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domingo - 31/07/2016 - 09:33h

Nas pegadas dos Tapuias Paiacus da Ribeira do Apodi (II)

Por Marcos Pinto

É  vastíssima  a  bibliografia  com  largo  referencial   à  etnia   Tapuia Paiacus  da  antiga  aldeia  jesuíta  do  Lago  Pody.   Há  um  envolvente  enredo  entre  a  saga  dos  primeiros  colonizadores   e  essa  belicosa  indiada..  Compulsando  todas   as  obras  dos  historiadores   que  tratam  das  primitivas  relações  desses  aborígenes   e   a  sua  inter-relação  no  processo  inicial  de  ocupação do  solo  apodiense,  não  há  registro  da  presença  de  sacerdote  acompanhando  a   pioneira  família  família   Nogueira  Ferreira,  comandada  por   Manoel  Nogueira  Ferreira.

Em Janeiro  de  1680  empreendera  fantástica  trajetória,  tendo  como  ponto de  partida    a  cidade  de  Sra. das  Neves, atual  capital  paraibana.  Oficializaram  a  fenomenal  investida  aos  sertões  bravios  do  Apodi  em  19 de  Abril  de  1680, data  do  requerimento   com  pedido  de  concessões  de  Datas  de  sesmarias.

O  célebre  historiador brasileiro  Ernesto  Enes  faz  amiudadas   referências  às  incursões  de   tropas  militares  ao  Lago  Pody (Primeiro  referencial  toponímico)   no séc. XVII, em sua  memorável  obra  intitulada  “As  guerras  nos  Palmares” – Coleção  Brasiliana –  1º  Vol.  -Livro  127.  Em  1689,  de  tanto sofrer  ataques  e   revezes  da  indiada, o  Entradista  Manoel   Nogueira  e  família   bateram  em  retirada,   indo  fixar  moradia  na  região  do Jaguaribe, onde  ficaram  aquartelados  no  Forte   São  Francisco  Xavier, situado  onde hoje  se  encontra  a  cidade  de  Russas.  Segundo nos  relatam documentos  oficiais   citados  pelo  dito  historiador, em  1689  formou-se  uma  tropa  militar  comandada  por  Pedro de  Albuquerque  da  Câmara,  destacando-se  as  presenças  de  Bernardo  Vieira  de Melo, Valentim  tavares Cabral e  Agostinho  césar  de  Andrade.

Tomaram   parte na  marcha  que  se  fez  saindo  do  Olho  D´água , no  Assu, aos  rios  Paneminha (Atual   rio  Umari, que  banha  Upanema)  e  Panema  Grande (Atual rio   Apodi)  até  a  lagoa  Pody.   Nesse  lugar, houve  intenso  entrevero  bélico  que  durou  três dias, no  qual  participaram  os  soldados, tendo a   indiada   debandado  para   o  Ceará.

Participaram  desse  embate  os  bravos  soldados   João  do  Monte (Pág. 409)  e   Luiz  da  silveira  Pimentel (Pág. 269).   Esse  combate  é   mencionado    pelo    grande  historiador   mossoroense  Vingt-Un  Rosado, em  artigo  publicado  no  jornal  “O  Mossoroense”, edição  de  01.12.1946, intitulado  “Gente  do  seculo   XVII  na  Ribeira  de  Mossoró”. Há  um   manancial  de  fatos  históricos   desses  tapuias  paiacus   na  respeitável  obra  “História  da  Companhia  de  Jesus  no  Brasil ” – Tomo   V,  de autoria  do  Padre  jesuíta  Serafim  Leite,  abordando  o  trabalho de  catequese  pioneira  feita  pelos  Padres  jesuítas  Philipe  Bourel  e  João  Guincel.

Na saga dos martírios infligidos pelas doenças que infestavam as primitivas matas do sertão Apodiense, aparece a exponencial figura do sacrossanto padre Jesuíta PHILIPE BOUREL, que, segundo alguns historiadores, teria sucumbido à ação devastadora da febre amarela, naqueles remotos dias grassando pela densa vegetação nativa. Segundo relato histórico existente no volume V da Coleção “HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL” – Séculos XVII e XVIII, de autoria do Pe. Jesuíta SERAFIM LEITE, o Padre PHILIPE BOUREL faleceu no lugar denominado de “ALDEIA DO LAGO PODY” a 15 de Maio de 1709.

O venerando Padre PHILIPE BOUREL nasceu na cidade denominada “colônia”, na Alemanha, no ano de 1659. Entrou para a Companhia de Jesus, cujos padres e missionários eram conhecidos como jesuítas, no dia 19 de Março de 1676, com a tenra idade de 17 anos. Quando aportou no Brasil, foi trabalhar nas Missões Jesuítas do lugar conhecido como “RODELAS DO SÃO FRANCISCO”.

