Por Carlos Santos
Costumo dizer que “o bem volta.” Muitas vezes nem o percebemos, porque ele é simples, espontâneo e de coração. Não tem fatura, não precisa ser visto. Vem do fundo d’alma.
“E o mal?” – podem me perguntar. Fico com o ensinamento ancestral que a vida tem-me confirmado: “O mal por si só se destrói.”
O que nos confunde muito é a crença de que ele, o bem, deva voltar pelas mãos de quem de algum modo ganhou nossa generosidade ou compaixão. Teve o ombro. Por gratidão, digamos.
Seria uma espécie de reconhecimento ou materialização espiritual do toma lá, dá cá.
Ele pode bater à sua porta por outras mãos e formas, não necessariamente por quem você socorreu.
É comum que nem o identifiquemos de imediato ou jamais.
Mas, ele volta.
Mais ele volta.
E se a propaganda do que é feito não for a essência do gesto, para não se revelar um negócio, falso, eis o bem se preparando para retornar;
Principalmente, se nos sentimos mais felizes em ofertá-lo do que aquele que o recebe.
O bem está nas mãos de quem acolheu meu filho com carinho no seu primeiro dia de emprego, mesmo sem saber de minha existência;
Aparece no estresse do trânsito, quando o outro em vez de buzinar de ódio ao perceber uma manobra indevida, se aquieta – compreensível. Perdoa-nos;
Chega no sorriso sincero de quem me atende na lanchonete simples, não apenas por obrigação ou marketing, mas porque vê um rosto angustiado;
Está na oração reservada e sem voz de quem lembra de mim, de você, sem que saibamos, colocando-nos em seu pedido de proteção espiritual;
O bem tem a cara dos que me elegeram pai, não por orfandade, mas porque minha carência era bem maior;
Surge de supetão, assim mesmo de repente, de onde você menos espera, para dividir aquele restinho de refrigerante e o cachorro-quente contigo, na porta da escola;
Acolhe-nos através do amigo que nos faz irmão, pois nosso sangue é universal no sentimento;
Esse bem que conheço não estica o braço diante do semáforo, no vermelho, para deixar tilintar algumas moedas nas mãozinhas encardidas da criança faminta;
Nem pense em encontrá-lo no Instagram, Facebook, Twitter… Lá ele não aparece, por não ter necessidade de se exibir;
E fique certo: jamais existirá na primeira pessoa, visto que não aprendeu a conjugar a vida desse jeito;
O bem volta.
Às vezes a gente nem desconfia…
Mas, ele volta.
Mais ele volta.
O bem vai voltar, mas não porque doei o que me sobrava inútil: a camisa desbotada, o tênis esfolado ou o restante da quentinha que não consegui comer por completo;
Ele voltará porque resolvi dividir para lhe suprir, me desnudei para lhe vestir, renunciei para permitir que brilhes, estiquei o tapete em vez de puxá-lo à sua passagem, à sua vez, ao seu direito de vencer.
E se o bem não voltar?
O bem volta.
Carlos Santos é criador e editor do Blog Carlos Santos (BCS) e autor dos livros “Só Rindo – A política do bom humor do palanque aos bastidores (I e II)”
Desconsidere a postagem anterior. Confundi. Mas… o bem volta. Ah, se volta! É crédito certo e fruto da humildade. O bem volta!
Que beleza! Aqui está o bem tão bem retratado e compartilhado com todos que são do bem e se sentem bem fazendo o bem. Assim mesmo. Com trocadilho e tudo.
Só tenho a agradecer por esta lição.
Obrigado, obrigado mesmo.
Um abraçaço
Perfeita a sua crônica, Carlos Santos! Fiquei surpresa por não ter sido escrita por Marcos Ferreira! Acho que o bem pode vir na forma de uma morte abreviada. Explico: há dois anos, numa ultrassonografia, onde meu pai estava assintomático, foi detectado um tumor raro, agressivo, inoperável, nas vias biliares. Com expectativa de vida de, no máximo, seis meses. Busquei outras opiniões médicas e todas confirmaram a sentença! Minha vida passou como um filme: como aquele homem tão bom, honesto, cheio de virtudes estava num beco sem saída? Rezei pedindo um milagre, pois, só um milagre o livraria. E, caso não fosse possível, que Deus tivesse misericórdia dele. Não me lembro de uma maldade ou má vontade do meu pai com quem quer que fosse. Pelo contrário, com frequência, pessoas contratavam serviços dele e não pagavam e ele deixava pra lá. Antes de dois meses, ele faleceu! Todos os quadros descritos pelos médicos, pelos quais ele passaria, não se concretizaram. O sofrimento que poderia ser longo e destruidor, não aconteceu. Eu entendo que ele estava em dia, espiritualmente, preparado para ir! Todo o bem que ele distribuiu, acredito que foi retribuído, com uma morte rápida. Posso estar errada…
O bem é tão bom, valorozo e puro, que não tem preço, é tão magnânimo que se é dando que se recebe.
Sua crônica de hoje Carlão, estar perfeita. PARABÉNS!!
Já dizia minha avó: “ Fazei o bem sem olhar a quem.” Parabéns pela bela crônica.
O bem é o espelho da alma. Ele retorna sim , visível ou não.
Parabéns, Carlos Santos, texto porreta!
Sempre volta. E as vezes das maneiras mais inesperadas! Mas que volta, volta!!!!!!!!!
Costumo enfatizar em minhas abreviadas prosas que nunca devemos cobrar gratidão, posto que o que nos foi concedido em estado de graça muitas vezes retornará de forma imperceptível. Contudo, não raro, surge o gosto mais amargo da vida – o da Ingratidão. Quando me deparo com esta desventura, espelho-me no “Homem de Nazaré “, o que me traz um manancial de bem estar com DNA Divino.
Uma máxima verdadeira…