Por Odemirton Filho
Na minha atividade profissional faz parte do trabalho ter contato com inúmeras pessoas, levando-me a “visitar” várias residências para o cumprimento de mandados judiciais.
Já “visitei” de mansões a casas simples. Uma delas, porém, marcou-me. Era uma casa de taipa, lá pela zona rural da cidade de Grossos, na qual morava um casal de idosos.
Não é novidade pra ninguém. Nem todo mundo recebe de bom grado a “visita” de um oficial de Justiça. Aquele casal de idosos, ao contrário, recebeu-me de forma atenciosa e educada.
Lembro-me da pequena sala da casa de taipa. Havia latas de leite vazias com flores, uma televisão de tubo, alguns retratos antigos e duas ou três cadeiras de balanço. Na cozinha, uma mesa de madeira com uns tamboretes, uma geladeira e um fogão corroídos pelo tempo.
O “terreiro” estava impecável. Não tinha uma folha no chão, sequer. Dava gosto ver. Uma velha rede de pesca descansava sobre a cerca, como prova que muitas vezes fora lançada ao mar.
Fui convidado a sentar à mesa e tomar um café coado. Daquele dos bons. A boa conversa rendeu por um tempo. No nosso ofício é comum ouvir os fatos que deram causa à ação judicial.
A velha senhora, com os olhos marejados, falou-me um pouquinho sobre as dificuldades da vida. As “coisas” vão melhorar, disse-me com uma fé inabalável.
Após assinarem e receberem a cópia do mandado insistiram para que eu ficasse mais um pouco. Infelizmente, em razão de outros mandados para cumprir, não pude ficar. Prometi voltar outro dia para continuarmos o agradável bate-papo.
Ao me despedir, a senhora me abençoou. “Deus te proteja nos seus caminhos, meu filho”. Até hoje me lembro daquele casal de idosos que transmitia uma energia tão boa. Uma paz.
Mesmo com o pouco estudo e as dificuldades cotidianas, mostraram um fino trato que raras vezes presenciei nas minhas andanças, seja “visitando” mansões de pessoas de posses ou casas simples de gente humilde.
Eram ricos de valores que nem uma ruma de dinheiro poderia comprar.
Para mim foi uma verdadeira lição. De vida.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Essa é a vida meu caro amigo!
Certeza, meu caro. Essa é a vida. Vivendo e aprendendo.
A autenticidade encontrada nessa casa de taipa muito dificilmente está presente numa mansão.
Dispensável qualquer explicação.
Felizes os que, como você, possuem sensibilidade para captar a pureza da alma dos simples e que mais em comunhão com Deus vivem.
Parabéns pela cŕõnica que mexe com nossos sentimentos e nos leva a uma reflexão sobre o que é verdadeiramente importante nesta vida que, em última análise, não passa do cumprimento do ciclo vital.
Até domingo.
Ah, meu amigo, vivencio cada coisa. Vejo tanta pobreza. Dói. Dói na alma.
Fraternal abraço, professor.
Parabéns, prezado Odemirton.
Mais uma página tocante. Você é um craque da pequena área, na arte de dizer muitas coisas pertinentes com poucas palavras. Sua crônica transportou-me à minha infância em uma casinha de taipa como essa que você descreveu, com meus pais e irmãos, cuja prole inicial foi de onze filhos. Hoje somos nove órfãos de pai e mãe.
Forte abraço!
Meu querido amigo, fico feliz em saber que a crônica resgatou um pouco de sua infância.
Obrigado pelo deferência e o incentivo de sempre.
Um grande abraço. De coração.
Na pureza de sentimentos verídicos oriundos de um berço humilde,é de onde extraimos a essência da verdadeira vida do homem.
Deste ambiente que você descreve como um cenário de pobreza material, Deus compensa com palácios cheios de cristais materiais, enfim é o roteiro da vida e do comportamento humano, alí no habitat construído em taipa você é recebido com o verdadeiro valor humano, neste os cristais são eternos, não quebram, a xícara de café tem o sabor de amor e respeito humano, coisa que nas mansões, muitas delas não são nem propriedades dos seus habitantes, pois pertencem aos Bancos Financiadores, alí muitas vezes as pessoas se quer passam do portão, e em se tratando de profissionais da justiça para cumprir mandados oficiais, aí é que o afugento é grande, se conseguirem passar do portão, aconselho nem receber um copo d’água, pois a mesma poderá vir com adição de produtos que mata até pensamentos.
Esta é a realidade nua e crua de quem tem o privilégio de continuar a viver neste nosso planeta chamado terra.
Rocha Neto, ainda espero, pacientemente, seus textos. Você prometeu, a mim e a Carlos Santos.
Vou continuar cobrando. Se for o caso, levo uma intimação. Rsrsrs.
Abração, meu querido.
NOTA DO BLOG – Esperamos. Pelos textos e buchadas saborosas que ele faz, não necessariamente nessa ordem.
Abraços
Deus compensa com palácios cheio de cristais espirituais…*
Meu estimado primo e colega de profissão, vi-me em seu texto. Há 23 anos batendo a porta de pessoas, das mais simples às mais abastadas, posso atestar que os mais humildes nos têm uma atenção especial, sempre oferecendo um café fresquinho ou o suco de alguma fruta do quintal. Parabéns pelo texto. Até me inspirei. Qualquer dia começo a relatar causos do meu cotidiano.
NOTA DO BLOG – Relate época de recenseador do IBGE, fazendo o Censo não sei das quantas, recebido com água, café, bolo, bolacha, tapioca, leite, queijos e sucos. Bem, agora vamos à realidade: eu sentado numa mesinha de centro da sala e você me entrevistando. Eu não lembrava. Você que me disse ter ocorrido e não tenho motivos para duvidar.
Abraços aos primos Erasmoe e Odemirton.
Beleza, primo. Estamos no aguardo dos seus textos e
causos. Com certeza, são muitas histórias.
Obrigado pela leitura e elogio ao texto.
Um fraternal abraço.
Odemirton, parabens por mais um belo, sensível e fecunfo escrito/testemunho, o qual nós leva mais uma vez ter a elementar certeza…NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, SUBSTITUI O CONTATO HUMANO…!!!
Ressaltando a oportuna fala de Carlos Santos, realmente ERASMO CARLOS FIRMINO, está nos devendo as suas…que são muitas e cativantes …
Um baraco
FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO.
OAB/RN. 7318
Certeza, nada substitui o calor humano.
E, sem dúvida, o nosso Erasmo Firmino precisa nos brindar com os seus escritos.
Estamos à espera.
Obrigado pelo comentário. Abraços, doutor.