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domingo - 08/08/2021 - 12:38h

O menino e o parque de diversões

Por Odemirton Filho 

O menino corria de um lado para o outro no parque de diversão, indo a cada brinquedo, pula-pula, carrossel, carrinho bate-bate, entre outros. O parque estava lotado de crianças e adultos.

Eu acompanhava a minha filha nos brinquedos de sua preferência. Entretanto, não tirava os olhos daquele menino. Ele não sabia para onde olhava. Ora parecia feliz, ora triste.parque de diversões

Depois de um certo tempo percebi que o menino não brincava, nem lanchava. Num parque de diversão, como é natural, a criançada gosta de se lambuzar com algodão-doce, comer cachorro-quente e tomar refrigerante, além, é claro, de “rodar” nos brinquedos.

Todavia, aquele menino, não. Estava sozinho no parque. Ninguém o acompanhava. Eu continuava a observá-lo. Ele ficava alguns minutos em cada lugar e sorria com o sorriso dos outros meninos nos brinquedos.

Por um momento minha filha parou para lanchar. Como o menino passou próximo de onde eu estava, chamei-o. Perguntei se queria brincar e comer alguma coisa. Cabisbaixo, fez um gesto afirmativo.

Tentei “puxar” conversa, mas ele era tímido como a maioria dos meninos de sua idade. Morava na favela do “Pirrichiu”. “Tava” doido pra brincar, mas os seus pais não podiam comprar as fichas, pois tinham mais três filhos pequenos. Se comprassem para ele, era preciso comprar para os outros irmãos. Comprei duas ou três fichas e paguei um lanche para o menino.

Ele agradeceu, encabulado. Depois, saiu em disparada para “rodar” no brinquedo de sua preferência. Feliz da vida. Era apenas uma criança sendo criança. Nada mais. Ainda cheguei a vê-lo por um instante, com um sorriso no rosto, “rodando” nos brinquedos. Numa alegria só. Ele acenou para mim. Eu sorri.

Certamente muitas pessoas tiveram atitude semelhante. Ou fizeram algo mais. Mas o fato é que eu senti uma profunda paz na alma. Sim, sempre há algo a se fazer pelo outro, principalmente, nesses tempos difíceis. Nem que seja uma palavra de carinho e um pouco de atenção.

Por isso, dizem por aí que “a gente só é o que faz aos outros. Somos consequência dessa ação. Talvez a coisa mais importante da vida seja não vencer na vida. Não se realizar.

O homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final”.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Aurineide Pereira de Oliveira diz:

    O mundo é muito injusto! Seria tão diferente se cada um, fizesse “sua.parte”! Mas a Humanidade, anda extremamente desumana! Triste!

  2. Inácio Augusto de Almeida diz:

    A felicidade não está no TER ou no SER. A felicidade está no FAZER!
    Um dia todos entenderão isto e não mais se espantarão com a tristeza do IMPORTANTE, o choro do RICO e a alegria do homem que passa a caminho de FAZER o bem.
    Por este sorriso e este aceno desta criança você vê que a felicidade custa pouco e está tão perta de nós…
    É tudo uma questão de abrir o corração ao que verdadeiramente importa.
    Há mais de 2.000 anos Jesus Cristo nos deixou a lição numa parábola, mas poucos entenderam a mensagem do Mestre.
    Mais feliz do que a criança ficou você. E esta felicidade sempre estará com você ao se lembrar do sorriso e do aceno da criança que Deus colocou no seu caminho.
    Um bom domingo dos pais para você e para todos os pais do mundo.

  3. Jucileide diz:

    O menino triste Não está Só no parque… Está na rua…na sala de aula…na piscina… E até na igreja que diz que ama… Todos sonhamos!!! Mas quem se importa???

    Jucileide…

  4. Amorim diz:

    Emocionante!
    Um abraçaço.

  5. Rocha Neto diz:

    Caro Odemirton, já presenciei esta triste cena narrada por você por inumeras vezes, realmente chega doer em nossas almas o que uma criança padece pela falta do amor e resistências humanitárias, você narra o acontecido num parque de diversões, e eu me remeto ao que vez por outra tenho assistido em caixas de supermercados quando lá já presenciei mãe chorando porque não tinha como pagar tudo (pouco) do que havia pego em gôndolas, geladeiras e açougue, ppr diversas vezes socorri a situação, mais das cenas que me marcou profundamente foi quando uma senhora mandou devolver a carne dizendo que o dinheiro só dava pra pagar o leite do filho de 6 meses de vida, ela dizendo que poderia ficar sem a mistura e que o leite do filho era mais essencial, e fazendo isto com sorriso no rosto enquanto o meu coração sangrava, para não sofrer mais ainda eu fiz com que ela voltasse ao normal levando para sua casa tudo o que ela havia separado em sua cesta de supermercado. Por tão pouco podemos fazer alguém se sentir bem e nossas almas ficar em sossego. Grato Deus por tudo, inclusive pela inteligência ímpar do amigo Odemirton que adora o Parque de Diversões. 👍👍

  6. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    Meu caro Odemirton, num mundo, cada vez mais EXCLUDENTE e refratário ao coletivo e, sobretudo ao bem comum, em que a maioria fala muito em Deus, claro , da boca pra fora, quando em verdade o DEUS SE CHAMA DINHEIRO, posto que a praxis existencial da maioria, INFELIZMENTE, no sumo do sumo, significa…..

    “.EU ESTOU BEM, OS DEMAIS QUE SE EXPLODAM” !

    Oportuno seu escrito, quando lança luzes nas “RAZÕES” do coração, tecendo sob o signo do mais simples e singelo olhar, que na verdade reflete Solidariedade, única via que pode permitir o ser humano continuar sendo ser HUMANO, via está que é a via de mão DUPLA.

    O dar e receber, o não vender mas, trocar, nos faz, no bom sentido, voltar ao primitivo homem que ainda existe e resiste , mormente quando enxerga na criança o enunciado da inocência perdida, sobretudo, um caminho na resistência aos cataclismas do individualismo CEGO, do hedonismo doentio e do mentiroso discurso da meritocracia neo-liberal.

    Um baraco
    FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO.
    OAB/RN. 7318

  7. LUCIA DE FATIMA CABRAL ROCHA diz:

    Sei muito bem o que é isso. Já passei pela mesma situação em parque, quando criança. Infelizmente, não encontrei ninguém sensível ao ponto de bancar minha diversão. Vida que segue. Hoje, vejo a disparidade entre as pracinhas da cidade. Nos bairros, deterioradas, sem brinquedos para a criança simples, dai você vai na praça do Rotary, na Nova Betânia, e vê crianças ricas, do bairro, diverstindo-se em inúmeras opções de brinquedos gratuitamente. Nossos gestores e vereadores devem observar isso e insensíveis, preferem ignorar. Eles têm dinheiro para os filhos e netos se divertirem nos parques pagos.

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