Por Marcos FerreiraLogo que abriu o portão, por volta das nove da noite, Emília Reis avistou o corpo amarronzado no fim da garagem. Seu coração disparou de imediato. Aquele era um típico siamês, adotado ainda pequenino nas ruas, contudo se tornara bastante bonito e não menos mimado por sua tutora. Depois da separação, além da casa e do carro, ela ficara também com Sherlock. Eis o nome da vítima. Emília desceu do carro aos prantos.
— Oh, Senhor! Não me tire o meu Sherlock!
Tarde demais. Porque o Altíssimo, que tudo sabe, tudo vê e tudo pode, deve ter assuntos mais urgentes para se ocupar no Reino dos Céus.
Perto da boca do animal estava uma pequena poça de sangue. Não muito distante se encontrava um rato de médio porte também morto. Então, ao contrário das intrincadas histórias do famoso investigador (o guapo detetive Holmes) ali não existia nenhum mistério que valesse a pena ser averiguado.
A causa da morte do protegido daquela mulher era algo de uma clareza solar. O aclamado britânico não se prestaria a solucionar o óbvio, pois o sinistro se tratava de uma evidente fatalidade. Concluiria que Sherlock fenecera por envenenamento graças ao rato, que terminou de morrer nas garras do bichano.
Secretária da Universidade Estadual de Vila Negra, a jovem senhora saíra mais cedo àquela noite, visto que habitualmente deixava o serviço às dez. Nessa ocasião, acometida por uma enxaqueca que resistia aos analgésicos, largou o expediente antes do horário costumeiro. Passados quinze ou vinte minutos sobreveio o choque.
Depois de tocar em Sherlock e constatar que o corpo se enrijecera, ela desmoronou e decidiu que o enterraria no quintal. Seria isto o mínimo que ele merecia. Então, com os nervos muito abalados, sentiu que não seria capaz de realizar o sepultamento de Sherlock.
Lembrou-se do vizinho Fernando, motorista de táxi morador de uma residência defronte à sua. O problema era que Fernando quase não parava em casa, isto devido àquela atividade e à numerosa clientela. Portanto, seria uma sorte encontrá-lo. Ainda assim, desnorteada e com o rosto banhado de lágrimas, foi até lá. Bateu ao portão, chamou pela esposa do homem, com quem tinha maior intimidade, e em breve o portão foi aberto.
— Pois não, senhora Emília — falou Fernando.
— Graças ao bom Deus, você está em casa!
Ela continuava com os olhos lacrimosos.
— O que aconteceu, vizinha. Posso ajudar?
— Meu Sherlock morreu. Foi envenenado.
— Lamento. Geralmente é por conta de ratos.
— Sim. Tem um morto na minha garagem.
— O que deseja que eu faça? Pode dizer.
— Eu gostaria que o enterrasse na parte de trás do meu quintal. Desculpe lhe pedir uma coisa dessas, mas não posso simplesmente jogá-lo fora.
— Farei o que deseja. Eu tenho uma pá.
— Desculpem mesmo por incomodá-los.
— Não se preocupe. Darei conta do serviço.
No próprio instante em que Fernando abriu o portão, Navegantes, sua mulher, já estava ao seu lado e ouviu toda a conversa. A moça convidou a vizinha a entrar, ofereceu-lhe um pouco de água, todavia ela recusou, alegando que precisava acender a luz de trás. Então, de posse da sua ferramenta, Fernando foi abrindo a cova, cuja terra era um tanto fofa.
Daí a pouco, antes que o homem enterrasse o siamês, Emília entregou ao taxista uma pequena toalha e pediu que Sherlock fosse embrulhado nesta. Dessa maneira o vizinho procedeu. A cova, com aproximadamente setenta centímetros de profundidade, talvez não fosse tão funda, mas era o bastante para sepultar aquele cadáver com cerca de um ano.
No dia seguinte, antes das seis horas, a mulher se levantou ainda entristecida e foi dar uma olhada no local onde Sherlock fora enterrado. Nesse instante ela tomou outro grande susto. Pois, de maneira bizarra, havia sobre a sepultura uma bela e pequenina roseira de flores miúdas e vermelhas. Atônita, impactada, de novo foi à residência dos vizinhos, apesar de ser demasiado cedo, e narrou ao casal o que havia encontrado.
