Manoel Cunha Neto (PP), ou “Souza“, como é conhecido no meio político, é prefeito de Areia Branca em segundo mandato consecutivo, funcionário público federal concursado. Começou sua carreira na atividade pública em 1992, eleito vereador. Depois foi vice-prefeito eleito nos anos de 2000 e 2004; prefeito eleito em 2004 e reeleito em 2008. Formado em engenharia agronômica pela Ufersa (antiga Esam), idealizou e foi um dos criadores do Pólo Costa Branca. Nesta entrevista ele fala sobre conflitos com o Governo do Estado, administração municipal e sucessão em 2012
Blog do Carlos Santos – Prefeito, em recente episódio, o Governo do Estado foi levado a liberar mais de R$ 708 mil reais relativos a convênio assinado ainda no governo Wilma de Faria (PSB), para conclusão da obra de reforma e ampliação da Maternidade Sara Kubistchek. É um caso inédito. Nenhum outro município teve igual êxito. O Estado foi obrigado a recuar na intenção de não repassar os recursos, depois que a prefeitura o acionou na Justiça e houve mobilização popular em prol do hospital. Como o senhor avalia a questão?
Manoel Cunha Neto (Souza) – É importante frisar que desde outubro do ano passado que o Município prestou contas da primeira parcela e requisitou a liberação da segunda parcela para conclusão da obra. Este convênio, não foi um convênio eleitoreiro, por três razões básicas: primeiro pela importância da obra, uma vez que o hospital há mais de quinze anos estava impedido pela Suvisa de funcionar em sua plenitude, somente para atendimentos de urgência e emergência. Segundo, porque esse convênio foi firmado em 2009, com a então governadora Wilma. Terceiro, porque não apoiar iniciativas como essa, na Saúde, que valoriza a municipalização, é andar para trás. O Governo Rosalba enviou auditores à cidade, fiscalizou obra, documentação etc. e atestou que tudo estava dento das exigências legais. Deu-nos um atestado de correção com o dinheiro público. Que bom que a governadora reconheceu o erro e foi sensível às necessidade da população local e de outros municípios. Ficou como principal lição que não devemos desistir nunca de nossas convicções.
BCS – Desse episódio, em que claramente houve um confronto institucional, Prefeitura x Estado, ficam sequelas na convivência política com a governadora Rosalba Ciarlini? Os adversários viram inimigos, aumentando o fosso entre vocês?
Souza – De modo algum. Quero frisar aqui de público, que da minha parte não houve, nem há briga, nem é meu propósito ficar arengando com a governadora ou qualquer outra autoridade ou cidadão. Meu trabalho é cuidar do interesse público e nesse episódio mais uma vez foi possível trabalhar em prol do bem comum. A preocupação que houve nesse entrave, não era política, mas sim em defesa do interesse público. Nós ingressamos com a ação, como forma de resguardar o Município, diante inclusive do Ministério Público, que poderia entender que estávamos inertes diante da situação. No meu entender, foi usado o bom senso pelo governo do estado em repassar os recursos. Afinal de contas, Areia Branca precisa desse hospital, que não é do prefeito, nem da governadora, e sim, da população areiabranquense e circunvizinha, uma vez que pretendemos formar um consórcio com os municípios de Grossos, Tibau, Porto do Mangue e Serra do Mel, para atendimento das populações.
BCS – É possível ser prefeito, no Rio Grande do Norte, em condições de se fazer uma boa administração, sendo adversário do inquilino (a) da Governadoria?
Souza – A relação entre estados e municípios deixou ao longo do tempo de ser uma relação de conveniência, pois as novas legislações permitiram isso. Por exemplo, o governo não poderá deixar de firmar convênio para o transporte escolar com os municípios só por ser o município adversário político e assim por diante. Ademais, acredito que a governadora Rosalba, é uma política municipalista, e já foi prefeita, sabe das dificuldades dos municípios, e chegando ao governo do estado, não acredito que ela vá deixar de lado essa história que todos já conhecemos. Eu posso adiantar que tenho uma boa relação com o governo. O que o Governo do estado pode esperar é que sempre vamos apresentar pleitos favoráveis ao povo de Areia Branca.
BCS – Os prefeitos continuam com pires à mão, em seguidas marchas ao Distrito Federal. E nada de reforma na distribuição de tributos. Por que essa reforma é tão difícil, prefeito?
Souza – Por que os interesses são muito grandes. Na verdade, para haver uma reforma tributária de verdade nesse país, é preciso que o Governo Federal e os Estados, abram mão de determinados recursos que ficam concentrados no poder central e a nível de estado para os municípios. Afinal, é no município que o povo vive, e os problemas são vivenciados pelos prefeitos. O que ocorre, é que para gerar a dependência do poder central e estadual, esses recursos ficam concentrados para obrigarem os municipos, a irem “pedir”. Ora, se aprovamos bons projetos para alocarmos recursos, por que não disponibilizar esses recursos diretamente para melhorarmos a qualidade de vida do nosso povo.
BCS – Nas eleições de 2010, seu grupo – praticamente unido – teve derrota considerável na chapa ao governo estadual, ao apoiar a reeleição de Iberê Ferreira (PSB). Rosalba Ciarlini (DEM), mesmo com apoios escassos, levou a melhor. Esse resultado vai se refletir à sua sucessão no próximo ano?
Souza – Não acredito. A vitória de Rosalba, é um crédito pessoal dela. Era muito fácil para o areiabranquense votar em Rosalba, pois Mossoró exerce uma forte influência, e as suas duas administrações geraram crédito para essa postura do areiabranquense. A nossa decisão de votar em Iberê Ferreira (PSB), embora desconhecido da população, foi uma decisão alicerçada nas parcerias admnistrativas que vínhamos construindo com Wilma e depois com Iberê. Não tínhamos e nem temos nada contra Rosalba, já fomos correligionários quando ela concorreu ao Senado. Quando tomamos a decisão de votar em Iberê, comunicamos pessoalmente a ela e a Carlos Augusto (DEM), seu marido, sem nenhum interlocutor. Expomos as razões, e acredito que fomos entendidos. Quanto à eleição municipal é outro momento, e o nosso grupo com certeza sairá vitorioso.
BCS – Desde 2000 o senhor e o seu atual vice, médico Bruno Filho (PMDB), revezam-se no poder como prefeito, vice, vice-versa, com alguns sobressaltos de cassação de mandato. A oposição, por sua vez, parece envelhecida, descapitalizada em termos de votos e sem novidades. Essa dobradinha é um “clube fechado”, sem vez para outros quadros dos partidos que fazem o governismo?
Souza – Não entendo assim. A dobradinha Souza e Bruno, Bruno e Souza, tem trazido bons resultados para Areia Branca. O que facilmente pode-se perceber analisando como era a cidade antes das nossas gestões. Quem decidiu por essa dobradinha foi o povo, e observamos que o povo continua a aprovar o modelo admnistrativo que implantamos. Entendo que no momento certo, com o surgimento de novas lideranças dentro do nosso grupo, esse trabalho terá continuidade por novos integrantes.
BCS – Em Areia Branca, a oposição comenta muito o nome de Iraneide Rebouças como principal adversária do governismo, na disputa à prefeitura. E seu sistema, tem em Bruno Filho o nome certo e irremovível ou podemos ter surpresas?
Souza – O nome natural do nosso grupo a sucessão é o de Bruno Filho, pela sua experiência administrativa e história política dentro do grupo. As surpresas, se existirem, independem da nossa vontade ou desejo. Mas em não existindo nenhuma surpresa como você diz, o nome natural que iremos apoiar será o de Bruno Filho.
Faça um Comentário