• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 26/07/2009 - 10:07h

O mercado imobiliário de Mossoró

Todos os dias surgem noticias sobre novos empreendimentos imobiliários em nossa urbe amada. E se percebemos, todos estes empreendimentos são direcionados a uma pequena parcela da nossa população que é de um poder aquisitivo mais alto. Pensando nisso podemos afirmar que o mercado imobiliário de Mossoró está crescendo de forma bastante perigosa.

Dizemos isto baseado no que percebemos ao darmos uma olhada mais criteriosa ao processo de desenvolvimento que aqui ocorre. Observamos que este mercado em expansão é sustentado quase que totalmente por empresários, e por funcionários públicos de autarquias federais, estaduais e municipais, em sua maioria, ganham acima de R$ 4.000,00.

O que deixa à margem desse processo quase 90% de nossa população que vive com no máximo três salários mínimo.  Comprar um imóvel hoje em Mossoró nos parece ser uma missão suicida. É ficar submetido ao bel-prazer das construtoras, que cobram juros e taxas exorbitantes.

Sem falar que há por trás desses empreendimentos uma especulação “quase” criminosa. Dizemos quase entre aspas pelo motivo de não podemos afirmar esses atos ilegais. Mas vamos explicar nosso posicionamento. 

O que estamos notando que ocorre é uma supervalorização de terrenos que há pouco tempo teriam sido comprados por uma bagatela. Isso se dar da seguinte forma: Alguns senhores que detém informações valiosas sobre futuros empreendimentos de grande porte que chegará a cidade compram os terrenos do setor onde será instalado o empreendimento por preços bem baixos e quando se confirma à chegada do empreendimento na cidade eles num piscar de olhos aumentam os valores de forma exorbitante. 

Essa movimentação é responsável pelo impedimento das classes de menor poder aquisitivo ter acesso à uma moradia mais digna. Comprar um imóvel em Mossoró sendo este financiado pela CEF é raridade. Quando o valor do imóvel é abaixo de R$ 100.000,00. Isso pode ser considerado como ganhar na loteria, pensamos que é muito mais fácil acertar o grande prêmio que conseguir a tão sonhada casa própria. Não estamos sendo exagerados. É difícil mesmo.

Uma grande parte das casas em Mossoró não possui escritura própria. Os poucos imóveis que possuem essa escritura própria que é um requisito necessário para termos o financiamento pela CEF, estão acima dos R$ 100,000,00.

As imobiliárias de Mossoró juntamente com as construtoras são responsáveis pelos elevados preços dos imóveis, uma especulação que deixa de fora as pessoas que ganham até 5 salários mínimos.  O que vem ocorrendo é que a concentração de renda favorável da população de Mossoró para a compra de um imóvel está na casa de 3%, quantitativo este que move o mercado imobiliário.

Sendo assim, o programa do governo MINHA CASA MINHA VIDA está longe de se tornar uma realidade por não ter projetos que possam atender as pessoas que ganham 3 a 10 salários mínimos, muito menos àqueles que ganham até três salários;  Podemos observar claramente que as construtoras em Mossoró tem foco apenas para as pessoas que possam comprar apartamentos ou casas acima de R$ 100.000,00.  

Há  outros mecanismos que leva á esse perigoso futuro para o mercado imobiliário na nossa cidade. Um deles é o fato que a maioria dos vendedores de imóveis em Mossoró não é habilitada para o exercício da profissão por não possuírem o CRECI. Dessa maneira eles usam a sua capacidade de um bom relacionamento com os clientes.

O networking, como diz os americanos. Ou seja, uma rede de relacionamentos que facilitam aqueles que à possui, uma maior possibilidade de bons negócios.

O que ocorre em Mossoró é que estes captadores que através das amizades que possuem, utilizam seu prestigio para, assim, eles realizarem suas vendas e ganhar dinheiro fácil. Assim eles são captadores de comprador ou investidor e não corretor já que não têm uma formação que os especialize nesse tipo de negócio, como seria o mais correto e sensato. Isso ocorre por que as imobiliárias de Mossoró estão aptas a absorver este tipo de perfil, um verdadeiro negócio da china, já que não precisam contratar profissionais de carreira.

O que ocorre é que as imobiliárias de Mossoró por não terem corretores competentes ou até mesmo não habilitados, estão importando corretores de Natal e Fortaleza ao invés de formarem mão de obra especializada aqui mesmo na cidade através de cursos que os capacite. Isso valorizaria o mercado imobiliário local e fortalecia a economia já que o produto desse desenvolvimento seria depositado aqui mesmo. 

Não sabemos até que ponto esse tipo de mercado liberal é proveitoso para o engrandecimento da economia dentro do sistema que vivemos que é o capitalismo. Todavia um pouco de protecionismo por parte de nossos governantes traria mais acesso aos moradores de baixar renda a possibilidade de sonhar com a casa própria.

É preciso reunirmos os todos os esforços em medidas que possam coibir esse crescente uso do capital para uma minoria privilegiada. É de suma importância refletimos sobre as causas que esse desnivelamento de oportunidades poderá causar num futuro bem próximo.

Fábio Alves Valentim é graduado em Filosofia e Especializando em Ética e Filosofia Política pela Uern

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. ze roberto diz:

    O direcionamento desses produtos a uma pequena parcela de pessoas financeiramente “capacitadas”,tornará muito em breve,saturado tal mercado; o filé do mercado imibiliário,na era Lula,tende a produtos que mirem as classes C e D,ou seja,imóveis de valores entre R$ 40.000,00 e R$ 70.000,00.Professor Carlos Escóssia,”é mentira,Terta?”

