domingo - 14/09/2025 - 06:50h

O Efeito Casulo – Dia 16

Por Marcos Ferreira

Arte ilustrativa com recursos de Inteligência Artificial para o BCS

Arte ilustrativa com recursos de Inteligência Artificial para o BCS

Madrugada. Quase duas horas. Despertei com fortes dores na barriga e nas costas. Levantei-me a custo. Repeti a dose dos remédios, aguardei e suportei alguns minutos na expectativa de que minha agrura cessasse, contudo não arrefeceu; continuei com o mal-estar intenso. O estômago estava embrulhado. Abri a porta da cozinha e vomitei no quintal com abundância. A minha testa e os cabelos logo ficaram ensopados. Aliás, o meu corpo inteiro suava excessivamente. Os achaques seguiram.

Decidi que precisava rumar para o pronto-socorro do Hospital Tarcísio Maia. Não tinha condições de ir pedalando. Descartei a opção da bicicleta. Peguei o celular e recorri ao serviço de um carro de aplicativo. Foram longos e agônicos quinze minutos até que o motorista chegasse. O trajeto levou menos de dez minutos. Deitei-me encurvado no banco de trás. Apesar do horário, paguei apenas trinta reais pela corrida. Desci com a ajuda do condutor. O rapaz me acompanhou até o guichê da recepção. Encontrei duas pessoas na minha frente. Estas, porém, vendo a minha agonia, deixaram que eu fosse atendido primeiro.

Precisei, no intuito de agilizarem o atendimento, revelar que tenho câncer e que me encontrava em uma forte crise. Citei todos os quase impronunciáveis nomes dos remédios que tomo pela manhã e antes de dormir. O uso contínuo desses fármacos me permitiu decorar, além da posologia, as suas denominações com precisão. Quanto ao socorro no Tarcísio Maia, para ser justo e grato, não tenho do que me queixar. Quando cheguei ao corredor, amparado por uma enfermeira que me pôs em uma cadeira de rodas, topamos com o médico de plantão, que vinha com um copinho de plástico com café. Não me recordo do nome desse profissional, mesmo ele tendo se identificado, entretanto me recebeu com sensibilidade quanto educação. Não é em toda parte que encontramos gente assim no serviço público.

Sem demora, portanto, aquele indivíduo de jaleco branco, de estatura mediana, pele morena, olhos e cabelos negros, logo me encaminhou para um leito da enfermaria onde havia outras duas camas com pacientes. Ali, após as minhas explicações, ele tomou conhecimento do meu caso. Explicou-me que naquela unidade de saúde dispunham de um aparelho de ressonância e providenciou o uso da máquina. Como eu esperava, disse que minhas condições são críticas. Acrescentou, enfim, que o que estava ao alcance dele era aplicar uma injeção de morfina.

Isso foi o que me livrou daquelas dores terríveis. Cerca de uma hora depois recebi alta e novamente solicitei um carro de aplicativo, que demorou menos que o primeiro. Dessa vez não precisei de ajuda para entrar, e fui no banco dianteiro. Em casa, depois de um banho, visto que havia suado bastante, usufruí de um resto de noite tranquilo e reparador. Só deixei a cama por volta das nove horas. A seguir preparei um café, comi um pão com manteiga e uma fatia de queijo. Tomei os medicamentos prescritos para esse período do dia. Até este instante, enquanto relato a via crucis da madrugada, não sinto nenhum desconforto. São precisamente dezessete horas e dois minutos deste sábado. Todas as janelas e portas estão abertas, enquanto um vento agradável percorre a casa. Essa possibilidade de chuva sempre me deixa feliz.

Hoje não tenho a menor condição de tocar a faxina adiante, porém espero que amanhã, embora que aos poucos, bem devagarinho, eu consiga limpar mais algumas partes desta residência. Especialmente a cozinha, visto que a sala já consegui pôr em ordem. A expectativa de receber Leopoldo Nunes na próxima terça-feira é um estímulo que parece renovar os meus ânimos. Neste momento, para não forçar muito a coluna sentado nesta cadeira, devo findar a narrativa por aqui.

Marcos Ferreira é escritor

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Categoria(s): Conto/Romance

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