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domingo - 07/12/2014 - 07:08h

O palanque e suas figuras

Por François Silvestre

As campanhas políticas, nas movimentações de rua ou na falação dos palanques, é um teatro riquíssimo na improvisação e na graça dos repentes populares.

Num comício, em Umarizal, meio dia de Segunda-Feira, na feira do lugar, com gente da região Oeste, da Paraíba e Ceará, falava Odilon Ribeiro Coutinho, na Praça Aluízio Alves, na carroceria de um caminhão, defronte da farmácia de Paulo Abílio.

Com seu gestual singular, onde os braços desengonçados sobre a cabeça regiam as palavras como um maestro da retórica. E dizia: “Abriram pelo espinhaço o corpo sofrido do meu povo; e de lá, ainda sangrando, lhe arrancaram o coração que se debate sedento de liberdade”.

Fez a pausa, como se faz nas falas do teatro, e perguntou à plateia que o ouvia no meio do sol, atentamente:

“E o povo, ganhou o quê com isso”?

Um bêbado, que dançava no pé do palanque improvisado, respondeu gritando:

– Ganhou a do burro!

Nem Odilon conseguiu conter a risada, que também se espalhou por toda a praça.

Candidato a Deputado Federal, fui fazer alguns comícios relâmpagos no bairro de Nova Descoberta. Ali pelas imediações do supermercado Pão de Açúcar, onde hoje há um monstrumento dito cristão. Ao formar-se um pequeno aglomerado, comecei a falar, numa Kombi com seis funis de som.

Notei um rapaz de braços cruzados, de olhos vidrados em mim, numa concentração que me chamou a atenção. Passei a dirigir-me a ele. Dizia alguma coisa para os outros presentes e me voltava pra ele: “Taí esse companheiro, muito atento, que demonstra concordar comigo. Não é isso, companheiro”?

Falava e apontava pra ele. E ele não se mexia. E eu, animado, repetia vez ou outra a mesma fala, dirigindo-me a ele.

Numa das vezes, uma mulher que estava ao seu lado, gritou de lá: “Ele é surdo-mudo”.

Foi o fim do comício.

Jota Belmont, candidato a deputado, levava para o palanque sua experiência de comunicador de rádio. Conseguia prender a plateia, com discursos bem articulados e de fácil compreensão. Ele costumava terminar sua fala com a célebre oração de São Francisco. Era o apogeu do discurso.

Numa certa feita, Joaquim Úrsula e Júnior Targino urdiram uma presepada. Mandaram que eu decorasse a referida oração, para fazê-la antes da fala de Belmont. Queríamos deixar o ilustre radialista sem o desfecho brilhante do seu discurso.

Ocorre que Belmont, muito espertamente, tinha outra oração decorada, para qualquer eventualidade.

Depois ele nos contou que sempre esperara por alguma sacanagem dessa ordem. Quebrou nossa cara.

Havia uma técnica de puxar na camisa do orador, quando ele se estendia demais. Certa vez, fizeram isso com Osnildo Targino, prefeito do Junco.

Ao sentir o puxão na camisa, Osnildo reagiu com firmeza e indignação:

“Não puxe minha camisa, venha pra linha de frente e enfrente a multidão”.

mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal

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Categoria(s): Artigo

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