados sejam de “utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental”.

A lei hoje determina que as construções urbanas são proibidas a menos de 30 metros de rios e lagos menores. O tamanho da faixa aumenta de acordo com o tamanho do curso d’água, podendo chegar a até 500 metros de preservação no caso de rios ou lagos com largura superior a 600 metros. Se o projeto for sancionado, a área de proteção pode ser menor.

O texto que será discutido no Senado teve apoio do governo e do setor de construção civil, mas passou sob protestos de ambientalistas.

Como a nova Lei não estabelece uma faixa mínima para as cidades corre-se o risco de   que ocorra invasão de novas áreas por construções. Outro aspecto negativo é que os prefeitos e vereadores estarão mais sujeitos a pressões locais por flexibilização.

Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Ufersa

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Sidney diz:

    👏👏👏👏👏,como é bom esse tipo de postagem,top mesmo.

  2. M.D.R. diz:

    Respeito a natureza, é tudo para conservar nossos rios e ribeirinhos porque amanhã a natureza cobrará caro.

  3. JOSE FERNANDES DE FREITAS diz:

    A MAISA foi um icone do campo e na tecnologia rural, unica em tudo, a frente dos seus dias e de sua epoca! Muito dificil aceitar que toda essa exuberancia tenha acabado. Lamento muito todos os dias que eu nao possa mais ver a minha MAISA! É extremamente lamentavel o que lhe ocorreu.

  4. Correios De Banqueteuma pena diz:

    Uma lastimavel perda. Tive o prazer de conhecer e ficar hospedado nas dependencies de hospedes nos anos 80. Um investimento exuberance perdido.

  5. Izacio diz:

    Final dos anos 80,um émpresario coreano veio conhecer a maisa agronegócio e fazer transações comerciais. Só que seu nome era meio suspeito:Ku.e o nome do proprietário da maisa era pior ainda Rola tradicional cearense. A manchete ainda mais:ku vem a Maisa se encontra com Rolaaa!

  6. Izacio diz:

    Quem conheceu a maisa no seu esplendor não consegue entender,porque não prosperou com novidade tecnológica implantado, no tempo que era escasso. Tinha convênio de cooperação com grandes universidades do centro sul.a água para irrigação era bombeado de poços profundos até 1000metro de profundidade.um modelo não só pro Brasil mas para o mundo!

    • Daniel Farias de Sousa diz:

      Olá, por onde andará o Sr André Gadelha que na época 1990 era diretor agro-industrial nos campos de plantações, no desastroso governo Collor?

  7. Damião S. de Medeiros diz:

    Em 1.999 junto com O Diário de PE acompanhei pesquisa jornalística em MAISA; em 2.005/06 executei trabalho de pesquisa (FEMeA) em toda área, particularmente nos diversos assentamentos(Incra e BNNE) nos municípios Mossoró, Serra do Mel, onde não existe ÁGUA DOCE potável para abastecimento urbano, nem para irrigação de lavoura; a tendência dos poços tubulares é SALGAR e secar; sua postagem foi publicada em desemebrasil.blogspot.com; depois do plantio de algodão (Rússia) com o Mar de Aral (água doce) o Projeto MAISA foi uma catástrofe significativa na tentativa de se produzir alimentos esgotando a Fonte de água doce (subterrânea, já que as outras fontes estavam esgotadas á séculos) Mas nem tudo está perdido: Conheça Um Projeto de Água para um Projeto de Vida de nossa propriedade intelectual (1.992); A Vila MAISA lembra um Campo de concentração moderno ( diferente dos campos de flagelados no CE, mas não menos apocalípticos )

    • Damião S. de Medeiros diz:

      Conheça Um Projeto de Água para Um Projeto de Vida, da FEMeA/1.992 – Captação de água das chuvas, sem contato com chão, EM QUALQUER LUGAR, e armazenada tal qual vem das nuvens (no tempo das chuvas) em quantidade e qualidade para o abastecimento urbano e produção de alimentos; não é milagre, nem o UTOPIA; NB: o mínimo que chove em Mossoró-RN – 300mm/ano= 300L/m2; 300.000m3/km2; a UFRdo semiárido precisa SABER produzir, por exemplo 1kg de batatas com 200 litros de água DOCE (sem sal); que cada pessoa necessita para beber, lavar e cozer os alimentos, lavar roupas e utensílios; tomar banho – de 50 a 100 litros de água doce por dia; NB: no cérebro humano mais de 90% de água; no sangue mais de 80% de água; beber água doente (no estado LIXO) é cabeça e sangue doentes.

  8. Damião S. de Medeiros diz:

    Um fim que deu frutos é foda, bicho. Seria escandaloso se não fosse ridículo.

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