Caro Carlos Santos e leitores do Blog:
Entre 2001 e 2008, trabalhei no PAM do Bom Jardim (Mossoró), no serviço de Hanseníase. Entre 2004 e 2007, estudamos a geografia da doença, marcando as coordenadas (X e Y), para avaliar a real distribuição dos casos no município.
A partir desses mapas, realizamos várias campanhas de diagnóstico. As favelas e "assentamentos" urbanos não fizeram parte desse trabalho por problemas de endereço, serem descobertos de Programa Saúde da Família (PSF) e por motivos de insegurança.
A hanseníase tem tratamento e cura. Foi eliminada dos países ricos antes do primeiro antibiótico ser inventado, com medidas de isolamento, saneamento e melhora nas condições de vida e habitação.
Hoje, existe apenas em países pobres.
O Brasil é o segundo país em número de casos, e Mossoró está entre as 50 cidades do país com maior incidência da doença.
Isso tudo é pra fazer alguns comentários sobre a foto e artigo acima: Mossoró apresenta IDH (Índice de desenvolvimento humano) incompatível com sua riqueza; os casos de hanseníase estão concentrados em áreas com baixo IDH; as áreas de maior concentração dos casos estão localizadas em pontos mais pobres dos bairros Barrocas, Santo Antonio, Bom Jardim, Belo Horizonte, Carnaubal, Lagoa do Mato.
Em abril desse ano, visitei esses locais com um pesquisador americano que trabalha com hanseníase e ficou impressionado como a cidade "não tem miséria".
Acostumado a encontrar a doença em bolsôes de miséria da Índia, Salvador, Recife, África… encontramos, e muito, apenas na periferia, em bolsões de pobreza, não de miséria, com baixo IDH.
Ou seja, Mossoró está "comido" de hanseníase mesmo quando não se procura nos grandes bolsões de miséria.
Imagine se o poder público chegar lá… E se um outro doido (meu juízo já acabou) resolve ir procurar hanseníase, tuberculose, impingem, pereba, hepatite… E se morássemos numa cidade compatível com a riqueza que possui… E se…
Márcia Célia – Webleitora e médica
Nota do Blog – O comentário esclarecedor e estarrecedor da webleitora é uma referência à postagem "A Mossoró da pobreza e do descaso, longe dos seus olhos" postada ontem. Veja AQUI.
Muito bem DOUTORA,Mossoró carece de pessoas como a senhora e alguns outros poucos médicos,que se preocupem com a saúde e com a prestação de serviço que a sua profissão se propõe,como a senhora sabe,a grande maioria dos colegas,seus,estão mais preocupados em encher os CAÇUÁS,mesmo sabedores,que se pode muito bem,fazer as duas coisas.
Isso tudo é reflexo de uma oligarquia político-familiar numerada, que há 60 anos detém o comando da municipalidade. Coitado dos mossoroenses! São masoquistas de plantão.