O caso da adolescente “Eloá”, que há poucas semanas virou mártir, num seqüestro derivado da passionalidade de um ex-namorado, não mais interessa a mídia. Virou algo menor.
Rendeu o que tinha de render.
Um pouco antes existiram outros episódios, como da morte de uma criança, pelo casal “Nardoni”, pai e madastra da vítima. Em ambos acontecimentos pode ser dito que a imprensa cumpriu seu papel? Informou? Não é bem assim.
Houve muito de desinformação e deformação, transformando o drama humano de verdade num espetáculo. Ao mesmo tempo em que se critica muito o trabalho policial, com ilações diversas, passa quase à margem a força de intervenção da mídia na própria notícia.
A missão de reportar passou a ser secundária. Um rapaz emocionalmente descontrolado, que se sentia descartado, ascendeu ao status de celebridade nacional, com arma à mão, telefone celular noutra e o país inteiro o acompanhando por rádio, TV etc.
Confesso que vi superficialmente a cobertura. Contudo não me faltaram relatos de terceiros. Meu interesse maior foi quanto à espetaculosidade, que podia ser tachada como tudo, menos informativa.
Seria prato cheio para roteiristas de Hollywood, isso sim.
Fez-me divagar um pouco, taxiando a mente até o filme “A montanha dos sete abutres”. É uma fita em preto e branco, que deveria ser adotada por todo curso de Comunicação Social, visto e repetido nas redações. Expõe como alguém pode usar de forma vil a tragédia humana para tirar proveito próprio na imprensa.
Está ocorrendo uma confusão quanto ao conceito de programas jornalísticos e programas de “entretenimento”. No segundo caso, parece um circo romano via satélite, com o sangue jorrando para espanto de uns e delírio de outros. Jornalismo não é isso.
Muita gente também não percebeu que a manchete diária de certos impressos, expondo fotos com corpos dilacerados e gente fuzilada, é o retrato da incapacidade de se fazer jornal.
Fenômenos como “Aqui Agora” (programa de TV) e “Notícias Populares” (jornal paulistano) morreram sem direito a reportagem de canto de página, porque não tinham conteúdo algum. Tratavam com morbidez e sadismo a desgraça alheia. Tão-só.
Outros cadáveres midiáticos vão se amontoar adiante, juntando-se a esses finados. Ao final, de novo prosperará a qualidade e o talento.
Como qualquer ave sarcófaga, essa gente precisa de algo putrefato para se manter viva. É seu alimento diário.
Quem quiser que partilhe dessa mesa malcheirosa.
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