— O que quer que eu faça dessa vez? — indagou Fernando. — Continuo à sua disposição. Quero ver isso. É algo de fato inexplicável.
— Preciso que você desenterre o Sherlock, por favor! Do contrário, meus amigos, eu sei que não terei mais sossego. Como pode uma planta desse tipo nascer assim, da noite para o dia, justamente sobre a cova do meu gatinho?
— Vou buscar a pá — disse Fernando, intrigado.
O rapaz primeiramente arrancou a roseira pela raiz, que não era tão arraigada. Após foi reescavando com cuidado, paleando a terra úmida até o ponto onde se esperava encontrar o corpo do felino. Daí a pouco, para a surpresa geral, Fernando retirou do buraco (totalmente intacta) nada mais que a toalha. Não se imagina como Sherlock desaparecera. Quem sabe esse seja um mistério para o célebre detetive desvendar.
A partir de agora, talvez, o senhor Holmes decida voltar os seus talentos investigativos para o sumiço do bem-amado Sherlock e o repentino aparecimento da roseira. Como se sabe, há um provérbio que diz que os gatos têm sete vidas.
Marcos Ferreira é escritor
Assim como na poesia, meu xará sempre faz bonito na prosa. Abraço, Ferreira!
NOTA DO BLOG – Fera, fera.
Meu estimado Editor,
Como eu disse há pouco, o referido texto só foi escrito graças ao seu incentivo.
Obrigado, mais uma vez, pelo espaço neste Canal BCS – Bolg Carlos Santos.
Abraços.
Prezaado Marcos Mairton, meu xará.
É sempre uma honra e alegria contar com sua leitura e presença neste espaço.
Confesso que esse continho quase não saía, devido a problemas com meu computador, no entanto, por encorajamento do meu Editor, Carlos Santos, adulei o notebook mais um pouco e deu certo.
Um ótimo domingo para você, querido, muita saúde e paz.
O homem é fera. Consegue ser brilhante em todos os gêneros literários.
Valeu, amigo.
Amigo Odemirton Filho,
Obrigado pelo estímulo e carinho.
Saudades de você. Vamos marcar um encontro aqui em casa para dentro em breve. Seu adoçante (para aquele cafezinho) está guardado e com data de validade em ordem.
Abraços.
Vamos sim. Precisamos colocar a prosa em dia. Vamos ver se Carlos Santos aparece, aí a gente pede um reajuste no nosso salário. Ah, Rocha Neto não pode faltar.
NOTA DO BLOG – Ô luta medonha. Mas, vamos nos reunir mesmo assim. Tomando “cafezes” a gente negocia.
Estou às ordens, meus amigos.
Como sempre, será um prazer recebê-los.
Abraços.
Exatamente, meu caro Odemirton,
Tragam (você e o Carlos Santos) o nosso querido Rocha Neto a tiracolo.
Precisamos trocar umas ideias e rir um bocado.
No aguardo.
Abraços.
Nota do Blog – Com Rocha Neto a gente consegue uns mantimentos, além de café. Ele sempre anda com bisaco cheio.
Sempre surpreendendo! Muito bom! Parabéns!!!
Querida amiga Bernade lino,
Grato pela leitura e atenção neste espaço e fora dele.
Sua amizade, cuja apresentação devo ao nosso amigo comum João Bezerra de Castro, é algo que muito prezo.
Um ótimo domingo para você e forte abraço.
Se Sherlock retornasse para o convívio atual do nosso Brasil, com certeza iria se separar com tantas e tantas situações que iria solicitar seu imediato retorno de onde teria saído, pra tomar a atitude do seu retorno bastaria assistir o Jornal Nacional e ler o Estadão e ver o artigo publicado hoje sobre o comportamento de Janja, mulher do presidente Lula.
Marcão, parabéns pelo brilhante texto em tela.
Inté o próximo domingo!!
