Por Cecília Meireles
Venho de caminhar por estas ruas.
Tristeza e mágoa. Mágoa e tristeza.
Tenho vergonha dos meus sonhos de beleza.
Caminham sombras duas a duas,
Felizes só de serem infelizes,
E sem dizerem, boca minha, o que tu dizes…
De não saberem, simples e nuas,
coisas da alma e do pensamento,
E que tudo foi pó e que tudo é do vento…
Felizes com misérias suas,
como eu não poderia ser com a glória,
porque tenho intuições, porque tenho memória…
Porque abraçada nos braços meus,
porque obediente à minha solidão,
vivo construindo apenas Deus…
Cecília Meireles ((1901-1964)
Beleza!
Sem ousar comentar, peço á própria Cecília que comente:
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.