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terça-feira - 30/07/2019 - 19:56h
Duas carteiras

OAB (Para Francisco Nunes e Ésio Costa)

Por François Silvestre

Aos dois dedico este texto.

Tenho duas carteiras de inscrição na OAB. Uma na OAB de São Paulo. Outra na OAB do Rio Grande do Norte. Explico.Quando o advogado era inscrito numa seção e precisava transferir a inscrição, tinha de devolver a carteira da inscrição originária.

Minha inscrição na OAB de São Paulo deu-se num período em que eu militava no Fórum Clóvis Beviláqua, penal, e no Fórum João Mendes, cível. Após período de clandestinidade na Capital paulistana. Misturava advocacia com jornalismo.

No dia da minha inscrição, o Secretário da OAB/SP era Márcio Thomaz Bastos, que assinou minha carteira. Assinaram a folha de endosso, por exigência legal, dois advogados. Lívio de Souza MeloGeraldo Pedroza de Araujo Dias. Sabe quem é o último? Geraldo Vandré, Que era inscrito na Ordem.

E foi um problema. Quando o secretário Thomaz Bastos leu o termo de abertura, num auditório da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e  disse “o presidente da República Federativa do Brasil”, Vandré interrompeu e perguntou: “Quem é o presidente da República Federativa do Brasil”?

Thomaz Bastos, constrangido, respondeu baixinho: Geisel.

Vandré disse, “não ouvi”. E Thomaz Bastos respondeu quase gritando: “Geisel”. Vandré levantou-se e disse “vou procurar a república dos estados unidos do Brasil”. E foi embora.

A plateia ficou olhando pra mim, e eu sem saber onde meter a cara. Encontramo-nos depois e foi discussão feia, no mesmo dia, num bar alemão da Martinho Prado.

O auditório estava lotado e eu fiquei com cara de tacho. Mas, quero contar o porquê de possuir ainda hoje essa carteira.

Não querendo devolver esse documento tão importante para mim, perguntei a Roberto Furtado, presidente da OAB/RN na época, o que fazer. Ele me orientou, dizendo que eu informasse no pedido de transferência de inscrição que a carteira havia sido extraviada. Fiz isso.

Menti e tenho as duas carteiras. Das quais me orgulho, sem participar de nada na vida administrativa da Ordem. Nunca disputei cargo nenhum. Nem de suplente.

Mas guardo orgulho da Ordem dos Advogados do Brasil. Como está posto na minha carteira de São Paulo: Advogado, preserve suas prerrogativas.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Amorim diz:

    “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”
    Parabéns!

  2. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Meu Caro François Silvestre, parabéns não só pela história respeitável história, mais ainda pela corajosa e criativa atitude que acabou por preservar documento tão importante à todos os Oabeanos do Brasil.

    Sabemos que contra tirania, devemos usar qualquer arma pra que possamos, dela, a tirania nos livrar…!!!

    Deveras mão mentistes em momento algum, tão somente, foi devida e criativamente orientado pelo saudoso Roberto Furtado, pra que o ato de omissão da verdade, restasse configurado em favor de relevante traço documental da nossa história e da nossa luta contra os tiranos e corruptos generais, bem como, os civis entreguistas, que como hoje, à mercê dos interesses americanos do norte, plantavam, disseminavam e financiavam de todo modo, através dos meios de comunicação IMPRENSA ESCRITA, FALDA E TELEVISADA -, os fantasmas do comunismo que nos levou ao triste período ditatorial de 1964.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  3. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Desculpem, esqueci de mencionar algo fundamental com relação ao histórico documento preservado pelo mestre François Silvestre.

    Dado o atual momento político vivenciado pela sociedade brasileira, varrida por uma onda de fanatismos e arbitrariedades da extrema direita, sob o comando de um despreparado eleito à cadeira presidencial. Nada mais oportuno que histórias de resistência, documentos , lembranças e exemplos como os que nos brinda François Silvestre, venha à tona, oportunizando aos que historicamente, infelizmente, alheios à real história do golpe de 1964, possam, efetivamente, poder refletir sobre o nosso conturbado e controverso momento atual.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. François Silvestre diz:

    Essa foto foi feita numa dependência do Dops, numa das minhas prisões. Honório de Medeiros disse certa vez que meu olhar agride, pela tensão, os que me tensionavam. Não sei, mas achei essa observação de Honório de uma generosidade sem medida.

  5. sueleide diz:

    Caro França,
    Somos tão próximos, nós da família, e ao mesmo temp, tão alheios pois não conhecemos bem a sua história.
    Vê se volta para seu teclado e desova umas tantas páginas de sua biografia, homem! Mesmo ficcionada! Vê se faz as pazes com sua meia-dúzia de leitores e dá continuidade a “A Pátria não é Ninguém”.
    Abraços saudosos da Serra do Queyras, nos Alpes, onde passo alguns dias de férias com os meus franceses. Sueleide

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