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domingo - 17/03/2019 - 05:26h

Mulher e feminicídio

Por Raíssa Tâmisa

Acho lindo quando um homem diz: mas eu não sou machista! Meu amor, eu sou mulher, feminista, e vez ou outra me pego sendo machista.

Presta atenção rapidinho numa coisa aqui: a gente cresceu e ainda vive numa cultura machista. Você homem não morre, nem sofre violência pelo fato de ser homem. O nome disso é cultura do estupro.Estamos mergulhados, todos, num cenário de inferiorização da mulher. O fato de você precisar pensar que poderia ser sua mãe, irmã ou vó, pra rever o modo como age com mulheres, também é cultura do estupro.

O que você faz é vincular seu comportamento a uma experiência pessoal e afetiva, e isso tá longe de ser igualdade. Pressupõe que todo homem precisa dessa experiência pra não ser um escroto. Isso tá longe de ser empatia.

A necessidade é de se reeducar hoje pra reverter o cenário o máximo que a gente puder. E isso é um trabalho meu e seu. As próximas gerações é que poderão dizer que não são machistas se a gente cuidar disso logo. O que não deixa de ser um processo longo, lento e constantemente diminuído.

E é como vem sendo tratadas todas as pautas que nos dizem respeito, com desdém. Procure saber o quanto de violência contra a mulher foi cometida nesse oito de março. É ou não é um deboche simbólico, um recado para diminuir a causa?

Dizer pra uma mulher, como quem merece ganhar uma medalha, que não é machista, pasme, é ser. Esse feito não está consolidado nem na gente ainda, imagina em vocês homens.

Com licença que ainda não deu pra engolir… 130 registros de feminicídios em 2019 até agora, março, abafados pela única palavra de ordem do momento. Como se não houvesse pauta. E se há, tem menos importância. Ah, mas Zé de Abreu… Foda-se Zé de Abreu.

O que ele tinha que fazer ali era aproveitar qualquer espaço de fala, seja de pergunta ou ovação, pra passar a bola pro ato. Repetir que o assunto é elas e delas, e que veio só pra prestigiar e assistir. O mínimo, era o mínimo!

O que o homem faz? Palanque.

É ser grossa pedir pra baixar um pouco a bola?

]Então, reduza com parcimônia a circunferência.

Beijo.

Raíssa Tâmisa é cineasta de origem potiguar

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Raíssa Tâmisa diz:

    Obrigada!

  2. Honório de Medeiros diz:

    Contra fatos, não há argumentos!

  3. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Isso mesmo Cara Tâmisa, todos nós, homens e mulheres partícipes diretos e indiretos na secular interação social. Precisamos isso sim, buscarmos de todas as formas e, termos efetiva consciência do quanto, ainda em pleno século XXI, a cultura não só do machismo, mais ainda do racismo e de todas as não empatias sócio/culturais, infelizmente, continua internalizada em nossos corações e mentes….!!!

    Nesse contexto, não apenas a educação formal colabora e ainda se faz motivadora desse quadro de pouca mudança e efetividade na implantação do já conquistado em termos legais e institucionais. Mais ainda, deveras se constata, o núcleo familiar é destaque absoluto e imorredouro dos desacordos existenciais entre o que a Lei permite e a práxis atávica práxis, sobretudo, no âmbito da tradicional família judaico cristã espelhadas no estuário do caudaloso e perene rio que o imobilismo continua a destacar.

    Nesse quadro de poucas conquistas efetivas, as estatísticas, falam e ecoam bem mais que discurso e palavras vazias eivadas de versões as mais espetaculosos e fantasmagóricas, vez que, por exemplo, relatório da Organização Internacional do Trabalho aponta que mulheres tendem a ter responsabilidade maior em cuidar da família, o que piora seu nível de emprego.

    A última deforma trabalhista (OBRIGANDO, NA PRÁTICA, MULHERES GRAVIDAS AO TRABALHO INSALUBRE, ENTRE OUTRAS BARBARIDADES) , infelizmente, aprovada pelos canalhas/golpista que atualmente intentam nos desgovernar definitivamente pra que voltemos à idade média, bem estratifica o caos que se descortina no horizonte.

    Nessa toada, claro, não há soluções simples e (ou) mágicas que possam adequar aos problemas de ordem sócio/cultural, quer pela sua natureza gênero e sua complexidade multissecular, são sabidamente complexos. senão a ideia da necessidade vital da união das minorias em torno da educação e informação de qualidade, que possa pari passu viabilizar uma nova educação e visão interativa no âmbito da tradicional e milenar instituição familiar, sob pena de continuarmos assistindo dia-a-dia o aprofundamento das barbaridades e obscurantismos de toda ordem.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Raíssa Tâmisa, parabéns!
    Na sua voz jovem, a esperança!
    Tão bom ver você aqui, defendendo nossa integridade, nossa igualdade. Que não se atrevam os covardes.
    Logo acima, o prof. Odemirton traz o tema relevante, em grande importância.
    Estamos atentos, procurando mostrar que o nosso lugar, espaço e direitos não diferem dos ocupados pelos homens.
    Os que machucam mulheres e as matam são bárbaros
    fracassados que tentam subjugar quem tem menos força física.
    Devemos encorajar as mulheres para não desistirem das Ações, diante de promessas que não serão cumpridas.
    Na educação podemos acabar com esses machistas que ainda não entenderam que são substâncias degradantes, sujas!

  5. Jailton Queiroz diz:

    Texto belíssimo, parabéns Raissa Tâmisa

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