Inegável a especial afeição que nutro pela cidade de Apodi, pois tenho grandes amigos, ex-alunos, bem como atuais. Além do mais, Apodi encanta pelas belezas arquitetônicas que fascinam todo pesquisador.
A primeira providência que tomo quando chego em Apodi, quando dos dias de feira, é ir passear pelos recantos de exposição de produtos à venda, os quais atraem compradores de toda região.
Apodi, como a grande maioria das cidades interioranas do nordeste brasileiro, teve sua colonização efetivada com a pecuária, pois o gado bovino se constituiu no motivo econômico do povoamento da hinterlândia.
Há mais de uma década que resido efetivamente no Estado do Rio Grande do Norte e tenho notado que há nítido avanço da modernidade sobre a feira livre de Apodi, antes conhecida pela imensa quantidade de produtos postos à venda fabricados artesanalmente.
Não encontro com muita facilidade selas, arreios, chibatas, chocalhos, enfim, os produtos criados pela mão do homem da região, os quais caracterizam as tradições da pecuária nordestina. As lamparinas ou candeeiros cedem lugar às lanternas de pilha, as arupembas estão sendo substituídas por peneiras de plástico, os alguidares por panelas de ferro fabricadas longe, bem distantes.
Essa tendência não é seguida apenas em Apodi, pois tenho verificado que na maioria das feiras livres regionais a modernidade vem suprimindo as tradições forjadas em século de labuta no semiárido.
A lógica do capital se impõe sobre a cultura popular como forma de garantir maximização de lucros de empresas que não se importam com o legado de um povo. Apenas buscam atender às exigências de uma era que se caracteriza pela transgressão de valores históricos que definem a essência de uma construção social marcada pela luta estóica contra intempéries avassaladoras, a exemplo das provações proporcionadas pelas secas gigantescas que tantos dissabores trouxeram á população forte do semiárido brasileiro.
José Romero Cardoso é professor-adjunto da Uern e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
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