Por Inácio Augusto de Almeida
Anoitece em Mossoró e caminhando para casa, após um dia de trabalho no balcão de uma loja, minha atenção é despertada por um menino vivo, esperto.
Vi o menino na praça do PAX e logo imagino que não fita morrote, mas se entrega a devaneios olhando fotos do Himalaia.
Irrequieto, denota ser possuidor de uma inteligência incomum. Seu desassossego chamou a minha atenção.
Caminhando, carregando na cabeça a figura daquele garoto, apresso o passo pois ainda tenho o colégio onde alterno história com geografia.
Depois de muito falar de oceanos, continentes, Tiradentes e Celina, retorno para o merecido descanso.
Noite carrancuda, sem lua e sem estrelas, apenas nuvens que trazem o agradável cheiro de chuva.
Vejo populares em volta de um corpo coberto com folhas de jornal. Aproximo-me por força do impulso que sentimos para testemunhar tragédias.
Olho e fico estarrecido.
Era o garoto irrequieto.
Ouço comentários de que tentara furtar a bolsa de uma mulher e um passante sacou do revólver e fez vários disparos. Um senhor gordo olhou e rindo disse que bandido bom é bandido morto.
O filete de sangue não trazia a lua para o chão, porque lua não havia na noite escura que, para mim, se tornou mais escura.
Outro dia, mais uma vez o balcão da loja.
Lembro dos meus alunos e busco uma maneira de fazer mais do que falar de continentes e fantasiar histórias criando heróis de mentirinha.
O menino estirado na calçada era como se fosse todos os meus alunos.
No noticiário um imbecil a dizer que tinham dado baixa no CPF de um drogado…
Droga, sempre a maldita droga a desgraçar nossos jovens.
O que fazer para afastar os jovens desta peste?
O esporte se mostrou incapaz de sozinho distanciar a garotada do vício maldito. A especulação imobiliária varreu os campinhos de futebol. Nos colégios quadras esportivas ociosas porque administradores não investem um centavo para estimular o esporte.
Como afastar os jovens das drogas sem contar com apoio do poder público?
Teresa de Calcutá me surge com aquele sorriso e os olhinhos cheios de amor.
Leitura, leitura, desperte nos jovens o gosto pela leitura.
Assustei-me. Tinha certeza de ter visto a Santa e ter escutado a sua voz mansa e amorosa. E antes de perguntar como despertar nos jovens o gosto pela leitura ouvi que criação de concurso literário bastaria. Que os prêmios eu buscasse consegui-los pedindo ou até esmolando.
Ela viera para me mostrar o caminho.
Naquela noite, ao invés de aula, pedi aos alunos que escrevessem uma história qualquer.
Surpreendi-me com a criatividade dos estudantes.
Resolvi fazer um concurso literário entre meus alunos e prometi prêmios em livros que compraria para os melhores colocados.
Não sabia onde arranjar dinheiro para os livros. Sabia que tinha despertado naqueles jovens o gosto pela leitura. E isto me dava uma enorme tranquilidade. Senti ser verdade que nenhum bem faz mais bem ao coração do que o bem do amor.
A notícia se espalhou e de todos os lugares livros chegavam.
E foi a partir da ideia do sonhador, inspirado por Santa Madre Teresa de Calcutá, que nas escolas de Mossoró as crianças foram despertadas para a leitura.
No ano seguinte a Secretaria de Cultura assumiu a realização do concurso literário em todos os colégios de Mossoró. Logo a seguir as faculdades passaram a ter concurso literário.
E assim surgiu a semana da literatura em Mossoró. Mossoró que passou a ser reconhecida como a Capital da Cultura.
O sol forte batendo no meu rosto despertou-me.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e Jornalista
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