No último domingo (16), no Estádio Morumbi em São Paulo-SP, no clássico da semifinal São Paulo 0 x 2 Corínthians pelo Campeonato Paulista 2017, um lance à parte gerou e gera polêmica.
O zagueiro Rodrigo Caio dividiu bola com seu goleiro (Renan) e o atacante adversário Jô. O árbitro Luiz Flávio de Oliveira entendeu que o corintiano teria pisado o goleiro e puxou cartão amarelo para adverti-lo, punição que o deixaria de fora da segunda partida entre ambas equipes.
Mas Caio interveio e ponderou ao árbitro, que ele e não Jô, pisara involuntariamente no goleiro.
A postura decente de Rodrigo Caio não teve apoio unânime no clube e entre torcedores. “É melhor a mãe dele (rival corintiano) chorando do que a minha em casa”, disse Maicon, companheiro de zaga de Rodrigo Caio.
Situações dessa natureza ocorrem aqui e ali em jogos do futebol europeu. Desse lado do atlântico é comum os aplausos à dignidade e ao chamado fair-play de jogadores alemães, holandeses etc.
Mas entre nós, a decisão de Rodrigo Caio, de ser decente, causa até a ira de muitos torcedores.
O caso me remete a uma entrevista muito antiga, em que o ex-jogador Zico falava de sua experiência como jogador e treinador no Japão. Deparou-se com os rigores éticos e morais da sociedade nipônica dentro das quatro linhas. Também dentro das quatro linhas, que se diga.
Ele orientava jogadores de que na cobrança de falta, a barreira (atletas enfileirados e frontalmente colocados em contraposição ao batedor) deveria avançar e encurtar espaço, diminuindo chances de acerto do adversário.
Mas os jogadores japoneses não entendiam o porquê da transgressão da regra que apontava distância deles, na barreria, de 9 metros e 15 centímetros em relação à bola. Para eles, era inadmissível infringir a norma, buscar atalho à malandragem brasileira.
Num momento em que discutimos e testemunhamos a implosão da maior indústria da corrupção no setor público/político de todos os tempos, caso da Operação Lava Jato e o papel da Construtora Norberto Odebrecht, observamos que esse país está muito distante da mudança (para melhor) proclamada por todos – da boca para fora.
No cotidiano do esporte, na vida comum, a esperteza teima em revelar nossa face mais verdadeira. Mas preferimos execrar os políticos, transferir responsabilidades.
Se “roubado é mais gostoso”, como uma torcida passou a defender há alguns anos, para justificar título ganho à base de rapinagem, manter a roubalheira lá em cima não deve causar maior espécie. E não causa mesmo.
A Lava Jato vai passar. Teremos uma multidão de figurões impunes, alguns punidos e talvez algumas lições aprendidas; outras tantas ignoradas.
Nos andares de baixo da pirâmide social, é provável que teimemos em acreditar que ser correto é sinônimo de ser trouxa, num relativismo moral que fecha os olhos também aos deslizes de nossos “bandidos de estimação” da política.
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O povo brasileiro não estará 100% civilizado antes do ano 2.500.
E, enquanto o povo for 100% fiel à Lei de Gerson, insistir em NÃO ser educado e civilizado, essa merda não sairá da condição de terceiro mundo.
Texto perfeito ! os brasileiros em geral não gostam de se olhar no espelho, quando vêem o triste reflexo do que é verdadeiramente a sociedade : Seus sórdidos políticos. ( com as raras exceções de praxe ).