  2. Valtércio Aunciato Da Silveira diz:

    Senhor Ze Roberto, na minha humilde análise, o Senhor está certo em todas suas palavras grafadas no comentário acima. No início dos anos 80 do século passado, eu, recém formado, sem dinheiro, já casado e pai de família, me aventurei neste mercado. Na época, me dei muito bem, ganhei algum dinheiro que permitiu que eu construísse uma casa ( localizada ao lado da Panificadora Frota ), é bem verdade que eu e minha ex-esposa, tivemos a paciência de esperar 11 anos para concretizar este sonho.
    Hoje, não tenho condições financeiras nem de comprar um terreno, mas, guardo em meu coração o orgulho de ter sido pioneiro em construções verticais e domiciliares na terrinha.

    E hoje, o que acontece com o mercado imobiliário de Mossoró???, uma ilusão que infelizmente, poderá levar algumas empresas à insolvencia. Quando o Senhor falou acerca dos preços dos terrenos, me lembrei de um fato ocorrido a anos atrás com um irmão meu.
    O Cine Caiçara estava à venda, o preço divulgado era R$ 200.000,00. Este meu irmão, comerciante e precisando de espaço para fazer depósito, me chamou, pediu para que eu avaliasse um terreno de sua propriedade, localizado na dita estrada de Baraúnas. Assim o fiz e, cheguei ao preço de R$ 100.000,00, ao que ele me disse, ” meu irmão, eu me imprenso por aqui e farei o negócio ”

    Chamou, para mim, o suposto corretor e disse que tinha este terreno, que ele fosse avaliar e voltasse para continuar a conversa.
    Qual não foi nossa surpresa, no dia seguinte, o Caiçara já valia R$ 250.000,00 e o terreno do meu irmão, acredite, apenas R$ 40.000,00. Meu irmão agradeceu e nada mais evoluiu.
    O Caiçara foi vendido tempos depois por R$ 200.000,00, mas, a estas alturas, já haviávamos comprado outros imóveis para acomodar as mercadorias.
    Só tem um detalhe, as partes envolvidas não sabiam que eu era e sou AMIGO do ex-dono do Caiçara. Não o via há muitos anos, mas, certo dia, nos encontramos em um restaurante, foi uma grande alegria, conversamos bastante e, no final, lembrei-me de contar o fato a ele.
    Sem titubear, o meu AMIGO telefonou para o corretor e, daw mesa do restaurante, dispensou seus serviços, desautorizou qualquer trabalho dele e assim o fez.
    Uma coisa é ser corretor de imóveis, outra é ser atravessador ou agiota.
    Parabéns senhor Zé Roberto

  3. FRANSUÊKLDO VIERIA DE ARAÚJO diz:

    Caro Fábio, veja que mesmo a despeito de várias políticas inclusivas advindas desde o início do governo LULA, ainda permanece intocada a mentalidade individualista-excludente da maioria dos que de alguma forma detém poder e mando neste país. No caso da habitação popular, a ganância por lucro fácil e o imediatismo com que se agenda através das construtoras ligadas a grupos políticos tradicionais, a implementação de tais programas , históricamente têm demonstrado o fracasso, para que de fato, quem não possui moradia à ela tenha acesso. Dentro desse contexto, de maneira alguma devemos esquecer a nossa cultura escravocrata, na qual, está umbilicalmente engendrada e vinculada os modos e costumes que invariavelmente favorecem – indepentes de seu estamento social – aos já abastados, ficando os da base da piâmide social à mercê da famosa “solidariedade” tupiniquin, que nada mais nada menos distribui migalhas aos indigentes e aos que estão praticamente submersos no Pântano do histórica e praticamente imutável estado de miséria da maioria dos nacionais.

  4. PAULO ROBERTO NOGUEIRA DA COSTA diz:

    Meu Caro Carlos Santos.
    Saudações cordiais.

    Gostaria de entrar no mérito da questão levantada pelo Sr. Fábio Valentim a respeito do Mercado Imobiliário de Mossoró.
    Com a quebra do antigo BNH-Banco Nacional da Habitação, que proporcionou ao país grandes realizações à época, e que através de desmandos e negociatas veio a ser encampado pela Caixa Economica Federal, deixou a nós, Empresários da Construção Civil, órfãos e tendo que exercer a nossa atividade fazendo papel de Financiadores da Construção de Unidades habitacionais.
    Ora, somos efetivamente construtores. Acontece que, na ausencia de um Banco ou instituição financeira que nos auxiliasse nessa tarefa, nos obrigou a executar as nossas obras para uma classe com disponibilidade para pagar mensalmente os custos da construção. Precisamos dismistificar que nós construtores somos desonestos ou especuladores.Banco é feito para emprestar dinheiro, engenheiros e construtores somos preparados para construir e empreender.O que falta a esse país é uma politica correta para a habitação, já que o deficit nesse setor é enorme.Não politicas com finalidade eleitoreiras, para empulsionar campanhas de A ou B, que nunca chegam a sair do papel e da retórica, como essa tal de Minha casa, minha vida. Precisamos sim, de politicas claras, juros compativeis e facilidade de crédito.Quando isso existir, pode ter certeza que nós deixaremos de ser banco e passaremos a execer apenas a nossa função.
    Forte abraço
    Paulo Roberto
    Crea 954D e CRECI 2030RN

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