Deixei passar a euforia e ansiedade dos primeiros dias de exibição do esperado filme “O Homem Que Desafiou o Diabo”, longa metragem dirigido por Moacyr Góes. Gosto de prestigiar o cinema nacional e não poderia deixar de assistir a um filme que tem as cores e sotaques da minha aldeia.
Assisti numa segunda feira de primavera na sala do Moviecom. Platéia com menos de 20 pessoas que só se manifestava numa das muitas cenas eróticas e de nudismo do filme. O erotismo é um tema muito apreciado pelo autor de Ojuara.
A trilha sonora do filme é excelente, e o roteiro é uma adaptação do livro "As Pelejas de Ojuara", de Nei Leandro de Castro, grande poeta e autor de um outro excelente romance de maus costumes: “O Dia das Moscas”.
Ojuara, anagrama de Araújo, é um pícaro nordestino que enfrenta o diabo para alcançar o mítico País de São Saruê. Conhecendo bem o diretor do filme, não tinha muita expectativa que ele pudesse transportar para a tela a saga do rico personagem e seus muitos tropeços em terras nordestinas.
O filme é uma pasteurização da pasteurização da gorda e rica cultura popular brasileira. Muitos apelos ao erótico e algumas poucas cenas relevantes. Com destaque para a mulher da vagina de alicate que retira um prego utilizando a sua versátil ferramenta.
A associação da parte intima da mulher como algo que aprisiona o falo é clássica na literatura erótica. É fraca a atuação da fraca atriz Flávia Alessandra como a Mãe de Pantanha. O naipe masculino tem destaque no filme.
O ator Hélder Vasconcelos faz um excelente cão que leva e dá porrada no Ojuara. Leon Góes está muito bem como um corcunda que guarda a tenebrosa Mãe de Pantanha. Excelente a escolha do grande poeta Moysés Sesyon como um dos grandes personagens do filme.
Também gostei mais do Marcos Palmeira como Zé Araújo – com cabelo cheio de brilhantina, do que vivendo o pícaro Ojuara.
De um filme espero mais que entretenimento e lazer. Lamentavelmente os autores do filme “O Homem Que Desafiou o Diabo”, não souberam explorar o rico manancial de possibilidades que o livro do Nei proporciona.
As cenas são mal costuradas e não há uma seqüência que permita viajar no mundo mítico da verdadeira cultura popular nordestina. Salva-se a intenção e a boa música que Ojuara dança segurando na bunda das mulheres.
De tanto esperar e ouvir falar da gestação desse filme, saio da sala escura decepcionado e sonhando com o cão. Ou seria a mulher do trapézio. Vamos esperar o próximo. Quem sabe uma bela filmagem de O Dia das Moscas.
João da Mata Costa é professor e crítico cultural (damata@ufrnet.br)
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