Por Marcos Pinto
É vastíssima a bibliografia com largo referencial à etnia Tapuia Paiacus da antiga aldeia jesuíta do Lago Pody. Há um envolvente enredo entre a saga dos primeiros colonizadores e essa belicosa indiada.. Compulsando todas as obras dos historiadores que tratam das primitivas relações desses aborígenes e a sua inter-relação no processo inicial de ocupação do solo apodiense, não há registro da presença de sacerdote acompanhando a pioneira família família Nogueira Ferreira, comandada por Manoel Nogueira Ferreira.
Em Janeiro de 1680 empreendera fantástica trajetória, tendo como ponto de partida a cidade de Sra. das Neves, atual capital paraibana. Oficializaram a fenomenal investida aos sertões bravios do Apodi em 19 de Abril de 1680, data do requerimento com pedido de concessões de Datas de sesmarias.
O célebre historiador brasileiro Ernesto Enes faz amiudadas referências às incursões de tropas militares ao Lago Pody (Primeiro referencial toponímico) no séc. XVII, em sua memorável obra intitulada “As guerras nos Palmares” – Coleção Brasiliana – 1º Vol. -Livro 127. Em 1689, de tanto sofrer ataques e revezes da indiada, o Entradista Manoel Nogueira e família bateram em retirada, indo fixar moradia na região do Jaguaribe, onde ficaram aquartelados no Forte São Francisco Xavier, situado onde hoje se encontra a cidade de Russas. Segundo nos relatam documentos oficiais citados pelo dito historiador, em 1689 formou-se uma tropa militar comandada por Pedro de Albuquerque da Câmara, destacando-se as presenças de Bernardo Vieira de Melo, Valentim tavares Cabral e Agostinho césar de Andrade.
Tomaram parte na marcha que se fez saindo do Olho D´água , no Assu, aos rios Paneminha (Atual rio Umari, que banha Upanema) e Panema Grande (Atual rio Apodi) até a lagoa Pody. Nesse lugar, houve intenso entrevero bélico que durou três dias, no qual participaram os soldados, tendo a indiada debandado para o Ceará.
Participaram desse embate os bravos soldados João do Monte (Pág. 409) e Luiz da silveira Pimentel (Pág. 269). Esse combate é mencionado pelo grande historiador mossoroense Vingt-Un Rosado, em artigo publicado no jornal “O Mossoroense”, edição de 01.12.1946, intitulado “Gente do seculo XVII na Ribeira de Mossoró”. Há um manancial de fatos históricos desses tapuias paiacus na respeitável obra “História da Companhia de Jesus no Brasil ” – Tomo V, de autoria do Padre jesuíta Serafim Leite, abordando o trabalho de catequese pioneira feita pelos Padres jesuítas Philipe Bourel e João Guincel.
Na saga dos martírios infligidos pelas doenças que infestavam as primitivas matas do sertão Apodiense, aparece a exponencial figura do sacrossanto padre Jesuíta PHILIPE BOUREL, que, segundo alguns historiadores, teria sucumbido à ação devastadora da febre amarela, naqueles remotos dias grassando pela densa vegetação nativa. Segundo relato histórico existente no volume V da Coleção “HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL” – Séculos XVII e XVIII, de autoria do Pe. Jesuíta SERAFIM LEITE, o Padre PHILIPE BOUREL faleceu no lugar denominado de “ALDEIA DO LAGO PODY” a 15 de Maio de 1709.
O venerando Padre PHILIPE BOUREL nasceu na cidade denominada “colônia”, na Alemanha, no ano de 1659. Entrou para a Companhia de Jesus, cujos padres e missionários eram conhecidos como jesuítas, no dia 19 de Março de 1676, com a tenra idade de 17 anos. Quando aportou no Brasil, foi trabalhar nas Missões Jesuítas do lugar conhecido como “RODELAS DO SÃO FRANCISCO”.
