• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
sábado - 09/05/2009 - 10:43h

O farsante

É mês de maio. Mês dos meus anos. E todo ano é a mesma coisa: faço o balanço das horas; vejo o que ainda tenho pra realizar; procuro meditar, para saber se o caminho que estou trilhando está correto… Ou seja, neste mês estabeleço um encontro mais intenso comigo mesmo.

E talvez, isso se deva pela sensação de que o tempo não está parando e não sei ainda quantos meses de maio terei pela frente… Confesso que gostaria de saber de onde vim e para onde vou, para não ficar com o sentimento de Fernando Pessoa, que no seu “Livro do desassossego”, desabafou: “Sei que fui erro e descaminho, que nunca vivi, que existi somente porque enchi tempo com consciência e pensamento (…) tudo que tenho feito, pensado, sido, é uma soma de subordinações, ou a um ente falso que julguei meu…”.

E continua o desabafo desassossegado do maior poeta português: “De repente, como se um destino médico me houvesse operado de uma cegueira antiga com grandes resultados súbitos, ergo a cabeça, da minha vida anônima, para o conhecimento claro de como existo. E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e de loucura…”. 

Pois bem! De repente – tentando curar a minha cegueira – analisando a minha vida até agora, fico com a impressão de que ela é uma espécie de engano também.

E hoje, sem medo, de nada e de ninguém, eu digo: minha vida é uma farsa: “Por que sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho de minha altura”… É duro reconhecer isso, mas a verdade é que eu sou um farsante.

Às vezes, chego a pensar que sou igual aos políticos: falando uma coisa e fazendo outra. É… Poderia sim, quem sabe, entrar na política sem problema nenhum…  

Eu sei, vocês poderão me dizer como Fernando Pessoa: “Todo mundo é confuso, como vozes na noite”. No entanto, isso não amenizará o meu julgamento de mim mesmo: eu sou uma farsa.

Veja só, caro leitor, fico aos quatro quantos pregando o amor, a fraternidade, a misericórdia, a humanização… Sei de cor e salteado todo o Sermão da Montanha de Cristo – o homem mais sábio que até hoje pisou neste mundo –, mas as minhas ações não acompanham as minhas falas.

Hoje, sei que estou muito mais para um ANTICRISTO do que para um cristão de verdade.  Pois, se eu fosse um Cristão de verdade, eu nunca torceria por um time tão egoísta, como o Flamengo, que só pensa em si. É só dar uma, única e real, oportunidade de colocá-lo numa final, para disputar o título, pronto: não tem pra ninguém.

O Flamengo ganha todas as decisões.  E isso é terrível.

Como se não bastasse no passado ter feito de gato e sapato o time do Vasco da Gama – ofertando-lhe três vices campeonatos cariocas (1999, 2000 e 2001) –, agora faz a mesma coisa com o Botafogo (2007, 2008 e 2009). Quanta humilhação!

Precisava ter feito isso? Será que não bastava ganhar só um e deixar os outros títulos para que fossem divididos com os outros times?

Isso sim, seria uma atitude Cristã: "Quem quiser preservar a sua vida, a perderá; e quem perdê-la, a salvará"… Portanto, não vejo salvação para mim: sei que sou um farsante.  

Tinha razão Fernando Pessoa ao ensinar que “toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra”. E a minha alma vive agora vagando nessa penumbra. E é aí que eu descubro que sou também um invejoso: “invejo todas as pessoas o não serem eu”. Isso mesmo: tenho uma inveja danada de todos esses times.

Confesso que gostaria imensamente de saber o sabor de ser três vezes vice- campeão… Por que meu Deus, eu não escolhi torcer pelo Botafogo ou, melhor ainda, pelo Vasco – o time mais Cristão dentre todos os Cristãos?

O Vasco, dentro da sua consciência Cristã, ignora qualquer tipo de ambição, por isso, resolveu ir para segunda divisão, afinal: os últimos é que serão os primeiros, não é mesmo?

É duro, caro leitor, e não sei se suportarei mais meses de maio, com esse tipo de conhecimento de mim mesmo, pois agora mais do que nunca, assim como Fernando Pessoa, eu também “reconheço a secura do meu coração”.

Eu sei, tá certo, de que toda obra tem que ser imperfeita, mas a minha imperfeição – de torcer por um time que só quer ganhar (vencer, vencer, vencer…) – chega às raias da estupidez…

É por isso, que nem tive ânimo nem disposição, para comemorar o PENTA TRI do Flamengo, afinal “verifico que, tantas vezes alegre, tantas vezes contente, estou sempre triste”.  

E é com uma tristeza enorme no meu coração, que aviso a todos os meus amigos: nunca terei forças para deixar de torcer pelo Flamengo – este vício está entranhado nas minhas veias, onde corre o sangue rubro-negro da paixão.

Assim, quem quiser ainda manter a amizade comigo, agora, pelo menos, já sabe que sou um farsante e não esconderei isso de mais ninguém…

Francisco Edilson Leito Pinto Júnior é professor, médico e escritor

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. Luciano diz:

    O botafogo garantiu após a derrota que vai devolver o jogador sérvio SABESERVICE para o vasco.
    Meu amigo eu ja disse a muitos botafoguenses, QUEM NÃO PODE COM O POTE NÃO PEGUE NA RODILHA.

    Deixe esses vice campeonatos para nós vascainos, não fazemos escandalos como os botafoguenses. jejejejeje!!!

    Mas é bom ter cuidado, ja estamos ficando desacostumados.

  2. Honório de Medeiros diz:

    Nossp Edilson está cada vez melhor…

  3. David de Medeiros Leite diz:

    Concordo com o amigo Honório: nosso estimado Edilson Pinto está cada vez melhor…
    Abraços
    David

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