Por Gutemberg Dias
A Bacia Potiguar como produtora de petróleo ainda tem uma grande importância no cenário nacional. Até poucos anos essa bacia se destacava como a maior produtora de petróleo em terra no âmbito nacional, superando a produção da Bacia do Recôncavo e Bacia Sergipe-Alagoas.
A Petrobras desde a década de 1970 vem sistematicamente desenvolvendo pesquisas e, sobretudo, explorando petróleo em terras potiguares. Sempre com maior foco na produção terrestre. Vale salientar que campos petrolíferos em águas continentais também fazem parte do portfólio da estatal na Bacia Potiguar, passando a ter uma maior relevância a partir da descoberta do campo de Pitú.
Com a descoberta do pré-sal criou-se um viés no processo de exploração e produção do petróleo, principalmente, no tocante aos rumos traçados pelo maior operador no Brasil, no caso a Petrobras.
Um fato importante é a média de produção de um poço no pré-sal que chega 30 mil/dia contra uma produção de um poço terrestre de 20 barris/dia. Naturalmente, pelo grau de desafio e aporte financeiro, bem como, pela expressiva produção, a Petrobras passou a reordenar os seus investimentos em relação ao campos terrestres.
Nesse compasso a Petrobras divulgou recentemente que almeja se desfazer de alguns ativos, estando incluídos muitos campos em terra, chegando a uma soma de mais de US$ 4,11 bilhões apenas em ativos de E&P. Salienta que esse esforço tem o objetivo da empresa se capitalizar e, sobretudo, focar suas operações nos ativos onde há elevada produtividade, como acontece nos campos do pré-sal.
No Rio Grande do Norte várias empresas independentes já estão sediadas e com operação ativa, dentre elas podemos citar a Petrogal, Petrosynergy, Partex, Sonangol, UTC Petróleo e Gás entre outras.
Além dessas, outras empresas passaram a ter interesse na Bacia Potiguar como a Imetame, Phoenix e Geopark que adquiriram blocos isoladamente no último leilão da ANP ocorrido em 2015.
Com base em dados da ANP, tendo como referencia o ano de 2015, observa-se que a produção “onshore” foi de 16.164.494 barris/ano. Fazendo uma relação do montante da produção no estado executado pelas operadoras independentes, observa-se que apenas 3,52% foi produzido por esse segmento, perfazendo um total de 568.985 barris/ano.
Atualmente a Bacia Potiguar tem treze operadoras independentes com um total de 25 campos de produção (ANP). Vale destacar que três campos desses são “ofshore” e oito “onshore” em parceria com a Petrobras.
Dentre essas operadoras destacam-se quatro que sobressaem em relação ao total produzidos por elas em 2015. Podemos citar a Sonangol (45,06%), Partex (26,48%), UTC (12,30%) e a Petrogral (11,06%), já as demais empresas não ultrapassam o percentual individual de 3%, ou seja, apresentando uma baixíssima produção.
Um dado importante que corrobora para uma baixa produção é que muitos desses campos adquiridos em leilões estão situados em bacias maduras que foram muito bem mapeadas pelos estudos desenvolvidos pela Petrobras, fato que termina por limitar a possibilidade de novas descobertas com grande potencial comercial.
O movimento das empresas e da Frente de Petróleo e Gás no Congresso, diante do cenário expõe uma articulação para que a Petrobras coloque no mercado parte dos ativos terrestres, no intuito de criar subsídios para o desenvolvimento da produção dos operadores independentes, notadamente, com o discurso da redução dos custos de produção e, consequentemente, aumento do potencial produtivo dos campos maduros.
A ABPIP – Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás defende que as empresas “precisam ter um nível de risco mais compatível com as atividades de Produção do que de Exploração”, isso com base, principalmente, no porte das mesmas, já que tendem a ser de pequeno a médio. Dessa forma, o mercado, segundo a associação, se abriria para um cabedal de empresas com capital para investir na cadeia de petróleo e gás.
Ainda, a ABPIP destaca que em países (Canadá, EUA e Colômbia) com tradição de produção terrestre, onde as empresas de maior porte (majors) como a Petrobras, tem altos custos para desenvolver poços de baixa produção, milhares de operadores de pequeno porte vem tendo bons resultados em termos de evolução da produção com, consequente, geração de riquezas.
De um modo geral acredito que existe espaço para a ampliação da relevância da participação dos pequenos operadores na cadeia de petróleo e gás no estado do Rio Grande do Norte.
Porém, é preciso ter uma ideia que isso deverá trazer resultados positivos como a geração de mais empregos, aquecimento da cadeia de fornecedores, principalmente, as micro e pequenas empresas, bem como, o incremento de divisas a partir do recolhimento de impostos e geração de royalties.
É verdade, também, para que isso ocorra é necessário que haja uma reengenharia que envolva vários aspectos como a revisão da legislação ambiental, critérios legais que garantam os investimentos mínimos por parte dos operadores independentes, estabelecimento de cenários com base no aumento real de produção mantendo as condições do ambiente de trabalho de hoje e, sobretudo, que haja uma disponibilização de uma rede de energia elétrica estável e confiável que possa atender a expansão da malha de produção.
Sendo assim, considero um grande desafio e uma grande oportunidade para a revisão da cadeia de petróleo e gás no estado, sendo necessário para tanto, o envolvimento dos setores produtivos, o poder público e a sociedade civil organizada para se estabelecer um novo marco de produção para as bacias maduras e, especificamente, a Bacia Potiguar que tem na produção de petróleo e gás uma grande fonte de riqueza para o estado do Rio Grande do Norte e os municípios produtores.
Gutemberg Dias é presidente da Associação Redepetro RN























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