• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 24/02/2008 - 22:31h

O Rio Mossoró e o “cheiro do ralo”


Recentemente, assisti ao filme brasileiro intitulado “O Cheiro do Ralo”. Trata-se de enredo bastante original, protagonizado pelo brilhante Selton Melo. No filme, o personagem principal ganha a vida adquirindo objetos usados.

Trata-se de sujeito frio e egoísta, que se regozija ao ver as pessoas se desfazerem de objetos de elevado valor sentimental – normalmente a preço vil – premidas pela necessidade financeira. 

Apenas uma coisa preocupa o sujeito: um mau cheiro que é exalado pelo ralo do banheiro do seu escritório.

Certa feita, um de seus “fregueses”, após ser humilhado, questiona-o provocativamente sobre aquele mau odor. O diálogo segue mais ou menos assim:

– Que cheiro é esse? Indaga o freguês.

– É o cheiro do ralo. Responde o interlocutor.

– Não, o cheiro é seu. Afirma o primeiro.

Exasperado, o protagonista insiste:

– De forma alguma, o cheiro é do ralo…

Friamente, o cliente indaga:

– Quem usa esse banheiro?

– Apenas eu. Responde o outro.

– Então! De quem é o cheiro? O cheiro é mesmo seu! Conclui o freguês, para desespero do comerciante.

Recentes discussões sobre o mau cheiro que tem tomado conta de alguns bairros de Mossoró nos finais de tarde das últimas semanas sempre me remetem a essa cena. É que se tem afirmado, com certa freqüência, que o mau cheiro que sentimos “é do Rio Mossoró”.

Ouso divergir, pois o mau cheiro pode até estar no Rio Mossoró, mas não lhe pertence: o cheiro é nosso! A fauna aquática não teria produzido esse mau odor que, aliás, é o inconfundível odor do esgoto produzido pela ação humana.

Portanto, o cheiro é nosso. É nosso porque lançamos esgotos “in natura” nas galerias pluviais, através de ligações clandestinas. É nosso porque não nos preocupamos com o destino de nossos rejeitos, desde que vão para bem longe dos nossos narizes. É nosso, finalmente, porque preferimos que o dinheiro público seja aplicado em praças, festas e algumas frivolidades, quando ainda não temos sistema público adequado de coleta e tratamento de efluentes.

Gostemos ou não: esse cheiro é nosso!

Jorge Cruz de Carvalho é promotor de Justiça em Mossoró

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. lucia de fatima dos santos diz:

    Carissimo Promotor, Certamente que o nosso “Cheiro” não está apenas nas proximidades do rio Mossoró, mas está presente nos esgotos das praças (mesmos que alguem as chamen de belas) nos terrenos baldios dos bairros, nos munturos de ricas mansões, nos dominios das lojas e magazines e até bem perto da faculdade de medicina e um dos maiorers hospitais da região. esse é o NOSSO CHEIRO. Parabéns.

  2. Igor Rosado diz:

    Caro sr. Jorge Cruz,

    Belo texto. O filme é ótimo. Mas lembro que do ministério público e dos seus quadros esperamos mais do que belos textos. Esse poder qualquer cidadão tem e qualquer jornalista melhor intencionado também o exercita. Dos senhores nós esperamos ações concretas, amparadas na atribuição que lhes foi delegada e conquistada por concurso público. Espero que das palavras possamos ver ações, em sequência. Espero mesmo.

  3. Andréa diz:

    Caro Sr. Jorge Cruz, concordo em gênero, número e grau com o que expõe em seu belíssimo texto . No entanto, sou obrigada a concordar também com o Sr. Igor Rosado, que no primeiro comentário disserta acerca da necessidade de irmos além das constatações e das indignações com os fatos, com a podridão que assola, não tão somente o ainda “belo” rio Mossoró. O “nosso cheiro” está disseminado muito além das águas do rio. E está nas nossas mãos e na dos Srs. promotores do MP transformar a fedentina, em fragância, mas temos que agir rápido, já se perdeu muito tempo com o que já se sabe, HORA DE COMEÇAR a reverter a situação, A FAVOR DO POVO, UMA VEZ QUE SEJA. Parabéns pelo artigo.

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