Por Josivan Barbosa
Estamos iniciando o plantio das primeiras áreas de melão e melancia da safra 2022/23 para atender ao mercado internacional. Assim, é importante que o nosso produtor conheça os seus potenciais concorrentes e sua produtividade. Na Tabela abaixo colocamos uma síntese em termos mundial.
A produção mundial de melão atingiu 28,468 milhões de toneladas ocupando uma área de 1.068.238 hectares, com produtividade média de 26,6 toneladas por hectare.
A nossa produtividade está muito abaixo daquela de países tradicionais no cultivo de melão como China e Espanha, entretanto, precisamos avaliar que percentual dessas áreas cultivadas pelos dois países são em campo aberto como é 100% da nossa produção.
Outro aspecto importante é que a Espanha trabalha muito com o melão Pele de Sapo e no nosso caso trabalhamos com praticamente todos os grupos de melão. A China produz muito melão cantaloupe que normalmente apresentam uma produtividade maior do que o tradicional melão amarelo, muito cultivado no Brasil.
No próximo ano completaremos 40 anos de cultivo de melão no Polo de Agricultura Irrigada RN – CE com destino ao mercado externo. Nesse período de 40 anos acumulamos muito conhecimento técnico e passamos de duas empresas na primeira metade dos anos 80 para cerca de 50 empresas na primeira metade dos anos 2020.
Todo esse crescimento foi feito graças ao setor privado, verdadeiros herói e aos investimentos do Governo Federal em obras de infraestrutura hídrica, como as barragens do Castanhão (Nova Jaguaribara – Alto Santo – CE), Armando Ribeiro Gonçalves (Açu – Itajá – São Rafael), Santa Cruz (Apodi), entre outras.
País | Área plantada (milhões de ha) | Produção (milhões de toneladas) | Produtividade (toneladas/ha) |
China | 385.756 | 13,838 | 35,9 |
Turquia | 76.129 | 1,725 | 22,7 |
Índia | 59.000 | 1,33 | 22,5 |
Iran | 58.520 | 1,28 | 21,9 |
Cazaquistão | 51.258 | 1,17 | 22,7 |
Guatemala | 28.384 | 0,665 | 23,1 |
Brasil | 23.827 | 0,614 | 25,8 |
Espanha | 18.520 | 0,611 | 33,0 |
Marrocos | 16.830 | 0,505 | 30,0 |
França | 13.110 | 0,267 | 20,3 |
Egito | 7.848 | 0,216 | 27,5 |
Tabela: Área cultivada (ha), Produção (milhões de toneladas) e produtividade (toneladas por hectare) de melão em países produtores. Fonte: FAOSTAT (2020). A coluna da esquerda não está na ordem de volume de produção. A Espanha está em décimo primeiro no ranking mundial.
O Governo Federal e os governos estaduais também investiram em obras de infraestrutura de perímetros irrigados como o DIBA (Distrito Irrigado Baixo Açu – Alto do Rodrigues), DIJA (Distrito Irrigado Jaguaribe – Apodi – Limoeiro do Norte), DISTAR (Distrito Irrigado Tabuleiro de Russas – Russas), entre outros.
Cajarana chega à Serra do Mel
Durante a nossa visita à Feira de Orgânicos de Mossoró conversamos com os sócios da Associação dos Produtores do PA Favela, que apesar de pertencer ao município de Mossoró, se relaciona mais com a municipalidade da Serra do Mel em função de estar instalado na divisa dos dois municípios.
A boa notícia é que os produtores já viabilizaram a instalação de 4,5 ha de cajarana e estão incentivados a aumentar a área.
Os produtores estão usando dois tipos de cajarana. Uma que produz frutos grandes (inicia a produção mais cedo – janeiro/fevereiro) e a que produz frutos pequenos e saborosos (produção mais tardia).
A concretização dos pomares de cajarana no PA Favela pode servir de modelo para que outras agrovilas possam implantar os pomares de cajarana e facilitar a instalação futura de uma fábrica de polpa de cajarana, agregando renda ao produtor. Também facilita a negociação com fábricas de polpa instaladas em outras regiões, como está acontecendo com o PA Pitomba em Governador Dix-Sept Rosado que negocia com o apoio do município a entrega do fruto para uma grande fábrica de polpa instalada na Serra de Pereiro.
Outro aspecto importante é que a cajarana passaria a ser uma fonte de renda no primeiro semestre e o caju no segundo semestre, como já é tradicional.
Prioridades de políticas públicas para o negócio rural
Nesses tempos em que se antecede as candidaturas ao Governo do RN, se faz necessário uma análise da situação atual do desenvolvimento do negócio rural do RN. Ambas, agricultura empresarial e agricultura familiar, precisam ser pensadas dentro das suas prioridades e necessidades. Vamos começar pelas demandas da nossa agricultura irrigada. Depois, abordaremos o tema para a agricultura familiar:
Construção de faixas de velocidade lenta ao longo da BR 304 para melhorar o fluxo de veículos pesados para os Portos de Natal, Mucuripe e Pecém e, como consequência, melhorar o fluxo de veículos pequenos.
Ligação da BR 304 a BR 406, com a construção de duas pontes (Macau e Areia Branca) facilitando o escoamento da produção da agricultura irrigada para o porto de Natal e o fluxo de turistas na Costa Branca.
Reinício do projeto de irrigação Santa Cruz do Apodi com o redirecionamento para um perímetro irrigado de agricultura sustentável (agricultura orgânica, agroecologia, agricultura sintrópica e similar).
