Por Honório de Medeiros
“O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol” (Eclesiastes, 1:9)
Não há nada de novo sob o sol.
Seguimos aparentemente em frente, para destino ignorado, permanecendo os mesmos de tanto tempo atrás, enquanto as formas, os instrumentos, os meios, que são nossa criação, para lidar conosco, fenômenos e coisas, dos quais somos reféns, tornam-se cada vez mais complexos e fugazes, em uma espiral, um “vir-a-ser”, como diria Nietzche, de proporções incalculáveis.
Essência imutável, forma evanescente.
Leio em Os Crimes de Paris, de Dorothy e Thomas Hoobler, acerca de Vidocq, um personagem maior que sua vida. “Depois de cometer vários crimes na juventude, trocou de lado e se aliou à polícia. Foi o primeiro chefe da Sureté, o equivalente francês da organização civil policial, e modelo para vários personagens da literatura”, dizem-me eles.
Fascínio antigo esse meu por Vidocq. Camaleônico, sofisticado, indecifrável, também foi o criador da primeira agência de detetives do mundo, o “Bureau de Reinseignements”, ou Agência de Inteligência. Que outro, além de um francês, criaria uma agência de detetives com esse nome?
Inspirou Maurice Leblanc na criação do célebre Arsène Lupin, “O Ladrão de Casaca” que eu lia, fascinado, na adolescência, graças à bondade de um colega de ginásio, na Mossoró que não existe mais. Como inspirou, também, além de muitos outros, tais como Alexandre Dumas, Victor Hugo e Eugène Sue, o ainda mais célebre personagem de Balzac, Vautrin, presente em vários livros da Comédie Humaine.
Em certo momento, lá para as tantas, Vautrin explica o mundo e os homens:
“-E que lodaçal! – replicou Vautrin. – Os que se enlameiam em carruagens são honestos, os que se enlameiam a pé são gatunos. Tenha a infelicidade de surrupiar alguma coisa e você ficará exposto no Palácio da Justiça como uma curiosidade. Furte um milhão e será apontado nos salões como um modelo de virtude. Vocês pagam 30 milhões à polícia e à justiça para manter essa moral… Bonito, não é?”
Dizia minha mãe: “vão-se os anéis, permanecem os dedos…”
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN
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