Por Clarice Pacheco
De repente
Ao lembrar dos brinquedos queridos
Que ficaram esquecidos
Dentro do armário
Me bate uma saudade
Me bate uma vontade
De voltar no tempo
De voltar ao passado
Mas nada acontece
Nada parece acontecer
E eu choro
Choro como o bebê que fui
E a criança que quero voltar a ser
Não quero crescer!
Clarice Pacheco (1989-2002) foi uma jovem escritora brasileira
Clarice Pacheco, lembrando-se de seus brinquedos, me lembra os meus!
Melhor dizendo, de um, que valia por três! Um pé de carrapateira (mamona), que existia na lateral da minha humilde casinha, no bairro Aeroporto, nessa cidade. Era meu “navio”, “cavalo” e “caminhão”, dependendo da vontade de meus sonhos da hora, de criança.
Também existia Júlia, “julhinha”, uma menininha de olhos azuis, cabelos ruivos ondulados da casa vizinha, que compartilhava dos meus sonhos infantis! Ora, na boléia do caminhão, ou como “ajudante do navio”, ou ainda, na garupa do “cavalo”.
Após o “almoço”, onde comíamos pequenos lanches, que eu trazia da humilde dispensa de minha mãe,
escondido, claro, ficávamos olhando as nuvens que passavam. .. até dá coragem de brincar de novo.
Com o tempo, eu acordava pra brincar, e dormia pensando em brincar no outro dia. Julhinha, e o meu cavalo, ocupavam todo o meu pensamento! De manhã, à tarde, e à noite!
Passados cinquenta anos, nunca mais ouvi falar em Júlia, nem sua família! Não sei se a mesma ainda é viva.
Próximo dos meus cinquenta e seis anos, já mais perto do que longe, de “acertar” as contas com o criador, entendo que à felicidade está nas pequenas coisas da vida, tipo: criar um animalzinho, cultivar uma planta, observar o arco-íris, subir uma montanha, ou tomar um banho chuva.
E ter uma julhinha pra brincar!!!