Por Josivan Barbosa
Há quase quarenta anos que as áreas irrigadas do Nordeste conseguem inserir seus produtos na cena do comércio internacional.
Esses produtos (frutos tropicais) se concentram em algumas áreas especÃficas e, entre elas, destacam-se os polos produtores de frutas frescas para a exportação do Nordeste, especificamente, o Polo Petrolina-Juazeiro (PE-BA), localizado na região do Submédio do Rio São Francisco e o Polo de Agricultura Irrigada RN – CE, localizado na Chapada do Apodi, Vale do Rio Jaguaribe (CE), Vale do Açu e regiões circunvizinhas (RN).
O Polo de Agricultura Irrigada RN – CE se caracteriza pela produção de melão e melancia, com cerca de 20 mil hectares destas culturas sendo cultivados a cada temporada.
O Polo também apresenta um forte crescimento da cultura do mamão formosa nas duas últimas décadas e mais recentemente estão aumentando os cultivos com banana (mercado interno) acerola, maracujá, limão tahiti, goiaba e frutos exóticos como pitaya.
Com intuito de facilitar a compreensão do tamanho do negócio rural de frutos tropicais aqui na região sede da Expofruit, separamos a localização das principais empresas da agricultura irrigada do Polo em seis microrregiões a saber:
Microrregião 1:  Grande Maisa (Mossoró – Tibau – icapuà – CE e Aracati – CE) –  Compreendida pela presença das seguintes empresas produtoras de frutos tropicais: AgrÃcola Famosa (sede, Fazenda Santa Júlia, Fazenda Flamengo e Fazenda da Nolem – Califórnia e  Fazenda Paulicéia), Bollo Brasil Produção e Comercialização de Frutas Ltda (Sede – Fazenda Santana), Fruta Vida (Fazenda Pedra Preta), AgrÃcola Bom Jesus (Fazenda Santa Helena), Luso Tropical, Agrocanaã (ambas desativadas no momento), AgrÃcola Jardim, AgrÃcola Dinamarca, Brazil Melon (Sede, Fazenda São Romão e Fazenda Mata Fresca), Norfruit, Mata Fresca Produção e Distribuição de Frutas Ltda, Frumel, Renovare, Agropecuária Vitamais (Ecofértil) e J. B. de Paiva (EPP – melão).
Micorregião 2: Compreendia entre os municÃpios de Jaguaruana, Russas e Itaiçaba: Meri Pobo Agropecuária sede e DISTAR, Agropaulo, J. S. Salute (desativada) e AgrÃcola Famosa (DISTAR – Distrito Irrigado Tabuleiro de Russas).
Microrregião 3: Compreendida entre os municÃpios de Baraúna (RN), Quixeré – CE e Limoeiro do Norte (CE): AgrÃcola Famosa (Fazenda Fruitland, Fazenda Km 60, Fazenda Macacos e Fazenda Terra Nova), UGBP (Sede), Agropecuária Modelo, Cris Frutas, Frutanor, CK Agronegócio, Interfruit, Fruta Sollo, Frutacor, Fazenda Frota, W. G. Produção e Distribuição de Frutas Ltda (Fazenda Baraúna e Tomé), Bessa Produção e Distribuição de Frutas Ltda (Sede, Fazenda do Vale do Jaguaribe), Del Mont Fresh Produce (Fazenda Quixeré e DIJA), J. S. Salute (Fazenda Tomé), Tropical Nordeste e Terra Santa.
Microrregião 4: Compreendida entre os municÃpios de Tabuleiro do Norte (CE), Apodi (RN) e Felipe Guerra (RN): Bessa Produção e Distribuição de Frutas Ltda (Fazenda Campos), UGBP (Fazendas Campos e Campos Novos – desativada), AgrÃcola Famosa (Fazenda Baixa Verde e Fazenda Bevenuto), Angel AgrÃcola Ltda (Sede), E. W. Empreendimento AgrÃcola Ltda (Fazenda SÃtio do Góis), Mata Fresca Produção e Distribuição de Frutas Ltda (Fazenda BR 405 – Felipe Guerra), Bela Fonte Melon (divisa Apodi – Severiano Melo), Vitamais e Klinger (produtor).
Microrregião 5: Compreendida entre os municÃpios de Mossoró, Governador Dix-Sept Rosado, Caraúbas e Upanema (RN): Agrosol – JIEM AgrÃcola e Comercial Ltda, Agropecuária Vitamais – Ecofértil – (SÃtio Santana e Monte Alegre), W. G Fruticultura (RN 117), Renovare Upanema Agroindustrial Ltda, Dinamarca e Agrolemos.