Seguindo suas memoráveis e cristãs pegadas, encontramo-lo situado no Assú-RN, onde chegou no mês de dezembro de 1699, acompanhado do Padre JOÃO GUINCEL, sendo recebidos de forma hospitaleira e gentil pelo Mestre-de-Campo MANUEL ÁLVARES DE MORAIS NAVARRO, comandante do famigerado “Terço dos Paulistas”, aquartelado na ribeira do Assú. Aportara na imberbe Capitania do Rio Grande já imbuído de catequizar os belicosos índios Tapuias Paiacus, da nação Tarairiú, vilados pelo Ouvidor MARINHO no ano de 1688, em lugar que ficou conhecido como “Córrego da Missão”.

No Arquivo Histórico Ultramarino,em Lisboa (Portugal) existe, meticulosamente guardada na Caixa RN-1, 07/04/1700, uma certidão lavrada pelo próprio padre Philippe Bouerel, na sua Missão do Podi, de cujo documento existe um Microfilme na Divisão de Pesquisa Histórica da Universidade Federal de Pernambuco. A consagrada e celebrada historiadora FÁTIMA MARTINS LOPES transcreveu, na íntegra, dito documento histórico, inserido no livro de sua autoria intitulado “ÍNDIOS, COLONOS E MISSIONÁRIOS NA COLONIZAÇÃO DA CAPITANIA DO RIO GRANDE DO NORTE- pág. 254 – COLEÇÃO MOSSOROENSE – Série C – volume 1379 – Outubro de 2003.

Vejamos: “Certifico eu o Pe. Philipe Bourel, da Companhia de Jesus que vindo eu no mês de dezembro dos anos de 1699 do Assu para a Missão do Podi da nação Payaku pelo grandíssimo risco que havia, por ser necessário passar pela terra dos Maroduzes, por outro nome Jandoims nação fera e bárbara que não somente se tinhão gabado de me ver de matar a mim, mas em efeito depois me acometerão na minha Missão atirando com muitas espingardas, matando e cativando muita gente desta minha Missão. Fui acompanhado pelo Capitão Joseph de Moraes, o qual vindo por cabo da mais tropa não faltou com alguma de sua obrigação provindo os postos, e ordenando sentinelas com muito cuidado; além de que por espaço de mês e meio não havendo nestes desertos nem moradores nem sustento me acudiu com todo o necessário buscando o com grande enfado e trabalho pelos matos; não menos acodindo assim por suas próprias mãos, como por um escravo que vinha a sua conta a levantar logo casa de sobrado para minha morada, e por isto assim lhe passei esta por mim assinada neste Podi nos anos de 1700 aos 7 do mês de Abril.”

Philippe Bourel da Companhia de Jesus Missionário da Igreja de São João Batista na Aldeia do Podi.

Imagine-se a precária e calamitosa situação vivida pelo Padre Philippe Bouerel. A situação de conflito constante entre colonos, indígenas e Missionários jesuítas levou o governo central a expedir o ALVARÁ RÉGIO DE 23 de novembro de 1700, ordenando que cada Missão recebesse uma légua de terra em quadra para o sustento dos índios e Missionários residentes, liberando legalmente o restante da terra para a colonização e obtendo a garantia do suprimento de mão de-obra aos colonos.

Marcos Pinto é escritor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. David Leite diz:

    A cada texto publicado, cresce nossa admiração pelo grande pesquisador que é Marcos Pinto…
    Parabéns, amigo!

  2. Marcos Pinto. diz:

    Obrigado amigo David Leite, emblemático detentor do DNA da tradicional e indômita família OLIVEIRA LEITE, pioneira no processo de colonização e ocupação do solo mossoroense. Forte abraço.

  3. François Silvestre diz:

    Assino o comentário de David, como se fosse meu. Esse Marcos Pinto é um Galo feito, no terreiro da pesquisa. cada leitura, uma surpresa. Parabéns!

  4. Marcos Pinto. diz:

    Às instigantes manifestações de apreço dos ínclitos amigos David Leite e François Silvestre, dedico a inconfundível rubrica da louvável reciprocidade. Ao primo François, que é neto materno do grande e saudoso Joaquim Gomes Pinto, que foi o mesmo boníssimo “Quinquim do Cajuais” (Alusão toponímica à sua famosa fazenda “Cajuais”) faço uma pequena observação: Apesar de sermos do clã galináceo, temos a vontade de sempre sermos novinhos, não passando de Pintos, o que nos livra de termos que passar pelos estágios de frango até estridentes galos, com grandes esporões, exibidos como arma do bom combate na disputa pelas rechonchudas e poedeiras penosas. Amenidades…

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