Por Odemirton Filho
No portão da entrada de sua casa, o rapaz se despediu dos seus pais. Abraçou e beijou, de forma carinhosa, cada um. Viam-se lágrimas escorrerem nos rostos.
– Benção, mãe – Deus te abençoe, meu filho.
E partiu.
Partiu para começar uma nova vida longe da família. Foi trabalhar lá para as bandas da região Norte do Brasil.
Nos dias que se sucederam, a mãe do rapaz ficava a olhar o quarto do seu menino, tudo no lugar. O violão encostado em um canto; os carrinhos da coleção em uma estante; alguns livros do colégio. Cada vez que entrava no quarto sentia uma dor doída.
Não é fácil para os pais verem os filhos “ganhando o mundo”, mesmo sabendo que faz parte da vida. “Criamos os filhos para o mundo”, diz o ditado popular. Mas o pai e a mãe sofrem quando os filhos saem de casa. E deve ser imensurável a dor de quem enterra um filho. Rasga a alma.
Com aquela mãe não era diferente. Às vezes, ao preparar uma refeição, lembrava do filho. Vez em quando as lágrimas ajudavam a temperar o feijão. Nas festas de fim de ano e aniversários, sentia ainda mais a sua ausência. Lembrava do sorriso, das brincadeiras. Por vezes, a mãe ficava à janela, como se esperasse seu filho.
O tempo passou. O “menino” formou família, com mulher e filhos. Como o dinheiro era pouco, somente de raro em raro o filho vinha visitá-los; quando vinha, era uma festa. Nos dias que antecediam a chegada os preparativos eram muitos.
A mãe fazia uma boa faxina no quarto, elaborava um cardápio bem caprichado das comidas que o filho, a nora e os netos gostavam.
Eram dias de alegria, sorrisos. Os netos correndo pra lá e pra cá; brincando sobre a cama. A casa ficava viva. Sem falar nos passeios pela cidade, as visitas aos familiares, o banho de mar.
No dia da partida, porém, era uma tristeza. O menino vai ganhar o mundo de novo, pensava a mãe. O pai fazia-se forte, contudo, sentia um nó na garganta.
A mãe olhou para o quarto do filho; sem a bagunça e a alegria de outrora. Ouvia-se o silêncio. Mas, na verdade, o quarto nunca esteve vazio. Sempre esteve repleto de saudades.
Deus te proteja, meu filho.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Mas que beleza de texto,
Meu caro Odemirton Filho.
Isso é mais do que um pretexto
Para louvar o seu brilho.
Meu caro Marcos Ferreira: você é uma referência para mim e tantos outros.Seu comentário/elogio, deixa-me bastante feliz. Incentiva-me.
Um forte abraço.
Sei bem o que é isso! Nunca estamos preparados para o futuro dos filhos. No nosso interesse, que bom que nunca saíssem de perto. Vivo essa realidade. Uma filha sai pra fazer mestrado em outro país e lá encontra sua cara metade. Hoje morando longe, só consigo ter convivência de tempos em tempos. Hoje estou voltando ao Brasil, após ter passado um mês ajudando com as crianças. Aqui as aulas recomeçam em setembro e com a transferência de São Paulo pra França, as crianças precisavam de alguém pra cuidar enquanto os pais trabalhavam. Ajudamos! Estamos voltando. Quando voltaremos a nos ver, ainda não sabemos. O quarto dela estará sempre disponível e o coração, também!
Pois é, minha cara Bernadete, principalmente o nosso coração está sempre disponível aos nossos filhos.
Obrigado pelo comentário.
Tenha uma semana com paz e luz.
Você hoje Odemirton, se mostrou como nunca!!!
Sei de suas qualidades e capacidade para escrever sobre o assunto que bem querer ser.
Mais hoje você me causou uma santa inveja, a qual é um dia escrever como você, claro pelo nosso Marcos Ferreira.
Sua crônica tá por demais supimpa!!
Tô pensando em botar Carlos Santos num canto de parede só pra cobrar proventos pra você e o outro artista de nome Marcos Ferreira, só que vai ser difícil!! Porquê o aprendizado vem de Carlos, e o mesmo já recompensa todos nós com a presença da dupla aqui no BCS.
Valeu amigo, e até a próxima crônica supimpa.
Meu querido Rocha Neto, muito obrigado pelo generoso comentário, o qual me motiva a seguir em frente.
Um forte abraço e uma semana abençoada.
NOTA DO BLOG – Meu incentivo também, Odemirton. Sua crônica remete cada um de nós, pais, à memória afetiva. A partida dos filhos à sua vida autônoma deixa muita coisa para trás.
Que maravilha!
Verdade. Ficamos felizes com o voo dos nossos filhos, mas a saudade é uma constante.
Obrigado pelas palavras, meu caro editor, vamos em frente.
Abraços!