Microrregião 6: Compreendida entre os municÃpios de Assu, Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, Afonso Bezerra, JandaÃra (RN) e Pureza (RN): Del Mont Fresh Produce, AgrÃcola Salutaris, Itaueira Agropecuária (Fazenda Ipanguaçu), Finoagro (Ex-Finobrasa), CMR Brasil Prod. Com. HortifrutÃcola Ltda (Fazenda Tubibal), Bollo Brasil (Fazenda Macau) e Caliman (Pureza – RN), AgrÃcola Potiguar e Terra Santa.
Como essas empresas ultrapassaram o perÃodo da grande seca (2011 – 2017)
Tradicionalmente a agricultura irrigada utiliza a água de irrigação proveniente de três fontes: AquÃfero JandaÃra (alto teor de sais com profundidade até cerca de 300 m), AquÃfero Açu (profundidade até 1200 m) e as barragens de médio e grande porte. Devido à extensa área de domÃnio do aquÃfero JandaÃra (16 278 km2) e devido também à facilidade de acesso ao recurso hÃdrico, por ser a Formação JandaÃra aflorante na maior parte do seu domÃnio (10 298 km2), esse aquÃfero se reveste de extrema importância para o fornecimento de água para o consumo humano, animal e para o uso na agricultura irrigada dessa região Semiárida.
As águas do aquÃfero JandaÃra reduziram-se significativamente a partir do segundo ano de seca (2013) e afetaram os municÃpios que produziam grandes áreas irrigadas como Baraúna – RN e Quixeré – CE, ambas localizados na divisa desses Estados. As principais culturas que tiveram suas áreas reduzidas em mais de 80% nesses municÃpios foram banana, mamão formosa, melão e melancia.
As principais barragens de importância para o fornecimento de água para a irrigação da região são, na ordem de capacidade de armazenamento: Castanhão (Nova Jaguaribara/Alto Santo -CE), Armando Ribeiro (Itajá/São Rafael/Assu – RN), Barragem de Santa Cruz (Apodi – RN) e Barragem de Umari (Upanema – RN).
No municÃpio de Alto Santo (CE), imediatamente antes desse longo perÃodo de estiagem, foi inaugurada a Barragem do Figueiredo, mas até o momento o volume de água armazenado é insignificante.
Ainda em construção, o Rio Grande do Norte possui um reservatório de porte médio, denominado de Barragem de Oiticica (capacidade em torno de 600 milhões de metros cúbicos) localizado no municÃpio de Jucurutu.
As águas do aquÃfero Arenito-Açu (baixo teor de sais e muito usadas para o consumo humano) foram utilizadas a partir da década de 1980 pela MAISA (Mossoró Agroindustrial S. A.), a principal empresa de agricultura irrigada da região até o final do século passado, mas, ultimamente o seu uso estava limitado, em função do custo energético do bombeamento, ao abastecimento do municÃpio de Mossoró – RN e de algumas comunidades da Chapada do Apodi.
Assim, com o reduzido fornecimento de água pelas barragens e a redução da água do aquÃfero JandaÃra em várias localidades tradicionais e o alto custo da água (investimento e custeio) do aquÃfero Arenito-Açu, as empresas adotaram as seguintes estratégias para continuarem mantendo a sua produção de frutas no Polo de Agricultura Irrigada RN – CE:
Algumas empresas de porte médio e grande, seguindo exemplos de outras que já haviam se instalado no inÃcio da década passada, ocuparam áreas por arrendamento ou aquisição, na região compreendida entre as divisas dos municÃpios de Apodi – RN, Severiano Melo – RN e Tabuleiro do Norte – CE, entre as estradas carroçáveis Transchapadão (ligando Apodi ao Distrito de Olho D`água da Bica) e a Estrada do Arenito (ligando os municÃpios de Apodi e Severiano Melo ao Distrito de Olho D`água da Bica), via comunidades rurais tradicionais de Campos Velhos e Campos Novos. Nessa região as empresas estão perfurando poços no aquÃfero Arenito-Açu em baixa profundidade (cerca de 150 a 300 m).
Este é o principal atrativo, ou seja, água de boa qualidade em baixa profundidade. Nessa região há solos mais argilosos, em cima da Chapada do Apodi e solos mais arenosos na região do entorno da Chapada do Apodi.
