• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 18/01/2009 - 18:35h

Nossa Porção Auschwitz – II

"Só o obscuro nos cintila” (Manoel de Barros)

Nietzsche, sabiamente, ensinava que era preciso, às vezes, se criar um caos dentro de si para dar luz a uma estrela cintilante… Pois bem! O caos foi criado – e sei que não é de agora, afinal foram anos e anos de uma irresponsabilidade administrativa criminosa com a saúde do nosso estado (ausência de concursos públicos, salários ridículos e aviltantes, desvalorização da auto-estima do profissional, licitações fraudulentas, etc, etc…).

E as perguntas que fazemos são: estão satisfeitos? Eram esses mesmos os objetivos que vocês queriam atingir? Qual vai ser a grande luz – a estrela cintilante – que surgirá, agora, nas trevas da consciência de cada um?

Nietzsche também nos ensinava a lei do eterno retorno: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande na tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência…”.

Pois bem! A “Nossa porção Auschwitz” – que me permita o jornalista Alex Medeiros roubar o seu brilhante título, quando em 01/09/2006, denunciou que pacientes diabéticos, gente humilde, estavam tendo os membros inferiores amputados, pela falta de acompanhamento nos postos de saúde da nossa capital -, está de volta. Aliás, acho até que ela – Nossa porção Auschwitz – nunca nos deixou…

No entanto, no Auschwitz de Hitler – os campos de concentrações eram equipados com quatro crematórios e câmaras de gás, que podiam receber até 2500 prisioneiros por turno. O extermínio era feito rápido.

Talvez, por ainda existir um mínimo de compaixão dos nazistas, para abreviar o sofrimento daqueles prisioneiros deserdados da sorte. Agora, não! Ficamos mais sofisticados e – por que não dizer – menos humanos. Deixamos os nossos pacientes agonizando em casa ou nas macas enferrujadas, esperando que a morte – só a lista de espera de cirurgias do hospital Luiz Antônio beira a casa de 1000 pacientes – chegue como uma bênção para estes também deserdados da sorte.

De quem é a culpa de tudo isso? Dos médicos, que aceitam trabalhar em condições desumanas e não denunciam e quando chegam ao poder também nada fazem pela saúde? Do Ministério Público que, confortavelmente, dos seus gabinetes refrigerados, recomenda – e é tão bom recomendar quando este conselho não nos atinge – que se acabe de uma hora para outra com os contratos com as cooperativas médicas? Do governo, que através dos seus desmantelos e irresponsabilidades lava as mãos e finge que nada está acontecendo?

Mas o danado é que o governo somos nós… Nós é que, a cada quatro anos, votamos sem pensar, sem medir e sem refletir que este ato, este simples ato, poderá destruir a nossa vida, pela forma irresponsável de escolher pessoas totalmente descompromissadas com o interesse do povo, pois o que lhes interessa é o poder, apenas o poder, para tentar curar as suas frustrações de ser humano…

De quem é a culpa?…

Nesta história de horror, em que, cada vez mais, a vida humana vale cada vez menos, somos todos cúmplices e somos todos culpados…

Francisco Edilson Leite Pinto Júnior, professor, médico e escritor – edilsonpinto@uol.com.br)

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Categoria(s): Fred Mercury

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