Por Paulo Menezes
Há quarenta e três anos, quando estava na construção do alicerce da minha morada, plantei no quintal da casa um caroço de manga e uma castanha de caju como sementes para o nascimento de uma mangueira e um cajueiro. Elas brotaram, se fizeram árvores e hoje me dão além de uma sombra grandiosa e fria, nesse clima tão quente, os frutos de delicioso sabor.
Há um ditado que diz: não aprisione pássaros, plante uma árvore que eles vêm. Pois bem. Hoje os frutos e a sombra, apesar de importantes, são para mim secundários.O grande valor que hoje atribuo à mangueira e ao cajueiro é que eles servem de abrigo, do alvorecer ao sol poente, com voos alternados de idas e vindas, a presença constante de uma sabiá-laranjeira que com seu belo canto, flauteado, faz do meu quintal um local extremamente bucólico e agradável.
Agrega-se a isso o zumbir das abelhas, o gorjeio de galos-de-campina, canários-da-terra, bem-ti-vis, rouxinóis e até os barulhentos e inconvenientes pardais que vêm se alimentar do xerém de milho que coloco para atraí-los.
Há também a visita frequente de algumas espécies de beija-flores que vêm sugar o néctar de algumas roseiras existentes nos canteiros.
É nesse ambiente urbano em que a natureza está tão presente que tenho conseguido “tirar de letra” as preocupações cotidianas dentre as quais se inclui, no presente momento, o isolamento social da quarentena por conta do coronavírus.
Com essa sinfonia de pássaros e o manejo das jandaíras, além de não sentir o tempo passar ainda me livro do noticiário televisivo com suas veiculações voltadas exclusivamente para a tragédia que ora apavora todo o planeta terra.
Como diz o Zeca Pagodinho, é desse modo que vou vivendo e deixando a vida me levar.
Paulo Menezes é apicultor
O seu artigo em tela, me arremete a nossa velha Mossoró do passado, aquela aonde encontrávamos a calmaria, mansidão, segurança e paz, hoje estes valores são coisas pretéritas. Mas embora convivendo com o inverso das bonanças referidas, o bairro em que habitamos ainda tem o privilégio de nos oferecer um espaço geográfico parecido com ar interiorano.
P.S. Integro o seu clube de alimentador diário de pássaros, e suponho que o seu Sabiá divide o canto de flauta no palco do meu quintal.
Mais uma crônica perfeita. Parabéns
Que Crônica linda! Fechei os olhos e fui até aí. Bela sinfonia.