Está todo mundo tirando carta de seguro na política potiguar.
O senador José Agripino (DEM) já não vê a governadora Wilma de Faria (PSB) com tantos defeitos como antes; o deputado federal Herique Alves (PMDB) entende como superável as desavenças até pessoais com o primo Carlos Eduardo Alves (PSB); o PT observa o PMDB do senador Garibaldi Filho (PMDB) como importante aliado e por aí vai. Ou vão, eles e seus asseclas.
O cenário sinteticamente exposto apenas revela a quebra de antigos paradigmas da política, a ruptura de fronteiras ideológicas (elas existiam?) e a prosperidade do vale-tudo pelo poder, em contraposição às demandas sociais. Da mesma forma em que falamos hoje em “aldeia global”, “globalização” e outros termos supostamente modernos, estabelecendo a internacionalização de produtos e serviços, no campo da economia, há paralelo na política.
No RN, apenas se copia uma tendência de acomodação de interesses, sem zelo algum por determinados princípios. Pode tudo, tudo pode. Até homem com homem e mulher com mulher, ao contrário do que expressava numa música o desbocado Tim Maia. É a política de resultados.
Veja-se aí o exemplo nacional: homens e partidos que antes representavam o “atraso”, a “escória” política e a “roubalheira” são cooptados pelo governo Lula, em nome da “estabilidade”. Num mesmo instante, há um debate jurídico e além dos textos legais, em torno da dialética da “fidelidade partidária”.
Novos tempos? Trata-se, afinal, do fim do radicalismo na política?
As duas perguntas têm respostas que se interligam. Sim, estamos convivendo com uma nova ordem, determinante do banimento daquele modelo medieval de se fazer política, em que o charmoso era rosnar contra adversários, destratando-os. Mas isso não é exatamente um avanço. É um jeito diferente, sem significar a excelência nos costumes.
Quebra-se o hábito da grosseria, ou pelo menos se atenua o palavrório destemperado, para acomodação de projetos pontuais, sem ninguém enxergar muito além das próximas eleições. Menos ainda se fala em idéias. Só prevalecem nomes, arranjos de grupos e escambos de bazar.
Somos campeões na concentração de renda, lanternas na educação de base e ainda assim, quase ninguém se toca. A cada eleição, daqui para frente, a tendência é se repetir a fórmula importada da economia, citada acima. Serão acordos específicos entre poderosos, para ocupação de espaço, fechando-se o caminho às alternativas, novidades e aos bem-intencionados.
A cada disputa, um acerto – seja lá com quem for. O feio é perder.
Essa “joint-venture” política não nos transporta para a modernidade, não nos resgata do atraso e muito menos revela civilidade dos seus principais atores. Apenas enraíza o apartheid entre uma minoria que se esbalda e uma maioria espoliada.
A esperteza, agora, transforma cinismo em sinônimo de hombridade.
O descaramento deixa de ser uma nódoa, para se vestir como uma diva. O RN paga um tributo caro por continuar nesse labirinto, devorado por alguns minotauros insaciáveis.
Nem o herói mitológico Teseu nos resgataria de tanta iniqüidade.
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