Por Bruno Ernesto

Santa Verônica, Altar-Mor Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas/MG (Foto: Bruno Ernesto, 10/2025)
Muito embora a história de Aleijadinho como artista seja encantadora e de superação, como como um bom cristão, também foi uma vida de provação.
Como registrei anteriormente (//blogcarlossantos.com.br/nem-tanto-nem-santo/) , um bom artista visual, seja ele pintor ou escultor, precisa, além domínio da técnica, de um inegável, apurado e profundo conhecimento histórico.
E quem põe os olhos das obras dele pode constatar que elas são inigualáveis, tanto do ponto de vista técnico, quanto da expressividade histórica.
Embora haja uma tendência a se concentrar todos méritos do barroco brasileiro para Aleijadinho – o que não seria exagero, convenhamos -, claro que ele não foi o único artista barroco consagrado no século XVIII, existindo outros tantos artistas com altíssimo nível, como, por exemplo, Mestre Ataíde, autor do Retábulo-mor do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas/MG.
Todavia, a condição de mestre alçada por Aleijadinho foi muito além do seu dom artístico, também tendo demonstrado que foi um personagem muito à frente do seu tempo no que se refere ao pensamento.
Quando suas limitações físicas foram avançando, seu ajudante, um escravo de nome Maurício, passou a elaborar e adaptar as ferramentas utilizadas por Aleijadinho, de modo que ele pudesse continuar a produzir sua arte.
E o que podemos ver até hoje de sua arte, foi produzida justamente após o agravamento de sua condição de saúde. Daí seu cognome. Contudo, pouco se registra que ele dividia tudo que ganhava com Maurício.
Se hoje seria impensável que um ajudante pudesse ser meeiro de um grande artista, o que se falar da meação de ganhos com um escravo em pleno século XVIII? Era um escândalo.
Se aquele corpo definhado fisicamente não foi suficiente para suplantar a sua arte e, sobretudo, força de vontade, sua atitude de reconhecimento e isonomia, lhe garante ainda mais o reconhecimento como um ser humano generoso e transformador.
Talvez – quem sabe – tenha posto em prática o que tão bem conhecia, mas a seu modo, já que não se deve conformar com este mundo, mas transformá-lo pela renovação da mente.
E nada mais confrontador com o padrão, que pôr em prática o que se prega. Afinal, não adianta esculpir santos e não praticar o que se defende.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor























Faça um Comentário