domingo - 24/08/2025 - 04:30h

No dia em que Mossoró amanhecer sem água

Por Bruno Ernesto

Capa de livro lançado nos anos 70 (Reprodução de Bruno Ernesto)

Capa de livro lançado nos anos 70 (Reprodução de Bruno Ernesto)

Às 23h53min do último dia 13 de agosto de 2025, após mais de 200 anos, a ideia se materializou.

Enfim, as águas do Rio São Francisco tocam pela primeira vez o solo do Rio Grande do Norte, encerrando um longo período de incertezas e inaugurou uma nova era para nós.

A temática seca não carece de registros. Aliás, foi justamente por se registrar muito, e insistir mais ainda, que essa ideia agora é realidade.

As grandes secas que assolaram a região Nordeste dizimaram gente, bicho e plantas. E sonhos, muitos sonhos. As mais severas que se tem notícia, são as dos anos de 1877, 1915 e 1932.  Se a seca em si é terrível, essas três foram cruéis.

Mossoró mesma foi o palco de um verdadeiro desastre humanitário na seca de 1877, cuja história registrei no texto Extramuros, publicado neste mesmo espaço em 01/10/2023  (veja AQUI), e pontuei que antes da construção do cemitério público São Sebastião no ano de 1869 – o cemitério velho,  idealizado pelo Vigário Rodrigues -, os sepultamentos que se davam nos adros das igrejas da Mata Fresca, Capela de Santa Luzia, Casa de Oração do Bairro da Igreja Velha e, por fim, na Matriz.

Antes dessa seca histórica, o cemitério São Sebastião terminava onde hoje está localizada a sua capela, e que serve de mausoléu para sacerdotes da paróquia.

A sua dimensão atual se estabeleceu justamente nos anos de 1877-1879, ampliação feita em razão da grande seca que vitimou grande número de pessoas em Mossoró, havendo registros de que centenas de pessoas eram sepultadas diariamente em grandes valas abertas detrás da capela do cemitério.

Milhões de milhões de pessoas morreram na esperança desse dia chegar, e chegou.

Aproveito o fato histórico para trazer um pequeno registro de uma outra luta travada desde sempre por Mossoró, que também padece do mesmo problema. A falta d’água sempre desafiou a terra de Santa Luzia.

Meu pai, assim como tantos, encampou essa luta desde que chegou em Mossoró nos anos de 1960, para cursar Agronomia na ESAM-UFERSA.

Ele sempre foi um entusiasta e esperançoso de que a solução para esse problema era viável e de relativa facilidade, e representaria um grande avanço no desenvolvimento econômico e social, tanto na indústria, quanto na irrigação. Bastava boa vontade.

E isso é facilmente percebido na nota introdutória da edição de 1996 da livro “No dia em que Mossoró amanhecer sem água”, volume 913, da Coleção  Mossoroense, em conjunto com o professo Vingt-Un Rosado, de um artigo científico de autoria do meu pai e publicado pela primeira vez no final dos anos de 1970, início dos anos 1980, quando anotou que “Assim não está descartada a idéia de abastecer Mossoró com água de mananciais superficiais, fazendo chegar até aqui através de adutoras, pensando-se também na irrigação e na indústria. Atualmente, são 24 poços da CAREN e 2 poços da ESAM. 17 da CAERN estão em funcionamento, e 1 da ESAM, totalizando, portanto, 18 poços em funcionamento.”

No final da década de 1970, ele idealizou a construção daquela que hoje uma das principais fontes de abastecimento de água potável de Mossoró e do seu entorno (Assú e Serra do Mel), a Adutora Jerônimo Rosado, que distribui as águas da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que é justamente quem irá represar boa parte das águas vindas do Velho Chico.

Meu pai, se estivesse vivo, certamente estaria chorando de alegria e vendo, enfim, um dos seus sonhos se tornar realidade, para Mossoró nunca mais amanhecer sem água.

Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

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