Requalificação da área de lazer da Barragem de Santa Cruz visando melhorar o fluxo de turistas da região e, como consequência, atrair a população que trabalha no negócio rural da Chapada do Apodi.
Construção da Estrada do Arenito para beneficiar os produtores de caju, ligando os municípios de Severiano Melo e Apodi ao município de Tabuleiro do Norte (Olho Dágua da Bica), facilitando a ligação com a BR 116 e, consequentemente, com os portos cearenses (Mucuripe e Pecém).
Reinício da construção da Estrada do Melão (Etapa II) para beneficiar os produtores de Mossoró e Baraúna facilitando o escoamento da produção via BR 304 ou via RN 015 (Mossoró-Baraúna), e, como consequência, facilitar o escoamento da produção de derivados da indústria do calcário, já que na região há três fábricas de cimento e inúmeras fábricas de cal.
A estrada do melão também vai facilitar o acesso da população do Vale do Jaguaribe para as praias da Costa Branca do RN, notadamente Tibau, Grossos e Areia Branca.
Construção de uma via ligando a BR 110 a RN 117 a altura dos assentamentos Monte Alegre I e II para beneficiar o escoamento da produção de frutos tropicais, pois naquela microrregião já existe várias empresas instaladas e outras em processo de instalação.
Instalação de um packinghouse coletivo para embalar os frutos produzidos pelos pequenos produtores destinados ao mercado externo.
Requalificação do sistema de poços profundos dos assentamentos da região da grande MAISA como forma de beneficiar os produtores assentados.
Duplicação da RN 015 (Mossoró-Baraúna) facilitando o desenvolvimento da agricultura irrigada, da indústria do calcário e atração da população do Vale do Jaguaribe para o setor de comércio e serviços de Mossoró.
Requalificação da Estrada do Cajueiro, facilitando o acesso à Chapada do Apodi (Limoeiro do Norte e Tabuleiro do Norte). Integração das águas da Barragem de Santa Cruz com a Lagoa do Apanha peixe como forma de perenizar a mais tradicional lagoa da região do Apodi – Caraúbas e Felipe Guerra.
O Semiárido ampliará a exportação de manga na safra 22/23
O Brasil trabalha com a expectativa de ampliar em cerca de 8% a exportação de manga, apesar da preocupação das empresas exportadoras com a logística de colocação do produto no mercado de destino no tempo em que o produto ainda chega com a qualidade que o consumidor deseja.
Os principais problemas de logística verificados no ano passado como escassez de contêineres e frequência de navio devem se repetir na atual safra.
Como praticamente toda a exportação de manga para os Estados Unidos e Europa é feita por empresas instaladas no Semiárido (Polo do Submédio do São Francisco – Juazeiro Petrolina e Polo de Agricultura Irrigada RN – CE) então, pode-se afirmar que o Semiárido será responsável pelo incremento.
A região do Submédio São Francisco (polarizada por Juazeiro e Petrolina) responde por cerca de 90% das exportações de manga do país.
O país exporta manga durante todo o ano, mas o grosso da exportação ocorre no segundo semestre.
O ano passado o Brasil exportou 272 mil toneladas de manga, o que correspondeu a cerca de 250 milhões de dólares, ou ¼ das divisas do país em termos de exportação de frutos frescos.
Os produtores trabalham com um rendimento médio de 30 toneladas por hectare.
O mercado mais importante para a manga do Semiárido Brasileiro é o da União Européia (EU), sendo o Porto de Roterdã (Holanda) responsável pelo recebimento de 70% dos volumes de exportação. Os outros portos de destino da nossa manga são os da Espanha e Reino Unido.
O país exporta manga também para os Estados Unidos e, em menor volume, para Coréia do Sul e Oriente Médio.
Nessa safra o produtor trabalha com receios dos preços da manga no mercado internacional em função do problema mundial da inflação e do comportamento da economia como um todo nos países importadores.
Mossoró sustentável
Após avançar na troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de led, o município de Mossoró precisa agora dar um passo a frente no aspecto de sustentabilidade ambiental. É necessário sintonia da gestão municipal com a nova realidade do país. Esse movimento já foi iniciado por dezenas de prefeituras ao redor do país, embora os passos ainda sejam lentos.
Em São Paulo, o Desenvolve SP, banco de fomento do governo estadual, criou linhas de crédito especialmente voltadas a projetos de eficiência energética e energia renovável. Uma das orientações é promover a construção, nos municípios, de usinas fotovoltaicas para gerar energia solar, limpa e de baixo custo.
Segundo dados do Desenvolve SP, desde o início da pandemia, em março de 2020, até maio deste ano, foram financiados R$ 213,2 milhões para 59 prefeituras paulistas – o Estado tem 645 municípios. Os recursos foram utilizados para projetos de infraestrutura urbana, incluindo energia renovável, eficiência energética, água, saneamento, pavimentação e recapeamento. Nos dois anos anteriores à crise sanitária (2018 e 2019), foram financiados R$ 185,8 milhões. Portanto, houve aumento de 15%.
No setor privado, o Desenvolve SP reporta alta de 81,7% no financiamento para projetos sustentáveis em 2021. No ano passado foram desembolsados R$ 186,2 milhões para projetos que atendem a critérios ESG, contra R$ 102,5 milhões em 2020.
Seguindo o exemplo de São Paulo, o município de Mossoró pode trabalhar em sinergia com o Governo do Estado ou procurar um financiamento para instalar uma fazenda solar em bancos de desenvolvimento. O incentivo de bancos de fomento, inclusive do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é fundamental para acelerar o processo.
Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Ufersa
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