Seguindo suas memoráveis e cristãs pegadas, encontramo-lo situado no Assú-RN, onde chegou no mês de dezembro de 1699, acompanhado do Padre JOÃO GUINCEL, sendo recebidos de forma hospitaleira e gentil pelo Mestre-de-Campo MANUEL ÁLVARES DE MORAIS NAVARRO, comandante do famigerado “Terço dos Paulistas”, aquartelado na ribeira do Assú. Aportara na imberbe Capitania do Rio Grande já imbuído de catequizar os belicosos índios Tapuias Paiacus, da nação Tarairiú, vilados pelo Ouvidor MARINHO no ano de 1688, em lugar que ficou conhecido como “Córrego da Missão”.
No Arquivo Histórico Ultramarino,em Lisboa (Portugal) existe, meticulosamente guardada na Caixa RN-1, 07/04/1700, uma certidão lavrada pelo próprio padre Philippe Bouerel, na sua Missão do Podi, de cujo documento existe um Microfilme na Divisão de Pesquisa Histórica da Universidade Federal de Pernambuco. A consagrada e celebrada historiadora FÁTIMA MARTINS LOPES transcreveu, na íntegra, dito documento histórico, inserido no livro de sua autoria intitulado “ÍNDIOS, COLONOS E MISSIONÁRIOS NA COLONIZAÇÃO DA CAPITANIA DO RIO GRANDE DO NORTE- pág. 254 – COLEÇÃO MOSSOROENSE – Série C – volume 1379 – Outubro de 2003.
Vejamos: “Certifico eu o Pe. Philipe Bourel, da Companhia de Jesus que vindo eu no mês de dezembro dos anos de 1699 do Assu para a Missão do Podi da nação Payaku pelo grandíssimo risco que havia, por ser necessário passar pela terra dos Maroduzes, por outro nome Jandoims nação fera e bárbara que não somente se tinhão gabado de me ver de matar a mim, mas em efeito depois me acometerão na minha Missão atirando com muitas espingardas, matando e cativando muita gente desta minha Missão. Fui acompanhado pelo Capitão Joseph de Moraes, o qual vindo por cabo da mais tropa não faltou com alguma de sua obrigação provindo os postos, e ordenando sentinelas com muito cuidado; além de que por espaço de mês e meio não havendo nestes desertos nem moradores nem sustento me acudiu com todo o necessário buscando o com grande enfado e trabalho pelos matos; não menos acodindo assim por suas próprias mãos, como por um escravo que vinha a sua conta a levantar logo casa de sobrado para minha morada, e por isto assim lhe passei esta por mim assinada neste Podi nos anos de 1700 aos 7 do mês de Abril.”
Philippe Bourel da Companhia de Jesus Missionário da Igreja de São João Batista na Aldeia do Podi.
Imagine-se a precária e calamitosa situação vivida pelo Padre Philippe Bouerel. A situação de conflito constante entre colonos, indígenas e Missionários jesuítas levou o governo central a expedir o ALVARÁ RÉGIO DE 23 de novembro de 1700, ordenando que cada Missão recebesse uma légua de terra em quadra para o sustento dos índios e Missionários residentes, liberando legalmente o restante da terra para a colonização e obtendo a garantia do suprimento de mão de-obra aos colonos.
Marcos Pinto é escritor e advogado
A cada texto publicado, cresce nossa admiração pelo grande pesquisador que é Marcos Pinto…
Parabéns, amigo!
Obrigado amigo David Leite, emblemático detentor do DNA da tradicional e indômita família OLIVEIRA LEITE, pioneira no processo de colonização e ocupação do solo mossoroense. Forte abraço.
Assino o comentário de David, como se fosse meu. Esse Marcos Pinto é um Galo feito, no terreiro da pesquisa. cada leitura, uma surpresa. Parabéns!
Às instigantes manifestações de apreço dos ínclitos amigos David Leite e François Silvestre, dedico a inconfundível rubrica da louvável reciprocidade. Ao primo François, que é neto materno do grande e saudoso Joaquim Gomes Pinto, que foi o mesmo boníssimo “Quinquim do Cajuais” (Alusão toponímica à sua famosa fazenda “Cajuais”) faço uma pequena observação: Apesar de sermos do clã galináceo, temos a vontade de sempre sermos novinhos, não passando de Pintos, o que nos livra de termos que passar pelos estágios de frango até estridentes galos, com grandes esporões, exibidos como arma do bom combate na disputa pelas rechonchudas e poedeiras penosas. Amenidades…