• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
segunda-feira - 24/12/2012 - 09:17h
24 de Dezembro de 2012

Mesmo que eu não o conheça, Feliz Natal

O que eu desejo para o Natal?

Respondo-lhe:

– Tudo que é comum a outros dias, em minhas manifestações. Bastam saúde e paz.

Não sei quem você é? Talvez não lembre do seu rosto, menos ainda do seu nome. És um estranho, provavelmente.

Sem problema. Nada me impede de continuar lhe desejando saúde e paz.

O caso não é um arroubo próprio do que costuma ser definido como “espírito natalino”. É até mais simples. Diria que é um mantra, resposta pacífica aos que resmungam, vomitam impropérios e que acabam o mundo em sua volta a cada amanhecer, sendo Natal ou não.

O Natal tem uma atmosfera ambivalente. É misto de alegria e melancolia, caldeirão de sentimentos. Soma e perda, um pouco do que quero e tenho; a certeza do que perdi e me falta.

Como resistir à criança com olhos cintilantes, que ronda a árvore enfeitada de sonhos?

Impossível não ser tocado pelo sorriso dos que nada possuem e que são lembrados hoje, mesmo que esquecidos logo amanhã, pela ‘caridade sazonal’ de alguns mais afortunados.

Os sabores e aromas mexem com nossos paladar e olfato. Atiçam todos os nossos sentidos.

Eis as luzes, o colorido, a mesa posta…

O presépio continua na minha infância nos arrabaldes da Capela de São Vicente e Igreja do Coração de Jesus, em Mossoró. A casa de dona Maria de Uriel transformada em Belém, nossa Galileia em miniatura, ao alcance da mão traquina.

A espera de Papai Noel está atualíssima, mesmo que agora sem mistério. Causava insônia. Dali nascia a tentativa de simular o sono para flagrá-lo exatamente àquela hora em que deixaria meu brinquedo embaixo da rede.

Ele, o bom velhinho, enfim descoberto. Um espectro na escuridão, de silhueta conhecida, cometia o inafiançável crime da perpetuação da felicidade.

Eu, cúmplice, prometi a mim mesmo nunca entregar sua real identidade.

Crescido, com a vida indo bem além do Cabo das Tormentas, não é o lúdico que me instiga nesta data. Entre o profano e o sagrado, tento ser indiferente ou pelo menos cumprir o ritual exigido para o bom convívio social.

Oscilo entre a alegria da atmosfera dos festejos e a própria deprê que paradoxalmente esse período provoca.

Bom, me conheço. Um velho amigo, Diassis Linhares, até emendaria com sapiência: “Algumas pessoas amadurecem, outras apodrecem”.

Amadurecer é estar pronto no tempo certo, uma forma de sempre nascer. Aí o Natal se encaixa perfeitamente. Palavra de origem latina, Natal vem de “nativitas”, que significa “nascimento”.

De algum modo renasço e sobrevivo às minhas perdas nos olhos daquela criança boquiaberta e encantada, diante do presépio de Maria de Uriel e à espera do Papai Noel. Meu presente – hoje – é ter passado.

O brinquedo embaixo da rede é apenas um detalhe. O que vale é o vulto dos meus bons velhos diante de mim, a cada amanhecer. A cada dia, outro nativitas.

Saúde e paz.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. José Bino diz:

    Que assim seja. ” velho amigo. “

  2. Luiz Gonzaga Junior diz:

    UM FELIZ NATAL CHEIO DE SAÚDE E MUITA PAZ .É OQUE DESEJO A VOCÊ CARLOS E A TODOS QUE ACOMPANHA AS INFORMAÇÕES E OPINIÕES DESTE BLOG QUE MUITAS VEZES NÃO AGRADA À TODOS.
    E QUE O ANO NOVO QUE ESTA CHEGANDO SEJA CHEIO DE MUITA SAÚDE, PAZ , ALEGRIAS E MUITAS REALIZAÇÕES PARA TODOS NÓS.
    UM ABRAÇO E QUE DEUS ILUMINE OS NOSSOS CAMINHOS.

  3. Milene Pinto diz:

    Boa tarde Carlos Santos. Achei muito bonita essa sua crõnica sobre o Natal. E me assemelho a você, quando diz que nesse período, oscila entre a alegria da atmosfera dos festejos e a deprê que o momento provoca. Pois é exatamente assim que me sinto, alegre e triste ao mesmo tempo.

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