Por Inácio Augusto de Almeida
Era uma vez um homem que sentiu vontade de saber onde estava o amor.
Ele sempre ouvia falar do amor. Diziam-lhe que o amor era lindo, muito mais lindo do que o mais bonito pôr do sol, mais radiante do que uma manhã de primavera.
Da bondade do amor também lhe falaram. Só que ninguém nunca lhe disse onde estava o amor.
Perguntou a uma estrela onde estava o amor e a estrela lhe respondeu que o amor não estava com ela, mas que ele perguntasse à lua. Quem sabe se a lua, muito maior do que ela, pequenina estrela, não saberia responder onde estava o amor?
O homem agradeceu e seguiu o conselho da estrela. Enfim, não é a lua a rainha dos namorados? Então a lua deve saber onde está o amor. Talvez o amor esteja com ela.
– Lua, disse o homem, você que é o ornamento do céu, diga-me onde está o amor.
A lua olhou demoradamente para o homem e numa voz meiga, respondeu:
– Não sei meu bom homem, não sei. Por que você não pergunta ao mar? O mar é muito maior do que eu. Ele deve saber onde está o amor.
O homem não descansou sequer da viagem que fizera da estrela até a lua. Começou logo a caminhar em direção ao mar. E chegando ao mar, perguntou:
– Mar, onde está o amor? A lua me disse que você sabe onde está o amor.
O mar quase se zanga e numa voz rouca respondeu ao homem:
Se a lua não sabe, ela que é a deusa dos namorados, como posso eu saber, eu que vivo aqui preso a receber toda a sujeira do mundo? Eu também quero saber onde está o amor. Descubra logo, homem, descubra antes que os seus semelhantes acabem comigo com tanta sujeira que jogam em mim.
O homem desistiu de caminhar. Não, não iria sair mais perguntando a ninguém. Sentou-se numa pedra e, desesperado, começou a chorar.
Quando chorava muito, já desiludido de encontrar o amor, eis que uma abelha, bem pequenina, pousa no seu ombro.
Por que você está chorando, meu bom homem?
– É porque procurei o amor em todos os lugares e ninguém soube me dizer onde encontrá-lo. Eu preciso encontrar o amor. Eu preciso!!!
– E onde você foi procurar o amor?
– Procurei nas estrelas, na lua, no mar.
– Você procurou nos lugares errados. Você perguntou onde estava o amor a quem não sabia onde ele estava.
Surpreso e menos triste, o homem perguntou a abelha:
– E a quem eu devia perguntar? A você que é tão pequenina? Se a estrela, a lua e o mar não me souberam dizer onde está o amor, como pode você, tão pequenina, saber?
– Não, eu também não sei, mas você, você meu bom homem, você sabe onde está o amor. Por que você não pergunta a você mesmo onde está o amor?
O homem parou de chorar. Sentiu o seu coração dizer que o amor estava dentro dele mesmo. Finalmente tinha descoberto o amor. E ficou a imaginar o quanto tinha procurado em vão, o quanto tinha sido tolo ao procurar fora uma coisa que estava dentro do seu coração. E começou a rir satisfeito, feliz. Tinha descoberto onde estava o amor.
Sorridente e agradecido deu a mais linda flor que encontrou à pequenina abelha e saiu saltitante, amando a tudo e a todos.
– Muito obrigado, abelhazinha, muito obrigado.
E a abelhinha se afastando no seu lento voo olhou para trás para gritar:
– Avise aos outros homens, avise aos outros homens, avise a todos…
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
Sr. Inácio, que bela crônica! É presente de Natal!
É sua generosidade gigantesca que consegue ver num conto infantil tanto valor.
A senhora me convence cada vez mais que não enxergamos com os olhos.
É o nosso coração que vê as coisas como elas são e não como parecem ser.