Por Jânio Rêgo
Zé Rocha iá à pé ao Ereré que ele ainda chamava de Ypiranga e que antes era chamado de Saco de Orelha (ou ‘Urêia’).
Botava uma muda de roupa nova, trocava o chapéu de palha por um de massa e descia para o Amparo, onde começa a estrada que atravessa a serra das Varandas.
Amparo é o nome do riacho e de uma grande propriedade que pertenceu a Araponga marido de Sinhá que viúva e quase centenária casou-se com um jovem chamado Zé Lira, mas essa é outra história…
Refiz agora esse esse percurso de Zé Rocha, subindo e descendo ladeiras pedregosas montado no burro Melão e em companhia de meu primo Ivanildo MelquÃades que conhece cada palmo desse lugar e sobre cada um deles tem uma história geralmente irônica e bem humorada.
(Foi ele quem me deu notÃcias dos ‘Teodósios’, uma famÃlia de caboclos e caboclas criados por aquelas serras e reconhecidos pela criatividade e pendores nas artes da sobrevivência rude, da pesca, caça mas também da música! Um desses ‘Teodósios’ faz sucesso na região – e já fora dela – com um grupo, de forró moderno, conhecido como ‘O Véi Chegou’.)
Ainda é uma estrada de difÃcil acesso. No tempo de Zé Rocha era quase uma vereda sombreada por mata densa e úmida nas baixadas por onde serpenteia o riacho do Amparo.
No cume da estrada avista-se as outras serras de pedras, algumas parecendo pêndulos à beira do precipÃcio.
Essas serras que circundam o lugarejo lá embaixo que hoje é a cidade cearense, era reduto da indiada tapuia de cuja lÃngua teria se originado o nome Ereré.Os Icós, os JanduÃs, essa gente esquecida pela historiografia nacional…
Recentemente o nome Ereré, desconfio que por influência do sotaque das televisões, mudou a grafia e a fonética passando a ser chamada de Ererê, com o três ‘Es’ fechados (êrêrê)como falam os cariocas… mas isso também é outra história…
…assim como a queda que o burro Melão me deu na cavalgada de volta à Catingueira.
Jânio Rêgo é jornalista
Beleza de texto. Ortofonia matuta bem mais bela e mais escorreita do que a ortografia do governo. Cuma dizia cumade Luzia, Parabéns, seu Janos Quadro. (Pra ela todo Jânio era Quadros). Prefiro Jânio Rêgo!
Que foto linda!
NOTA DO BLOG – Crônica e texto em simbiose. Bravo, bravo, Melão!