Por Kennedy Diógenes
O Fórum Econômico Mundial de 2025, em Davos, projetou que, com a implementação da IA, cerca de 92 milhões de empregos poderiam desaparecer, mas, em compensação, surgiriam até 170 milhões de novos postos de trabalho.
De fato, a IA torna-se cada vez mais ubíqua em nossas vidas. Os assistentes pessoais tornaram-se verdadeiras extensões cognitivas, adaptando-se ao nosso modo singular de pensar e agir. Para ilustrar: cirurgias complexas são cada vez mais realizadas com IA, chegando a casos de autonomia significativa sob supervisão humana; demandas judiciais de massa são gerenciadas — da elaboração à análise preliminar — por agentes jurídicos especializados; cálculos complexos, previsões econômicas e gestão financeira atingem níveis inéditos de precisão e velocidade graças à IA.
Desabrocham novas possibilidades, pois, com a IA como parceira, obras antes planejadas para anos concretizam-se em meses; projetos previstos para meses finalizam-se em dias; tarefas exigindo dias de esforço completam-se em horas… O limite humano de ontem cede à realidade factível de hoje, mediada pela IA.
E o humano? Sua essência adaptativa, alicerce de sua prosperidade como espécie, reafirma-se.
Tarefas repetitivas são automatizadas, demandando humana supervisão amostral e validação de exceções. Como na Revolução Industrial, onde o ferreiro se tornou operador de máquinas, reinventamo-nos.
No século XX, hard skills — conhecimento técnico, fluência linguística, especializações — eram os principais diferenciadores profissionais.
No século XXI, soft skills — empatia, liderança, comunicação, criatividade — tornaram-se imperativas.
Na Era da IA, um novo patamar emerge: o domínio técnico e a precisão, dominados pelos agentes especializados, exigem do humano o desenvolvimento agudo de competências singulares: a comunicação eficaz com a IA (construção de prompts precisos) e a análise crítica e contextualização dos resultados gerados.
Assim, enquanto a IA responde às demandas com lógica e eficiência técnica, cabe exclusivamente ao humano, munido de sensibilidade e valores inerentes, processar — não em circuitos, mas no âmago da experiência — o singular, o ambíguo, o profundamente humano. Pois em incontáveis situações compreender uma alma exigirá sempre outra alma.
Neste paradoxo, a IA, ao assumir o mecânico, devolve ao humano o espaço vital para reencontrar sua humanidade: tempo para o olhar interior e, a partir dessa jornada, enxergar o outro com autenticidade — luzes e sombras integradas.
Kennedy Diógenes é advogado especialista em Direito Empresarial
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