Meu querido Rocha Neto,
Diante das escaramuças dos nossos políticos, também não duvido de que o Sherlock voltasse para de onde veio. Porque, acaso isso um dia aconteça, ainda vai demorar muito para que esta terra cumpra o seu ideal. O presente cenário (a exemplo do anterior, protagonizado pelo tal do mito) é triste. Difícil, portanto, alimentar esperanças de que esta pátria de chuteiras e pernas de pau tome jeito.
Um forte abraço e inté domingo.
Boa! Veio-me agora a lembrança lúdica de Paulinho Moska, em ” Me diga quantas vidas você tem!”. De toda forma vale muito à pena a singeleza da flor, esculpida sob o bem querer da tutora ao felino …
E vivam o amor e a simpatia!
Amigo poeta Francisco Nolasco,
Você mergulhou fundo e trouxe o Paulinho Moska direto do túnel do tempo. Ótima recordação. Um artista da maior grandeza. Quanto ao Sherlock, nem eu mesmo faço ideia do paradeiro. Muito menos se tudo isso não foi simplesmente fruto da imaginação da senhora Emília dos Reis. Deixo com o leitor a solução desse mistério.
Forte abraço e um bom domingo.
Que texto lindo e cheio de suspense e imagens. Me identifico porque sou mãe de pet. E ter um em casa é mais um membro da família.
Parabéns Marcos!
Prezada Fátima Feitosa,
Primeiramente, é muito ter conhecimento de que você também é amante desses seres maravilhosos, a exemplo do bichano Sherlock. Outra alegraia é saber que o texto lhe agradou, sobretudo quanto às imagens. Você é escritora e sabe que esse detalhe das imagens é um ponto essencial quando a gente se dispõe a escrever um conto, crônica, poesia ou romance.
Muito obrigado e um ótimo domingo para você.
Boa tarde, pensei que o nobre poeta-escritor tinha enveredado no romance policial ou de mistério, mesmo assim, não deixou de ser algo do tipo. Por ter hoje uma gatinha de quatro patas aqui em casa, gostei do desfecho e será mesmo que morreu ou usou uma das sete vidas? Aguardo as cenas-textos seguintes!
Um abraço Marcos!
Caro poeta e professor Tales Augusto,
Sim, esse continho é um tanto policialesco, detetivesco.
Confesso ao amigo, portanto, que nem eu mesmo faço ideia do paradeiro do Sherlock.
Existe o provérbio das sete vidas a favor do bichano, mas segue o mistério.
Abraços e uma ótima semana para você.
Acho bom o detetive entrar em cena…
Prezado escritor Raí Lopes,
Devo concordar com você. Chamemos logo o senhor Holmes. O sumiço é fantástico e merece um detevive desse calibre. Portanto, quem sabe o eminente investigador britânico Sherlock Holmes desvende o mistério do gatinho Sherlock.
Outras interpretações e cogitações eu as deixo com os leitores.
Abraços e até domingo.
Boa tarde, nobre escritor,
Embora seja admiradora de sua escrita já faz muitas luas, ela sempre consegue me surpreender e encantar. Não importa o estilo ou a narrativa, você escreve com graça, como quem possui a palavra na alma, e dessa forma toca o coração de quem se apropria da leitura dos seus textos. Adoro! Abraços das bandas do Norte, meu amigo poeta!
Amiga poetisa Rizeuda da Silva,
A admiração é recíproca, pode acreditar. Tanto em relação à sua bela escrita quanto ao ser humano iluminado que você é. Conheço poucas pessoas com a sensibilidade de arte e de coração como você possui. Creio que já estou me repetindo e chovendo no molhado, pois todos conhecemos a sua figura encantadora, apaixonante.
Abraços aqui das bandas do Nordeste.
Foi graças a adoração aos gatos que os antigos égípcios criaram o primeiro cemitério de animais que se tem notícia.
Em muitas culturas os gatos são animais sagrados! Viva os felinos. Abraços
Poeta Airton Cilon,
Gostei da informação, amigo. Muito pertinente e oportuna.
Cultura. A gente vê por aqui.
Abraços.