A principal dificuldade enfrentada pelas empresas nessa região é a necessidade de investimentos em infraestrutura de estradas e rede de alta tensão de energia.
Além disso há, também, necessidade de investimentos em infraestrutura de galpões de embalagens, cercas, instalações fixas de campo, pavimentação no entorno dos galpões de embalagens e áreas de acesso, depósitos e demais instalações fixas de campo.
Algumas empresas de porte médio e grande instalaram unidades produtoras no Vale do Açu, que apesar da dificuldade de água a partir da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, há uma boa perspectiva do uso de água de poços de baixa profundidade construÃdos no leito do Rio Açu.
As empresas de porte médio localizadas na região da Grande MAISA (Pau Branco, São Romão, Córrego Mossoró, Mata Fresca, Cacimba Funda e comunidades vizinhas) ampliaram as áreas neste entorno e estão cultivando melão e melancia. Esta região é a que apresenta maior capacidade de uso dos poços do aquÃfero JandaÃra, apesar da tendência do aumento da salinidade dos poços nos perÃodos de estiagem.
Outras empresas de porte médio da região de Pau Branco, instaladas ao longo da Estrada do Melão, fizeram a opção pelo investimento em poços profundos do Arenito-Açu, com profundidade em torno de 900 a 1000 m. O valor médio investido por poço profundo nessa região ultrapassa R$ 2,5 milhões. Apesar do elevado investimento e do custeio de energia para o bombeamento da água em grande profundidade, os produtores não precisam investir em infraestrutura nova, como é o caso das empresas que mudaram para novas áreas distante 100 a 150 km da sede. Há também a vantagem de mistura de água de baixa salinidade (Arenito-Açu) com água de alta salinidade (aquÃfero JandaÃra) o que torna mais fácil o cultivo de melão e melancia, sem causar grandes problemas para a cultura e para o solo.
As empresas de pequeno e médio porte arrendaram ou compraram terras na região de Upanema – RN que, apesar da limitada capacidade de áreas, apresenta bom potencial para a perfuração de poços no aquÃfero Arenito-Açu em baixa profundidade. Esta região cultiva frutas tropicais há mais de 20 anos. Uma grande empresa da região adquiriu áreas na região de Pedro Avelino, Sertão Central do RN, onde passou a utilizar a opção de poços profundos do Arenito-Açu, pois esta região é caraterizada por baixa profundidade dos poços.
Algumas empresas estão tentando se instalar em outras regiões do Semiárido, como o Vale do São Francisco (Petrolina-Juazeiro) e a região de ParnaÃba no PiauÃ.
Há, ainda, uma empresa de grande porte, instalada na região de Jaguaruana-CE, que está construindo um canal de irrigação a partir do Rio Jaguaribe e, ao mesmo tempo, investindo em poços profundos do Arenito-Açu, como forma de enfrentar o desafio de produzir frutas tropicais na Grande Região Jaguaribe-Apodi.
Uma opção foi a região compreendida entre os municÃpios de Caraúbas e Upanema, onde há boas perspectivas para a perfuração de poços no Arenito-Açu com profundidade em torno de 300 a 400 m. Esta região já havia sido explorada no inÃcio da década de 1990 pela antiga Fazenda São João, tradicional empresa de agricultura irrigada da região de Mossoró que foi desativada no inÃcio dos anos 2000.
Algumas empresas novas ou que estavam instaladas na microrregião 1, adquiriram áreas na região de JandaÃra, que, apesar, da baixa vazão dos poços, tem sido uma opção nesse perÃodo de seca. A exemplo de JandaÃra, algumas empresas também procuraram se instalar nos municÃpios de Afonso Bezerra e Pedro Avelino, no Sertão Central do RN.
As fruteiras banana, melão e melancia e cultivo do mamão formosa, o qual passou a ter importância destacada nos mercados local, regional, nacional e europeu.
Atualmente, há várias empresas de médio porte instaladas na região de Baraúna, exclusivamente voltadas para a cultura do mamão formosa. Algumas delas trabalham com cultivos próprios e outras trabalham de forma integrada com médios e pequenos produtores.
Houve ainda o caso de uma empresa que adquiriu uma área no Vale do Rio Jaguaribe (Russas), mas que, até o momento não logrou sucesso em razão da falta d`água no leito do rio por limitação do volume da Barragem do Castanhão.
 Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA)
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