domingo - 27/04/2025 - 03:22h

O salto para a história do inesquecível “Gato Félix” tricolor

Por Carlos Santos

Félix, em defesa pelo Fluminense, 1971, jogando contra o São Paulo, no Morumbi

Meu time de botão está com sério desfalque. Félix morreu. O “Gato Félix”, imortalizado na Seleção Canarinha de 70, morreu de enfisema pulmonar – hoje em São Paulo.

Félix no gol. Assim começava a escalação do Fluminense que eu dava vida no comando de uma palheta manuseada com rara destreza.

Vi-o jogar com olhar encantado e deslumbramento na grande tela; um pouco pela TV.

O “Canal 100”, espécie de jornal que era apresentado antes da exibição de filmes nos cinemas do Brasil, dava um resumo do futebol – principalmente do Rio de Janeiro. Foi ali que o goleiro franzino, de apenas 1,79 – ficava gigantesco diante de mim.

“Papel”, seu apelido, era sóbrio, sem qualquer tipo de salto espalhafatoso e cinematográfico para sair na capa do jornal. Quem viu Castilho jogar, afirma: Félix foi inferior a ele.

Quem se importa com essa observação? Eu vi Félix. Era meu goleiro no botão, inspiração para ser também um “arqueiro”, como se dizia à época.

Sou de uma geração que se encantou com Paulo Vítor nos anos 80 e agora se rende a Diego Cavalieri. Mas foi Félix, no campinho de “Estrelão” (onde o futebol de botão era jogado), que fez minha cabeça para sonhar em um dia ser goleiro.

Nos campos improvisados da Estrada de Ferro ou no gol marcado por duas pedras, em pleno leito da rua, fui um fracasso retumbante. Frangueiro, sem reflexo ou impulsão. Não mereceria uma crônica de Nelson Rodrigues. Não seria Félix; percebi logo.

Com escassa memória que me chega aos dias atuais, fui aquele menino magrinho que viu Félix na Copa de 70, espiando jogos numa TV que ficava sobre o janelão de uma casa à Rua Dr. Francisco Ramalho, Centro de Mossoró. Famílias inteiras afluíam para se converterem em nacionalistas, diante daquela maravilha da tecnologia, em preto e branco.

Eu estava lá, na plateia, parte dos 90 milhões de brasileiros em ação, gritando: “(…) Pra frente, Brasil…”

Era a primeira Copa do Mundo sendo transmitida ao vivo. No gol, Félix. Quem se fixava nele, quando Gérson, Jairzinho, Pelé, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto e Clodoaldo desfilavam imponentes, como deuses do futebol arte?

Que bela ironia o destino me pregou. Estou aqui a descobri-la quando lembro do goleiro tricolor: eu queria ser como “Papel”, no gol do Fluminense.

O papel que me sobrou foi do jornal impresso. Fui sendo sugado diariamente pelo rolo de uma máquina datilográfica, engenhoca que há alguns anos era a fonte de minha produção profissional, uma paixão, uma razão de viver.

No gol, sempre ele. Fica quem é do ramo: O Gato Félix. Para sempre.

Saudações tricolores!

Saiba um pouco mais sobre Félix clicando AQUI.

Carlos Santos é criador e editor do Blog Carlos Santos

*Crônica originalmente publicada no dia 24 de agosto de 2012, nesta página, há quase 13 anos.

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Categoria(s): Crônica

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