Por François Silvestre
…e consumado em Primeiro de Abril.
O Exército Brasileiro sempre foi politizado e politicado. Politizado por poucos, alguns oficiais estudiosos, e politicado pela maioria, oficiais frustrados, de vocação politica, com uso da farda para alcançar o poder. Ponto.
Os tenentes dos anos Vinte são os coronéis dos anos Quarenta e generais dos anos Cinquenta e Sessenta. O Exército dividiu-se, nesse período da História, em duas alas bem nítidas. Uma ala da Direita liderada pelo General Canrobert Pereira da Costa, e a outra, à esquerda, liderada pelo General Newton Estilac Leal.
Desde o fim do Estado Novo, essas duas alas se enfrentavam. Ora, na surdina. Ora às escâncaras. Não houve uma eleição, após a redemocratização de 1945, que não tivesse um Oficial de última graduação de uma das três forças. Em 45, dois. O General Dutra, pelo PSD, e o Brigadeiro Eduardo Gomes pela UDN. Dois candidatos civis, Iêdo Fiúza e Rolim Teles, sem importância.
Em 1950, Eduardo Gomes novamente, agora contra Getúlio Vargas. Cristiano Machado só pra compor. Em 1955, O general Juarez Távora. Derrotado por Juscelino Kubitschek. Adhemar de Barros e Plinio Salgado completaram o quadro. Foi aí que se tentou o golpe, que veio a ser vitorioso em 1964.
JK não obteve cinquenta por cento dos votos, nem havia comando legal exigindo essa condição. Foi apenas o candidato mais votado. Dentro da regra constitucional. A UDN, useira e vezeira em perder eleições, iniciou uma campanha contra a posse dos eleitos. JK e Jango. Orquestrada pelo jornalista e político Carlos Lacerda.
Um homem inteligentíssimo, fluente, convincente, estudioso, culto; tudo que se diga sobre seu talento ainda é pouco. Porém, dotado de uma ojeriza patológica à Democracia. Fora comunista na mocidade, defensor da ditadura do “Proletariado”. Agora, anticomunista visceral, queria uma ditadura de Direita.
A armação do Golpe. No sepultamento do General Canrobert Pereira da Costa, líder da direita no Exército, Novembro de 1955, o coronel Bizarria Mamede faz um discurso sugerindo intervenção militar para evitar a posse dos eleitos.
O Ministro da Guerra, do Governo Café Filho, General Henrique Batista Dufles Teixeira Lott, estava presente. Contou depois que não dera voz de prisão ao Coronel por respeito à família do morto. Mas exigiu do Presidente que Mamede fosse punido.
Não poderia ele mesmo punir, pois Bizarria Mamede era lotado em área de vínculo com a Presidência. A UDN mobilizou-se para evitar a punição do coronel. Lacerda procura Café Filho. O presidente potiguar não quis comprometer-se pessoalmente com o golpe.
Saiu a seguinte jogada. Café Filho “adoece”, recolhe-se ao seu apartamento, e a presidência é assumida pelo Presidente da Câmara, Carlos Luz. O deputado mineiro, inimigo de JK, aliado dos golpistas, assume o poder.
O General Lott vai ao presidente Carlos Luz. Após um chá de cadeira de mais de duas horas, Lott é recebido. Ao informar do que se tratava, Carlos Luz foi incisivo. “Não há nada a ser punido”.
Lott pede demissão. Aí, Carlos Luz comete o erro fatal. “Aceito sua demissão e marco para amanhã a transmissão do cargo”. Festa na UDN. Se houvesse feito a transmissão naquela hora, o golpe teria se consumado. Ao chegar em casa, Lott usa um rádio de campanha e fala com o general Odylio Denys.
Ao ouvir o relato, Denys comenta. “Vão impedir a posse dos eleitos”. Pergunta quem é o substituto de Lott. Lott responde que só saberá “amanhã”. “Não houve transmissão”? Pergunta Odylio. “Não”. Responde Lott. “Então você ainda é Ministro. Ponha os tanques na rua”.
Foi o que Lott fez. Depôs Carlos Luz, deu posse a Nereu Ramos, presidente do Senado. Lacerda, Carlos Luz e Penna Boto esconderam-se no navio Almirante Tamandaré. Café Filho tentou voltar ao cargo. Recebeu do novo governo a informação de que ele continuaria doente. E Lott pôs um tanque guarnecendo o apartamento de Café Filho.
Em Janeiro de 1956, JK e Jango assumem a presidência e vice-presidência da República. Estava adiado o golpe pra Primeiro de Abril de 1964. E daí vinte anos de trevas. Cassações, exílios, torturas, desaparecidos, censura, prisões e fim do Habeas Corpus. Baixe o pano!
François Silvestre é escritor
Parabéns meu caro François Silvestre, por nos brindar com relatos acerca da real história do latente golpismo e da visão estreita e reacionária visão dos Capitães hereditários(TENDO NOSSO EXÉRCITO Á FRENTE) sempre à espreita do universo político à direita do espectro político brasileiro.
Oportunizando assim, sobretudo aos jovens de hoje e de amanhã, conhecer um pouco que seja, da gênese do atraso, do autoritarismo, do entreguismo, da exclusão social , do racismo e do antinacionalismo injetados sempre e sempre na veia do que atualmente chamam de neo liberais tupiniquins, na verdade figuras integrantes do nosso udenismo ou como queiram Integralismo político.
Oportuno não esquecermos que grande parte do chamam de imprensa no Brasil, na verdade máquina de propaganda à serviço da direitona golpísta ou mais precisamente da extrema direita, imprensa essa, sempre azeitada e a posto para que possa cumprir seu triste, mesquinho, covarde e venal papel, qual seja, desinformar a nossa população quanto às causas e reais entraves do nosso desenvolvimento econômico e social.
Àqueles brasileiros ingênuos e alienados que pensam diferente, por favor, leiam, pesquisem e deixem de ser caixa de ressonância de um discuso hipócrita e criminoso, especialmente no atual momento que atravessamos quando estamos tentando ultrapassar latentes tentativa de golpes de estado, sobremodo à partir do ano de 2013, quando infelizmente, nosso Judiciário e nossa dita imprensa se irmanaram de vez no golpismo fabricado através do Mentirão (MENSALÃO) e Petrolão, tendo à FARSA A JATO (MADE USA), como Porta Estandarte de um golpe de Estado às escâncaras.
E tenho dito…!!!
François, como sempre, brilhante.
Golpe de Estado, 31 de março; militares.
Golpe Militar, Primeiro de Abril; na real!
Imagina que se ” comemorava a semana da patria!”
É de lascar!
F. Silvestre brilhante na escrita, fabuloso na Cultura!
Ass. Desconhecido Iguinorante
Um abraçaço
História, dessa forma de contar, é instrumento de libertação.