Por Inácio Augusto de Almeida
Vivemos assustados. Clamamos pela tolerância zero como forma de inibir a delinqüência. Gradeamos as nossas casas e mantemos nossos filhos presos nos jogos televisivos.
Perdemos o direito de ir e vir.
Pagamos o preço da substituição da fraternidade pelo egoÃsmo.
Trocamos o bom gosto pelo exibicionismo, a beleza pela utilidade, a cultura pela riqueza. Só nos interessa o triunfo do materialismo e da ciência. Importamo-nos muito pouco com a religião e a arte. Arte que desintegramos em manias e maneirismos.Buscamos a riqueza pela riqueza e nos esquecemos de que a riqueza vem e a paz se vai. O corpo prospera, mas a alma decai. Porque a riqueza pela riqueza equivale a perda da honra, do senso de beleza.
Transformamo-nos em amontoadores de coisas, nos ocupamos primordialmente em transferir dinheiro alheio para o nosso bolso.
Vivemos assustados. Clamamos pela tolerância zero.
Pregamos ética, mas só praticamos a ética que nos é conveniente.
Condenamos o egoÃsmo alheio e nos esquecemos de que a amizade suplanta a filosofia, e as crianças nos tocam a alma com a música mais profunda que todas as sinfonias.
Um dia descobriremos que os homens não são máquinas.
Neste dia, não mais viveremos assustados, não mais clamaremos por tolerância zero. E transformaremos as grades de nossas casas em balanços onde as crianças, risonhas, sentirão a brisa da tarde num parque de diversão, livres de qualquer medo. E prezaremos mais o aperfeiçoamento da vida do que a vitória na vida.
Se hoje as nossas cidades já não possuem alma, amanhã seremos nós que também não mais teremos alma.
Troquemos a nossa montanha de egoÃsmo, a nossa fraternidade de vitrine, por um grão de humildade, por um pingo de amor ao próximo.
Já é hora de começarmos a reconciliação maior, única maneira de acabarmos com a violência.
E esta reconciliação plena começa dentro de nós mesmos.
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
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