• Cachaça San Valle - Topo do Blog - 01-12-2024
segunda-feira - 17/11/2008 - 13:25h

O espetáculo da notícia vazia e da banalidade

O caso da adolescente “Eloá”, que há poucas semanas virou mártir, num seqüestro derivado da passionalidade de um ex-namorado, não mais interessa a mídia. Virou algo menor.

Rendeu o que tinha de render.

Um pouco antes existiram outros episódios, como da morte de uma criança, pelo casal “Nardoni”, pai e madastra da vítima. Em ambos acontecimentos pode ser dito que a imprensa cumpriu seu papel? Informou? Não é bem assim.

Houve muito de desinformação e deformação, transformando o drama humano de verdade num espetáculo. Ao mesmo tempo em que se critica muito o trabalho policial, com ilações diversas, passa quase à margem a força de intervenção da mídia na própria notícia.

A missão de reportar passou a ser secundária. Um rapaz emocionalmente descontrolado, que se sentia descartado, ascendeu ao status de celebridade nacional, com arma à mão, telefone celular noutra e o país inteiro o acompanhando por rádio, TV etc.

Confesso que vi superficialmente a cobertura. Contudo não me faltaram relatos de terceiros. Meu interesse maior foi quanto à espetaculosidade, que podia ser tachada como tudo, menos informativa.

Seria prato cheio para roteiristas de Hollywood, isso sim.

Fez-me divagar um pouco, taxiando a mente até o filme “A montanha dos sete abutres”. É uma fita em preto e branco, que deveria ser adotada por todo curso de Comunicação Social, visto e repetido nas redações. Expõe como alguém pode usar de forma vil a tragédia humana para tirar proveito próprio na imprensa.

Está ocorrendo uma confusão quanto ao conceito de programas jornalísticos e programas de “entretenimento”. No segundo caso, parece um circo romano via satélite, com o sangue jorrando para espanto de uns e delírio de outros. Jornalismo não é isso.

Muita gente também não percebeu que a manchete diária de certos impressos, expondo fotos com corpos dilacerados e gente fuzilada, é o retrato da incapacidade de se fazer jornal.

Fenômenos como “Aqui Agora” (programa de TV) e “Notícias Populares” (jornal paulistano) morreram sem direito a reportagem de canto de página, porque não tinham conteúdo algum. Tratavam com morbidez e sadismo a desgraça alheia. Tão-só.

Outros cadáveres midiáticos vão se amontoar adiante, juntando-se a esses finados. Ao final, de novo prosperará a qualidade e o talento.

Como qualquer ave sarcófaga, essa gente precisa de algo putrefato para se manter viva. É seu alimento diário.

Quem quiser que partilhe dessa mesa malcheirosa.

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Categoria(s): Blog

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