domingo - 14/08/2011 - 08:18h

Morte encefálica (o pleno zelo à vida)

Por professora Dra. Elizabeth López Carrillo

“Os pacientes com morte encefálica são seres vivos sem funções cerebrais, ou se trata de mortos que mantém as funções corporais?” (Dr. Hans Thomas)

A definição de morte da pessoa humana é um dos temas mais relevantes e atuais da Bioética. A definição de morte sempre foi associada à parada espontânea e irreversível do funcionamento do coração e à conseqüente parada da respiração, culminando na parada de função de todos os órgãos. (Morenski, 2003; Plum, 1972).

Segundo BARUCH BRODY (1988): O momento da morte de um ser humano pode ser determinado de duas formas: através da verificação da paragem irreversível das funções cardíaca e respiratória, ou através da comprovação da abolição irreversível das funções do tronco cerebral. Embora os métodos sejam diferentes, ambos permitem avaliar o mesmo fenômeno: a morte de um ser humano.

Atualmente e desde o ponto de vista médico é definida a morte encefálica (ME) como o “cesse irreversível“, de todas as funções das estruturas neurológicas intracraniais, tanto dos hemisférios cerebrais como do tronco encefálico.

Após a interrupção irreversível da atividade cerebral e do tronco encefálico, todos os outros órgãos e sistemas cessam inexoravelmente as suas funções. Ao contrário do que acontece com outros órgãos, a atividade cerebral e do tronco encefálico, depois de cessar, é insubstituível (Campbell, Gillett e Jones, 2001).

Diagnosticar a morte com base na cessação da atividade cerebral e do tronco cerebral não é mais do que reconhecer claramente o fator subjacente ao diagnóstico tradicional de morte por paragem cardio-respiratória.

Em 1995 a Academia Americana de Neurologia (AAN) publicou um protocolo com recomendações (“guidelines “) para o diagnóstico de morte encefálica, que representa uma revisão sobre o tema com base nas evidências científicas. No Brasil a normatização da ME, foi delegada ao Conselho Federal de Medicina (CFM). Essa normatização foi estabelecida na publicação da diretriz 1480 do CFM e segue quase completamente as diretrizes firmadas pela Academia Americana de Neurologia.

A morte encefálica é recuperável?

Nunca foi demonstrado ou relatado um único caso de recuperação de qualquer função cerebral e ou do tronco cerebral após o diagnostico de ME utilizando os critérios de AAN de 1995.

Como é realizado o diagnostico de ME?

Para dar inicio ao protocolo são necessários, os seguintes pré-requisitos:

1. O Coma deve ter causa conhecida e ser de caráter irreversível.

Nos adultos, as causas mais comuns que levam ao estado de morte encefálica são o traumatismos  crânio-encefálico grave e a hemorragia subaracnóidea (geralmente por ruptura de aneurisma), totalizando, no seu conjunto, 80 por cento dos casos (Pallis e Harley, 1996; Wijdicks, 2001).

Outras causas possíveis são as hemorragias intracerebrais, tumores cerebrais, encefalite fulminante, meningite bacteriana e encefalite anóxica-isquémica após paragem cardio-respiratória (Pereira, Lobo e Dias, 2002). Portanto não é iniciado o protocolo quando a causa do coma e desconhecido.

1. Ausência de hipotermia (baixa temperatura corporal), hipotensão (baixa pressão) ou alterações   metabólicas, oxigenação e ventilação adequadas.

2. Ausência de intoxicação exógena ou efeito de medicamentos depressores do Sistema Nervoso Central. (são retirados todos os medicamentos que tenham essa ação 12 horas a 24 horas antes de dar inicio ao protocolo de ME)

Somente se os três pré-requisitos referidos anteriormente, se verificarem, é que se deverá iniciar a execução das provas de morte encefálica.

Estas provas clinico-neurológicas são executadas por 2 Médicos diferentes, com intervalo de 6 horas (adultos), sendo obrigatório que um deles seja neurologista ou neurocirurgião.

O diagnóstico clínico-neurológico consiste na verificação da ausência de todos os reflexos dependentes do tronco cerebral, designadamente fotomotores, óculo-cefálicos, óculo-vestibulares, corneo-palpebrais, faríngeo e traqueal (após estimulação traqueobrônquica), ausência de resposta motora à estimulação dolorosa na área dos nervos cranianos e, finalmente, ausência de respiração espontânea após desconexão do ventilador, denominada prova da apneia.

A finalidade da prova da apneia é confirmar a ausência de qualquer movimento inspiratório, por parte do doente, à medida que a concentração sérica de dióxido de carbono aumenta o que constitui o estímulo normal para ativar o centro respiratório, localizado no tronco cerebral.

São necessários exames complementares para o diagnostico de ME?

No Brasil é obrigatório pelo menos um exame complementar, para demonstrar a inatividade elétrica, metabólica ou perfusional do encéfalo.

Quais são esses exames complementares?

Eletroencefalografia, Doppler transcraniano, Arteriografia das carótidas e vertebrais, Gammagrafía cerebral, Arteriografia por subtração digital, Angiografia com TAC helicoidal o com RNM.

Qual é a hora da morte na ME?

Hora da morte é aquela do término do ultimo exame. Após esse exame e desde o ponto de vista legal, ético e moral, o paciente e considerado cadáver.

Que ocorre com os pacientes em ME?

O que se verifica é que todos os doentes, sem exceção, evoluem para a assistolia cardíaca (parada cardíaca), a maioria ao fim de algumas horas ou poucos dias, apesar da ventilação assistida (Pallis, 1983; Hung e Chen, 1995).

Portanto…. conclui-se que os pacientes em morte encefálica, são mortos que mantém as funções corporais artificialmente.

Quais são os órgãos e tecidos que podem ser captados atualmente após o diagnostico de ME no RN?

Coração, Fígado, Rins e Córneas.

Seis receptores que aguardam na fila de transplantes, podem ser beneficiados com uma única doação de múltiplos órgãos!

Que pensam as religiões com respeito, a doação de órgãos para transplante?

Todas as religiões encorajam a doação de órgãos e tecidos como uma atitude de preservação da vida e um ato caridoso de amor ao próximo.

“Não pode evitar-se o vento, porém pode construir-se moinhos” (Provérbio holandês)

Elizabeth López Carrillo é médica integrante da equipe de transplantes de órgãos do Rio Grande do Norte

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Categoria(s): Artigo

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