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domingo - 13/10/2024 - 03:38h

Os gritos

Por Bruno Ernesto

Tela O Grito, de Edvard Munch. Galeria Nacional Noruega, Oslo (Foto: do autor da crônica)

Tela O Grito, de Edvard Munch. Galeria Nacional Noruega, Oslo (Foto: do autor da crônica)

Para gostar de arte, necessariamente, não precisamos entender de arte. Gostamos e admiramos naturalmente e, dependendo do nosso estado emocional, espiritual e do local onde nos deparamos com ela, não há limite para contemplá-la. Arte é tudo que envolve a criação humana voltada para ser admirado, quer seja através dos sons, imagens ou sensorial.

Sempre gostei e admirei todo tipo de arte; quer seja no e do Brasil ou fora dele. Aliás, arte não tem fronteira. Pode haver barreira.

Numa dessas viagens, fui visitar meu amigo Rasmus Ofstad, em Oslo, já imaginando poder visitar os museus da capital e, quem sabe, poder ficar em frente à famosa O Grito, de Edvard Munch.

Naquela época, não tínhamos certeza em qual museu ou galeria ela estava, de modo que visitamos várias durante o dia inteiro até que, soubemos que ela estava exposta na Galeria Nacional da Noruega, localizada no centro da capital, Oslo.

Como já se aproximava o final do dia, corremos para lá, na esperança de poder ingressar na galeria antes de encerrado o expediente; e, por ser o meu último dia na cidade, não podia desperdiçar aquela oportunidade.

No que tange ao estacionamento, uma coisa você tenha certeza: os centros das grandes cidades são iguais em qualquer parte do mundo. A única diferença é o valor que cobram pelo estacionamento – se existir -, ou o valor da multa que lhe será aplicada, se você não estacionar no local adequado. No nosso caso, só restou correr o risco de sermos multados. Eu não, meu amigo.

Sabendo que queria muito ver a tela de Munch, ele apenas me disse para correr. Deixamos o carro estacionado praticamente no meio da rua e corremos para lá que, por sorte, ainda estava aberta e conseguimos entrar.

A tela estava no terceiro andar da galeria, de modo que fui passando apressadamente por várias obras de arte e, ainda que rapidamente, pude observar belíssimas telas, sem, contudo, poder parar para contemplá-las e fazer alguns registros – simplesmente não havia tempo -, até que pude avistá-la pendurada numa parede azul escuro, com um grande rodapé de madeira branco.

Exceto o segurança postado em frente à tela, que estava protegida por um espesso vidro, o andar estava vazio. Melancolicamente vazio.

Gentilmente ele permitiu que eu fizesse o registro – sem flash – ao lado da famosa tela e, após, fiquei por alguns minutos apenas observando. Cada traço. Cada pincelada. As cores.

Segundo os entendedores de obras artes, a tela expressionista simboliza algo muito comum a todos nós; pelo menos em algum momento de nossas vidas: a solidão, a melancolia, a ansiedade e o medo. E, nitidamente, devemos somar o desespero.

Depois disso, retornamos em silêncio para o carro que, por sorte, nem foi multado nem rebocado, e fomos tomar um saboroso e tradicional suco de maçã.

Talvez todos nós tenhamos um tanto de Edvard Munch latente. Quem sabe?

Desde então, fico a imaginar quantos Os Gritos poderiam ter surgido. Inclusive os meus.

Bruno Ernesto é Advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    Há diversos tipos de gritos. Os que calam na alma são envoltos e emoldurados em nossas dolentes crises existenciais. Massacram e sufocam. Estrangulam nossas almas em merencório diapasão. Misturam-se nas madrugadas dos vira-latas e das burrinhas-de-Padres, em ruas
    e ruelas. Emitem som gutural e angustiante. Há gritos que calam fundo na alma. Há gritos surdos e mudos, dos desvalidos e dos desvairados, que deixam pedaços das almas dispersos pelos cruciantes caminhos, como a demarcar as insondáveis trajetórias que nos conduzem impiedosamente aos mistérios do além – daqui, dali e de alhures. Eita mundo velho de meu DEUS !. Fazer o quê ?. Vida que segue.

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